segunda-feira, 30 de julho de 2012

O Pódio ou a Barbie?




A cada quatro anos a cena se repete: atletas vencedores realizados subindo ao pódio e colhendo os frutos de anos de dedicação e abdicação.

Muitas dessas cenas são emocionantes, pelo menos pra mim, pois de alguma forma mostram que valeu à pena.

Hoje mais uma dessas cenas aconteceu e vai rodar o mundo.

Uma menina loirinha com cara de adolescente, dentes grandes e ainda separados soluçava antes de receber a medalha de ouro conquistada ao vencer a final dos 100m peito.

Acho legal esse tipo de reação emocionada, normalmente vista em "medalhistas de primeira viagem". Depois os egos inflam, o topo deixa de ser aquele lugar tão esperado pra virar o lugar menor diante da grandeza do "super atleta".

Só uma coisa era diferente de tudo o que já tinha visto.

A lituana Ruta Meilutyte tem só 15 aninhos recém completados!

Em Pequim há 4 anos, ela tinha 11 anos. Idade na qual uma porcentagem esmagadora das crianças estão "preocupadas" em brincar, em comer chocolate ou qualquer outra coisa (que com 40 anos não vão poder sem arcar com as consequências), ou então arrumar desculpas pra justificarem alguma travessura.

Partindo do pressuposto que não se faz um campeão olímpico em apenas 4 anos, o que mais então, foi tirado dessa menina?

Na arquibancada, a mãe da pequena grande Ruta chorava como a filha, segurando uma bandeira da Lituânia.

Não quero que ninguém me entenda errado. A imagem da campeã olímpica soluçando como uma criança que ela é, foi linda e vai ser uma das imagens marcantes desses Jogos Olímpicos, mas....de quem era esse sonho? 

Como se enfia na cabeça de uma criança de menos de 10 anos que ganhar uma medalha de ouro nas Olimpíadas é mais legal que uma boneca da Barbie? Ou então de se entupir de chocolate ou pipoca?

Quem tem filhos, que se ponha a pensar.


7 comentários:

  1. Ai, Daniel... Concordo, super. Eu fiquei tb reparando na carinha das atletas da ginástica... Aquelas menininhas (que não vão ganhar medalha). Que vida elas levam? Chegam na Olimpíada carregando o peso do mundo nos ombros. Elas sofrem sofrem e sofrem. Ficam frustradas, mais do que qualquer um, com seu desempenho. Prefiro ter moleques travessos em casa.

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  2. Daniel, essa questão é muito complicada de se analisar.
    Pode ser que ela não tenha sido "forçada" a ser uma esportista. Pode ser que tenha sido apenas uma menina que fizesse aulas de natação como tantas outras e se tenha percebido um enorme potencial e a partir dai se tenha realizado um planejamento para transformá-la numa esportista. Até porque nunca ouvimos falar das glórias olímpicas da escola lituana de natação.
    Talvez tenha sido campeã com 15 anos por falta de adversários a altura. Se não me engano o tempo dela foi 1 segundo acima do recorde mundial.
    Uma coisa é certa: se ela não tivesse comprado a idéia não teria chegado tão longe.
    Veja o caso do potencial tenista Marcelo Saliola, que segundo especialistas tinha potencial para ser equiparado ao Sampras ou ao Federer mas não aguentou a pressão de um pai esportista frustrado e jogou tudo para cima desistindo da carreira.
    "Somente aqueles que gostam muito do que fazem podem fazê-lo tão bem".
    Junior

