quinta-feira, 18 de outubro de 2012

FRUSTRAÇÃO



Todo mundo conhece essa musiquinha. Pode cantar baixinho. Ninguém vai perceber.

"Era uma bike muito engraçada
Não tinha quadro, não tinha nada
Ninguém podia andar nela não
Porque na bike não tinha guidão
Ninguém podia dar uma volta, porque na bike não tinha roda.
Ninguém podia fazer um tri (athlon..mas esse parenteses não é cantado), porque a bike não estava alí
Tudo era feito de forma lenta, num país bobo
Pela Cervélo!"

Cansei de esperar.

A superbike foi lançada em janeiro (18/01/2012) se não me engano.

Estava decidido comprar uma SHIV. Era apaixonado pela bike com a qual o Macca ganhou Kona em 2010 (o modelo 2011 achei horroroso). O enfeite da porta da maternidade do Guilherme foi um recém nascido montado em uma.

Estava pesquisando preços (importação oficial e não oficial), mesmo sabendo que é uma bike com ajustes difíceis e não foi feita para "mortais"

Até que "do nada"  surge uma SUPERbike, prometendo dar o melhor dos mundos aos amadores: aproveitamento integral de melhorias aerodinâmcas e ajustes praticamente ilimitados, tornando esse tipo de bike acessível à todos (que se dispusessem a pagar por isso).

Aí descobri que as coisas não eram assim tão fáceis, do tipo - quero, pago, consigo. Tinha que esperar.

Mas não era esperar porque a demanda estava grande. Até devia estar, mas teria que esperar porque, apesar de toda pompa e site caprichado no lançamento, não existia nenhuma bike fabricada.

Esperei.

Janeiro, fevereiro, março.

Abril: alarme falso.

Maio: vendi minha bike. Surgiu uma oportunidade e não estava treinando.

Junho - voltei a treinar e para isso comprei uma bike road simples pensando em mantê-la após a chegada da superbike. Fim do primeiro prazo. A Cervélo adiou as entregas indefinidamente.

Julho. Descobri um tópico só sobre a P5 no Slowtwitch. Nele o pessoal da Cervélo se esmerava em desviar dos ataques. O problema nas entregas era mundial. Descubro que a produção obedece a uma escala. As que tinham mais saídas (tamanhos grandes), estavam sendo feitas e entregues primeiro. Nenhuma 51 (a minha) ou 48. Acho que nessa época começaram a entregar as primeiras aqui no Brasil. Teve até outro alarme falso, com uma tamanho 54 disponível, mas chegou-se à conclusão que a melhor mesmo era a 51. Já deu pra ver uma luz no fim do túnel.

Agosto e Setembro: até o fim de setembro e efetivamente em outubro, segundo a Cervélo, as entregas estariam normalizadas. O gargalo na produção era a pintura e com uma solução "manca", transformaram o acabamento brilhante em fosco, diminuindo o tempo de produção e os problemas com controle de qualidade. Achei que ficou mais bonita, apesar de ser claramente, um improviso.

Outubro: nada da minha. Mudei meu pedido. Inicialmente era uma P5-three Dura Ace, a única opção até então, para bike completaque não fosse com Di2. Isso me induziu a um erro. No lançamento, as fotos davam a entender que também para a bike UCI legal (a que tinha encomendado), o guidão Aduro (uma das grandes novidades) integrado estaria disponível. Após as primeiras entregas e fotos pela internet, percebi que não. Estas viriam com avanço normal e guidão convencional. Primeira decepção. Tive a chance de mudar para a P5-six, específica para triathlon, com o guidão integrado e garfo proíbido pela UCI. Agora tinha uma configuração amigável ao bolso, com SRAM red. Até esperava que com isso, minha entrega seria ainda mais atrasada. Já tinha esperado 9 meses mesmo. Não iria fazer diferença. Bicicleta eu tinha. Não a adequada, mas eu tinha.

14/out - TriStar Rio - Ponto final. Não dá mais pra esperar a superbike. Preciso de especificidade. Ou simplesmente quero isso, mesmo sabendo que a bike não é o unico fator do meu sofrimento. Falta ritmo, falta treino, falta condição física. So what...?

A informação é que em novembro vão chegar algumas poucas 51, mas não é possível saber quais as configurações, portanto, não dá pra saber (?) se a minha está incluída.

