sábado, 24 de setembro de 2011

O Super-Herói - Como Ídolos São Construídos

No dia 08/10, todo mundo que gosta de triathlon vai ficar boas horas na frente do computador acompanhando a mãe de todos as provas de triathlon: O Ironman Havaí.

Pra mim é um sonho quase impossível, mas estaria mentindo se dissesse que nunca me imaginei cruzando aquela linha de chegada.

No ano passado assisti a prova fazendo uma verdadeira conferência via Facebook com dois bons amigos que fiz na minha jornada de conquista do Ironman Brasil 2011: os Marcos (Pereira e Vilas-Boas). Passamos horas nos divertindo muito, postando besteiras e torcendo.

Mas....torcendo pra quem?

Os dois anos anteriores (2008 e 2009) foram vencidos por um cara que, na minha opinião, tem o mesmo carisma que...o Geraldo Alckmin...ou seja, é praticamente um pepino que faz triathlon (Craig Alexander).

Os anos anteriores foram vencidos por pessoas como Faris Al-Sutan, Norman Stadler, Chris McCormack, entre tantos outros que não me soavam muito familiares. Gostava das provas com nomes como Peter Reid, Mike Pigg, Mark Allen, Jurgen Zack, Luc Van Lierde, Ken Glah, entre tantos outros.

Não sabia muito bem pra quem torcer, até ver um cara numa bike vermelha maravilhosa! Esse cara magrelo e cabeçudo saiu pra correr em terceiro ou quarto e aos poucos foi destruindo a vantagem que o PODEROSO ciclista Chris Lieto construiu. Na cola dele, um alemão mais magrelo ainda, com faixa na cabeça e top todo aberto, com ar de desleixado, correndo como velocista. Eram eles Chris McCormack, o Macca e Andreas Raelert.



Raelert alcançou Macca no terço final da prova. Por muitos kilometros ficaram lado a lado até que o Macca ofereceu uma esponja. Raelert aceitou, cumprimentou Macca com um aperto de mão e puxou papo. Depois, pelo vídeo oficial da prova, ouve-se o Macca falar: "Parece a Iron War" (batalha ÉPICA entre Allen e Scott em 1999).

Nasceu aí, o meu ídolo no triathlon na atualidade, no mesmo patamar que Mark Allen nos anos 90.

Faltando cerca de 2 km para o fim da prova, entrando na cidade de Kailua-Kona, os dois ainda estavam lado a lado.

Estava de pé na frente do computador, completamente "lotado" de adrenalina.

Nessa hora, a transmissão via internet deixou todo mundo na mão. Mostrando imagens da prova dos amadores, não pude ver a hora em que o bote foi dado. Quando a imagem volta a mostrar os líderes, Macca está muito a frente, entrando no funil de chegada, sozinho. Comemorei muito, como um gol. Foi sensacional, emocionante. Uma prova de mais de 8 horas, sendo decidida nos último metros.

Quase 1 ano depois, há poucos dias, comecei a ler o livro do livro do Macca, I'm Here to Win, no qual ele conta os bastidores dessa vitória e de tantas outras.

O Macca fez a primeira prova no Havaí em 2002, depois de uma vitoriosa carreira em distâncias menores e no circuito mundial. Em uma entrevista soltou a frase que deu o título ao seu livro. Demorou 5 anos para que ele cumprisse o que prometeu. Depois, ficou mais alguns anos tentando mostrar a todos que não foi uma vitória ao acaso. Em 2008 parou por problemas na bike e em 2009 ficou em 4º.

Chegou no Havaí desacreditado e considerado ultrapassado, velho aos 38 anos de idade, depois do bicampeonato do "pepino" conterrâneo Craig Alexander, considerado o atleta que personificava o futuro do esporte.

O que o Macca escreve sobre sua preparação para Kona 2010, fez aumentar minha admiração por ele.