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    1. Será?
      O André Agassi declarou ao mundo em sua biografia que ODEIA o tênis e, mesmo assim, é um dos maiores nomes do tênis mundial.
      Sem dúvida, gênios do esporte não aparecem simplesmente pela insistência e persistência (dos pais frustrados ou do próprio atleta). Tem que existir a aptidão pessoal e pessoas certas que vão desenvolver o potencial.
      Acho que a discussão não é essa.
      A discussão é: até que ponto vale a pena fazer com que uma criança perca a infância?
      Ela já está sendo trabalhada há anos pra chegar onde chegou com 15 anos, sendo que nem atingiu a maturidade atlética. O corpo dela vai mudar, vai ganhar força...isso se ela aguentar a manter o nível de treinamento a que ela tem se submetido há anos.
      Antes de Pequim, lí uma entrevista do Phelps. Nos últimos 5 anos antes dos Jogos de 2008, ele teve apenas 5 dias off. CINCO DIAS SEM CAIR NA PISCINA OU TREINAR NENHUM OUTRO COMPLEMENTO À PREPARAÇÃO EM UM PERÍODO DE CINCO ANOS!!!!!!
      Gostar, nesse caso, não tem muita relação com se fazer bem feito.
      Sem dúvida quando falamos de esporte amador, como a maioria das pessoas que frequenta ese blog, o GOSTAR é o fator predominante. Mas profissionalmente, o buraco tá em outro lugar....eu acho.

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  3. Daniel,
    Concordo com voce. Atualmente o esporte de alto nivel se tornou uma coisa que demanda: aptidao fisica, estrutura e muita, mas muita dedicacao. Uma dedicacao em muitos casos MUITO exagerada. Eu tenho uma filha de apenas 3 anos, ainda nao cheguei na fase que voce menciona da Ruta. Nao sabemos ate em que ponto foi uma vontade da menina, ou pressão mesmo dos Pais.
    Eu vi uma entrevista com o Marilson antes de uma Sao Silvestre. Na epoca a esposa dele (tambem fundista) estava gravida. Perguntaram se ele nao achava que estava para nascer um campeao, se ele iria incentivar o menino a treinar como os Pais. Na mesma hora ele fechou a cara e respondeu:
    Se ele realmente quiser nao vou colocar barreira, mas nao vou exigir nada dele. A vida de atleta é muita dura, a gente sofre muito nos treinamentos.

    Obs: Eu comecei, li o livro do Agassi ate faltar pouco pro final... mas perdi o interesse. Achei meio marketeiro demais, e as vezes fantasiando um pouco as coisas para valorizar a biografia dele mesmo. Com certeza o Pai dele foi bem estupido com ele na infancia, mas essa historia que odeia tenis achei meio "estranho".
    ObsII: O Phelps disse que ele odeia agua. Quando ele vai de ferias para praia, ou em Las Vegas para as famosas "pool party" (festas com mulheres e homens de sunga e biquinis na piscina dos hoteis) ele nem gosta de entrar na agua. Pegou aversao total. Ele falou que provavelmente depois da ultima prova dele em Londres nunca mais vai colocar uma touca, oculos e sunga na vida... de tao saco cheio que ele ficou de piscina.

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  4. Concordo plenamente...

    sua frase: "mas....de quem era esse sonho?"

    é perfeita

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  5. Daniel,

    quando vi a loirinha, logo pensei não no que haviam tirado dela, mas no que haviam injetado nela.

    Triste esse tipo de pensamento. No fundo, eu prefiro pensar que existem realmente fenômenos que são capazes de - naturalmente e com alegria - atingir resultados que a maioria dos super-humanos que vão para uma olimpíada jamais conseguirão.

    Só que superficialmente prevalece a crença de para chegar onde chegou ela foi "judiada" e talvez até envenenada.

    Resta saber se a verdade está na superfície ou nas profundezas.

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  6. Seus posts costumam ser ótimos! Mas sem nenhuma dúvida, esse foi o melhor que li até hoje!!!

    Com certeza, essa vitória foi muito mais emocionante pelo orgulho que ela causou nos pais do que por qualquer outro motivo.
    Legal? sim! Mas até que ponto?
    Crianças precisam ser crianças!
    E todos nós sabemos que para ser um atleta de verdade é preciso muita dedicação, ocupa-se muito tempo e, visto que essa garotinha está em fase escolar ainda, não tenha tido mesmo muito tempo para as Barbies...

    A pergunta deve ser: Quando o sonho deixa de ser dos "pais" e começa a ser da criança?

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