Durante todo esse tempo ouvi piadinha dos amigos. No começo tentava explicar o tal cronograma por demanda. Ninguém entendia. Ninguém entende. Nem eu.

Até que passei a responder: "um dia chega".

Cansei do "um dia chega" e passei a responder só "não existe".

Mas como não existe? Só na minha assessoria tem duas.

Na USP, rodando aos sábados, (de roda fechada, acreditem), umas 4 ou 5.

Cansei. Sei que essa ansiedade e expectativa tem apenas um culpado: eu mesmo. Vendi minha bike de triathlon em maio, achando que até junho teria a nova nas mãos. Acreditei na informação passada pelo fabricante! Comprei uma bike simples, contrariando o meu mantra que diz "coisa boa - quase sempre - custa caro " (infelizmente). Comprei uma bike barata e consequentemente ruim, por mais que quisesse tapar o sol com a peneira, tentando acreditar que isso não faria a menor diferença.

A Cervélo, apesar de ter a melhores bikes do mundo, perdeu um cliente. Não pretendo mais ter bikes da Cervélo porque me senti lesado. É uma pena que eu realmente não seja nada pra eles e nem nunca vão ficar sabendo da minha indignação e principalmente frustração.

Peço muitas desculpas públicas ao Max da Kona Bikes, com a certeza que ele fez tudo o que podia para facilitar, agilizar e viabilizar o que eu queria. Desde o início deu total apoio, repassando todas as informações que tinha, cobrando quem tinha que ser cobrado e buscando sempre as melhores soluções. Estou me sentindo mal por ter quebrado a "promessa de compra", mas isso não pode mais tomar o tempo que estava tomando na minha vida.

É só uma bicicleta. E a empresa que a fabrica não me respeitou.
Lançam a "bike" dos sonhos, objeto do desejo....e não são capazes de suprir as enormes expectativas geradas. Não são capazes de AO MENOS dar informações concretas.

Nem no Brasil esse desrespeito é tão grande.

Do Canadá à partir de agora, só consumo o que vem do Geddy Lee, Neil Peart e Alex Lifeson!



segunda-feira, 15 de outubro de 2012

"Engole o Choro"

Ouvi essa ordem mais ou menos no 6º km da corrida da prova neste domingo.

A minha primeira prova de triathlon desde o Ironman 2011. Mas não vou começar o relato assim. Nem fazendo nenhum tipo de drama.

Também não vou ficar reclamando sobre gente que não respeita regras. Em toda prova tem. Vai da consciência de cada um. 

O TriStar teve coisas boas e coisas ruins.

Sem sombra de dúvida, a boa foi a surpresa em conhecer o Rio como uma cidade segura. Pelo menos com sensação de segurança. Meu carro dormiu na rua todos os dias. Andamos na orla com máquina fotográfica (das grandes, tipo reflex) e também à noite por Ipanema, sem achar que corríamos perigo.

Pena que choveu tanto. Não deu pra ser turista tanto quanto queria, mas deu pra conhecer o "básico".

O Rio é realmente lindo. A Lagoa é um lugar muito gostoso. As orlas de Copacabana, Ipanema e Flamengo ficam fechadas aos domingos e feriados, pro prazer de quem quer passear e até treinar (no caso do aterro). Precisaria que a população e turistas colaborassem um pouco mais com a limpeza, com a conservação. 

O trânsito é difícil. Os semáforos têm disposição diferente quando comparados aos de SP. Sem contar que não existem vagas pra carros nem nos prédio e nem nas ruas. 

As obras de infraestrutura estão atrasadas pra quem quer sediar os Jogos Olímpicos. Quando fui a Atenas em 1997, a cidade era um canteiro, com o agravante que a cada meio metro escavado, um sítio arqueológico era encontrado. Muito diferente do que vi e não quer dizer que o Rio tem muito mais que Atenas tinha naquela época. Tudo bem que a Grécia se endividou até as tampas para adequar a cidade aos Jogos de 2004 e até hoje paga a conta...ou melhor...dá o calote nela.

Será que vamos pro mesmo caminho?

Vi obras de um túnel na região portuária. A própria Perimetral vai abaixo pra revitalizar essa região. O trabalho vai ser árduo. Vamos ver no que vai dar. Mas não sei se há transporte e serviços adequados. 

