Quem já teve a curiosidade de ler postagens mais antigas do blog, sabe que nunca tive a intenção de ligar minha profissão ao meu hobby. Muito menos dar aula do que quer que seja sobre nenhum assunto. E também não é meu objetivo alertar ninguém para nenhum assunto.
Apesar disso, tenho postado bastante sobre assuntos médicos e esporte.
Uma coisa tem me incomodado e o que eu vou escrever não vai agradar à todos. Peço desculpas desde já.
Depois do Ironman Brasil que aconteceu domingo 27/05, li muitos relatos emocionados sobre superação, atos heróicos de esforços hercúleos para se terminar a prova em condições adversas de saúde (condições estas percebidas durante a prova).
Ok. O primeiro que li foi emocionante. O segundo era a repetição da mesma história. O terceiro já não tinha a menor graça.
Foi quando vi que tinha um quarto, um quinto, um sexto relato. Todos com a mesma história: nadei bem (do ponto de vista de conforto e não necessariamente do tempo gasto), comecei a pedalar bem na primeira volta, mas na segunda a casa caiu....enjôo, nenhuma alimentação caía bem, vômitos, câimbras, etc, etc....a maratona que costumo fazer em 3 horas (ou o que quer que seja...), foi feita em 7 horas, mas eu sou ironman!!!!!!
Eu fico preocupado! Vocês não?
Não sou expert em fisiologia, muito menos em esportes de longa duração. Por isso não vou me alongar e nem vou "esgotar" o assunto. Vou só levantar a bola.
Todo mundo deveria saber que existe uma quantidade ENORME de variáveis que regula o corpo em situações de stress como essa.
Não adianta vir com fórmulas prontas de revista, dizendo que precisamos comer uma quantidade x de carbo por hora, tantos litros de líquido por hora. E se a prova for feita com 10ºC de temperatura? E se for com 30ºC? É a mesma coisa? E se tiver 47 Kg com 2,5% de gordura corporal? E se for um fofinho com 90 Kg e 27% de gordura corporal?
Entra tudo no mesmo bolo?
A prova no domingo pegou muita gente de surpresa, pelo que soube. Estava mais calor que o habitual.
Ironman tende a ser um cara bitolado no que diz respeito a "se repetir exatamente o que foi treinado".
Se estava mais calor, a reposição hidroeletrolítica tem que ser ajustada.
O esforço heróico de todos os relatos lidos tem outro nome: HIPONATREMIA!
Não tem nada a ver com a água servida na prova. Não tem nada a ver com intoxicação alimentar.
A insistência na manutenção do esforço pode criar uma bola de neve que resulta em sobrecargas hepática principalmente renal graves.
Cada dia mais dou razão à frase que ouvi no meio do ano passado do ortopedista que examinou meu quadril baleado: vocês (triatletas) têm rotina de treinos de profissionais e não têm a retaguarda que deveriam ter. É tudo empírico, É tudo de "orelhada".
O esforço e superação do ironman deve se restringir ao dia a dia dos treinos. No tempo que se passa longe da família. Todo o resto tem que ser planejado como alimentação, suplementação orientada por fisiologistas e nutricionistas, complementação dos treinamentos com trabalhos de força específica para se evitar lesões. Assessorias não dão esse tipo de suporte. No máximo querem um teste ergométrico para a eventualidade do cara "empacotar" e poderem tirar os respectivos da reta.
Além disso, também o dia da prova tem que ser planejado. Tem que haver um plano de contingência para imprevistos, como temperaturas de 30ºC no final de maio.
Além disso, também o dia da prova tem que ser planejado. Tem que haver um plano de contingência para imprevistos, como temperaturas de 30ºC no final de maio.
Agora esse tipo de superação em todos os relatos lidos, é preocupante demais!
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The Drunken Hercules - Peter Paul Rubens (1611) |