Ele diz no livro que estudou a prova de 2009 toda. Estudou a atitude de todos os atletas. Percebeu que os vencedores saiam no "bolo" da água.  Na bike forçavam o ritmo no início e se poupavam num trecho onde o vento lateral é mortal, perto do retorno dos 90 km. Depois, soltavam as pernas na maratona. Ele concluiu que os bons maratonistas ganharam as provas nos últimos anos. Ele não era o melhor maratonista. 

Aí entra a genialidade.

Ele traçou uma estratégia que iria matar os "corredores". Teria que sair bem da água (no bolo), "marcar" os principais ciclistas durante boa parte do pedal e forçar o ritmo justamente quando todos entravam em "steady state". Ele sabia que sozinho não conseguiria, então, fez um lobby com os atletas bons de pedal, tentando convencer esses caras que eles estariam desperdiçando o talento, poupando as pernas na etapa onde tinham lenha pra queimar e entrando no jogo dos maratonistas. Arranjou alguns inimigos nessa jornada, como o próprio Alexander, que se viu traído.

O resultado tá aí! 



Uma vitória espetacular. Uma vitória genial. Uma vitória de uma verdadeiro triatleta que construiu a vitória durante toda a prova e não em uma só modalidade, como tentam Lieto (na bike) e Alexander (na corrida), por exemplo.

Abaixo, o momento chave da prova em Kona no ano passado.


Neste ano, o Macca não vai estar em Kona.  

Macca decidiu tentar uma vaga na equipe australiana para Londres 2012.

Desculpem os brasileiros, mas eu vou torcer pelo país do Marcelão, o meu irmão do meio, que em 2001 mudou-se para a Austrália e hoje é cidadão daquele país. 

Não. Acho que é exagero. 

Não vou torcer pela Austrália. Vou torcer pelo MACCA!


segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Um é pouco, Dois é bom, Três é...SONHO DE CONSUMO!



Parece que um texto em uma coluna da revista VO2, escrito pelo Nuno Cobra, revoltou alguns amigos, em especial os irmãos Vilas-Bôas.

O Alcy chamou à atenção e o Marcos transcreveu no Facebook.

Vou transcrever aqui.

"Três é demais - por Nuno Cobra

A busca constante por desafios como o triathlon pode ser prejudicial ao corpo
As pessoas estão de tal maneira estimuladas e envolvidas com a necessidade de superação constante, que acaba ocorrendo o aparecimento de todo o tipo de exagero. Como se não batasse a pugna diária que nos cobre de compromissos e estímulos de toda ordem, não deixando tempo para vivermos mais a vida, ainda vem a própria vida esportiva recebendo todo tipo de comprometimento com o fazer cada vez mais e mais rápido, batendo-se em competições antes sequer imaginadas. Esportes como a natação, ciclismo e corrida são excelentes para uma vida sadia e a formação do caráter de todo cidadão. Mas é difícil entender porque praticar estas três modalidades ao mesmo tempo. Se são tão grandes, cada uma na sua forma tão específica de ser, por que não fazê-las de forma separada e mais intensa? Não é natural fazer isso com o corpo e de certa forma a tentativa de colocar tudo isso num caldeirão irá invariavelmente trazer consequências negativas para o seu corpo como um todo em algum momento da vida.
Sou contra fazer esses esportes maravilhosos todos a um só tempo, até porque pode-se excecutá-los todos, mas cada um de cada vez, colocando dentro de um calendário que beneficie, até pela sua diversidade, a pessoa que deseja uma variação sadia e próspera em seu trabalho com o corpo.
É difícil a juventude conter a idéia de se desafiar e buscar o novo e extraordinário. Se ela é sedenta de exageros, que faça isso apenas algumas vezes para saber como é a terrível consfusão para o organismo nadar, pedalar e correr ao mesmo tempo.
Como competição em algum momento da vida tudo bem, faz parte e deve ser apoiado, mas como prática perene de anos dessa aventura física extravagante, não é positivo e salutar.
Se essa moçada gosta demais de se sentir viva e capaz das mais extravagantes competições, vá lá, faça seu triathlon, mas não esqueça de que se isso não for apenas para ver como é sentir a necessidade de se desafiar, e fizer isso sempre, quando passar a idade adulta, bem lá na frente, a conta virá. Se a pessoa é profissional, muda tudo completamente e isso passa a ser ótimo porque simplesmente é sua profissão e tem de haver resultados em termos de tempo. Mas tem de ganhar muito para prover o seu futuro, porque sua vida profissional será muito curta.
O corpo aguenta qualquer coisa, ele luta e se supera, mas tem também um livro-caixa que contabiliza tudo.
Mesmo que você queira brincar de triathlon, deve tomar todo cuidado, porque ele em si é exagerado. Todo o esporte é saudável, desde que você se envolva com ele pela diversão e alegria  de seu engajamento, e não pela vitória a qualquer preço.

Nuno Cobra

O texto causou polêmica. Muitos comentários. Várias reações.

Não conheço o Nuno Cobra. Conheço gente que o conhece bem. À favor dele, pesa o nome Ayrton Senna. Contra, pesa o fato de ter escrito alguns livros que soam como auto-ajuda. Tenho e sempre terei preconceito quanto a isso.

Na minha humilde opinião (e estou aberto à críticas e reações contrárias), ele incomodou por um único motivo:

Ele falou a verdade.

A verdade que incomoda. A verdade que quem está do lado de dentro não quer ver, porque enxerga com os olhos da paixão. 

O triathlon é antes de mais nada, para a grande maioria de quem o pratica, uma paixão.

Mas a razão faz com que eu tenha que aceitar. Ele está certo.

O triathlon exige de quem o pratica, em qualquer nível, uma dedicação enorme. Treinamos 3 esportes. Muitas vezes são duas ou até três sessões diárias. 

No meio de tudo isso, temos que equilibrar família, trabalho, problemas, lazer (com a família e não exatamente o nosso lazer muitas vezes egoísta que faz com que a família toda se programe em função dos nossos treinos), descanso, etc, etc, etc.

Este é apenas um aspecto.

O outro aspecto é o esporte não como agente de saúde, mas como agente de lesões.

Todo mundo que consegue fazer conta de 1+1, sabe que atletas são caras com aptidões físicas variadas, mas sempre com alguma coisa em comum: a DOR!

Tenho muito contato no meu trabalho com uma espécie de atleta (na minha opinião, não são atletas de verdade), o jogador de futebol. Mas já tive a oportunidade de examinar nadadores, judocas, jogadores de volei, entre outros.

A dor é uma constante. Mais do que isso. A dor é o que eles externam. O que está "por dentro" é muito pior. 

O jogador de futebol aos 38 anos de idade, como o Rogério Ceni, por exemplo (e esse é um dos que se cuida) é considerado velho. Por quê? Porque o corpo não aguenta. As articulações estão desgastadas acima da média para pessoas da mesma idade, pelo impacto repetitivo, pela sobrecarga. Os músculos não têm mais a mesma elasticidade e não respondem da mesma forma aos fortes estímulos, predispondo a lesões musculares.

Caras como o Rogério Ceni, têm estrutura de primeiro mundo, com fisioterapeutas, fisiologistas, preparadores físicos, nutricionistas. Assim como todos os outros que vivem efetivamente do esporte.

E nós? Nós que não somos atletas profissionais e não temos sequer uma fração da estrutura que esses caras têm?

Muitos treinam por conta própria. Muitos treinam com gente despreparada. Muitos treinam com verdadeiros charlatões. Muitos treinam com planilhas enviadas por caras que estão a quilômetros de distância.

Mesmo nós que treinamos com gente que estuda, com gente de renome como Marcos Paulo Reis, Emerson Gomes, Diego Lopez, Marcello Butenas (pra ficar só no triathlon, ok?), qual a retaguarda que dispomos? Quem garante que o que nos é fornecido serve para nossas aptidões, nossas limitações?

Eu estou machucado.

Levou um tempo pra admitir pra mim mesmo que a lesão foi causada em grande parte por uma das coisas que mais me deu prazer nestes últimos dois anos. O Ironman.

Parte da minha recuperação, começou com uma constatação: minha musculatura, embora aparentemente forte e resistente, era extremamente deficiente. Existia um enorme desequilíbrio muscular, fruto de certa negligência em abolir a musculação dos meus treinos.

Mas e se tivesse feito musculação? Quem garante que isso aliviaria alguma coisa?

Não existe qualquer intercâmbio entre o meu treinador de triathlon e o professor da academia que me daria o treino de musculação.

Sem querer entrar em nenhum mérito, pago uma academia extremamente cara, mas quando coloco os pés na sala de musculação, ninguém quer saber quantos treinos eu fiz. Fazem de tudo (ou melhor, pouco fazem) para que eu contrate um personal trainer dentro da própria academia, para aí sim, ter alguma dedicação.

Portanto, eu dou sim razão ao Nuno Cobra.

Infelizmente, nós fazemos por paixão, por amor. Mas é só mais um negócio lucrativo para organizadores de provas, importadores de bicicletas, assessorias esportivas...e por aí vai. E nós, como bons apaixonados, acreditamos em tudo.

Amigos, nada pessoal hein! Continuamos dividindo pelotão, alegrias, tristezas, jantares e etc.


domingo, 4 de setembro de 2011

A(s) Primeira(s) Vez(es)...




Dizem que a primeira vez é inesquecível.

Mas são tantas primeiras vezes, em tantas situações.

Primeira lembrança de estar vivo: festa de aniversário de 5 anos, na escolinha que frequentava.
Primeira vez que fui ao cinema: Superman, o Filme, no Belas Artes.
Primeira nota vermelha: Física no 1º Colegial (depois não foram muitas mais, talvez duas)
Primeiro carro no meu nome: Parati GL 1.8 1991
Primeiro dia de aula na faculdade: trote, mas feliz da vida.
Primeiro plantão da vida: Enfermaria de pediatria, na Santa Casa, num domingo.
Primeira vez que vi alguém morrer na minha frente: na mesma enfermaria de pediatria. Decidi que nunca poderia fazer essa especialidade. Sofria em ver crianças internadas.
Primeiro jogo do Brasil de copa do mundo: Brasil 2 x 1 URSS (Espanha 1982)
Primeira namorada: eu lembro.
Primeiro beijo na boca: com a primeira namorada
Primeira "vez"....: acho melhor não lembrar
Primeiro "fora": parecia que o mundo iria acabar.
Primeira vez que vi a pessoa com quem queria passar o resto da minha vida: cena de filme. Saindo do trabalho, ela chegando pro estágio. Encontrão na porta.

Primeiro filho: emoção inexplicável (acho que pra isso, não existe exclusividade da primeira vez. Em breve vou descobrir).
Primeiro show GRANDE: David Bowie no estádio do Palmeiras.
Primeiro esporte: natação na ACM da rua Nestor Pestana (Centro) - um cheiro de cloro insuportável.
Primeira competição: Projeto Kibon de natação, no Ibirapuera.
Primeira onda que peguei de bodyboard: felicidade.
Primeiro biathlon: Projeto Aqua em 1993 - 500m/3 km (algo em torno de 22 minutos)


Primeiro triathlon: março de 1995 em Santos  - Short (1:16' e uns quebrados)
Primeiro triathlon Olímpico: fevereiro de 1996 - algo em torno de 2:30'
Primeira prova fora de SP - Caiobá 1996.
Primeiro Meio IM: Penha 2010 - 5:08'
Primeiro IM: Floripa 2011 - 10:28'01"

Chega pra não ficar muito chato. A ordem foi aleatória, conforme ia lembrando. Quem quiser acrescentar,  à vontade.

Só tem uma "primeira vez" que gostaria de esquecer, de preferência bem rapidinho: a primeira lesão séria.

Vai passar.