Vou torcer pra que dê tudo certo. Gostei do Rio. Muito diferente do que achei que seria. A Júlia adorou o Rio. Ela quer voltar. Foi muito legal.

A Prova. Chega de rodeios e introduções.

Não costumo e não vou falar mal da organização. Se dar um jantar em casa para amigos dá trabalho, imagina uma "festa". Erros acontecem, ainda mais quando não se tem experiência de eventos anteriores.

Mas vai ter que melhorar muito.

Feira, pretensiosamente chamada Expo, precária. Confusão nas informações de onde seria a largada, onde se estacionariam os carros.

A prova também não escapou dessas "cabeçadas".

Como se não tivesse existido planejamento ou um simpósio no dia anterior, a organização da prova corrigiu umas duas vezes como seria o contornar das bóias.

A água estava fria e, apesar de ser a baía da Guanabara, o mar estava muito agitado.

Pancadaria. Socos, puxões, chute "nas partes". Impossível contornar nadando a primeira bóia. Fui no movimento natural da esteira. Bom...aqui o vácuo é permitido.

Nadei na média. Nem bem nem mal, para os meus padrões.

Saí completamente tonto. Parecia que o Aterro tinha voltado a ser mar e estava balançando!

Sacola. Respira. Pensa. Não vomita.

Fui pegar a magrela "verde feio". Estava com medo.

Tudo bem. Uma semana atrás fiz um cruzado bike/corrida de 50/3/25/3/25/3 km pedalando pra 34/35 km/h de média e correndo consistente pra uns 4'30"/km. Achei que não teria problemas.

A prova deu o seu tom muito cedo. Antes do 10° Km minhas costas doíam muito. A favor do vento eu não passava de 35 km/h. Meu capacete apertava minha testa. Eu não tinha mudado nenhum ajuste. A cabeça de médico pensava: "deve ser Paget"....mas esquece. Isso é outra história. Claro que não é Paget. Daqui uns 30 anos eu me preocupo com essa possibilidade.

Quando cruzei a placa de 10 km, pensei: putz, faltam 90.

Isso não é um bom pensamento. Nem em treino, nem em prova.

A bike tinha dois trechos bem distintos: um no Aterro - bonito, arborizado, Pão de Açúcar, bondinho, Corcovado e o Cristo Redentor (inevitável cantar nas cinco passagens que fiz por ele a música do Tom Jobim: "Cristo Redentor/ Braços abertos sobre a Guanabara...). O outro sobre a Perimetral, uma via elevada sobre a região portuária. Prédios antigos, tudo muito cinza e por enquanto bem feio. Na última volta vi que o retorno era perto da Cidade do Samba, lugar onde as Escolas de Samba do Rio fazem as suas mágicas. Em comum, os dois trechos tinham um vento contra FELODAPUTA no sentido de quem ia pra Botafogo.

Tentei não pensar muito em quanto faltava e passei a procurar minha torcida fiel a cada passagem pela área de transição. Pedi à Vi que não chegasse cedo e que nem fossem se estivesse chovendo. Na penúltima volta, eu achei. Foi uma dose extra de ânimo, mas ainda faltavam 30 km e, no ritmo que eu estava, era mais um hora.

Na real, vi minha média cair de 34 km/h na primeira volta (o original era 35,5 km/h, mas essa deve ter sido a velocidade MÁXIMA que alcancei. Editado ao ver o arquivo do Garmin) pra 32,3 km/h no final, o que quer dizer que na última volta, mal cheguei aos 30/h. Sofrido.

Pensando no último treino, queria começar a correr logo. Pelo menos iria sentir que estava sendo mais eficiente.

Aí relembrei que treino é treino e jogo é jogo.

Deixei a T2 meio "de mal" com a "verde feio". Saí correndo e percebi que fiz lambança com o modo multisports do Garmin. Só tinha o modo natação.

Passei pela Júlia e ela fez muita festa. Quase parei pra dar beijo em todos. Mas não. Pelo menos uma das três etapas eu queria fazer direito.

Quando passou a adrenalina da área de transição, tudo doía. O peito doía pra respirar. As costas doíam.

A placa de 1 km demorou. Não tinha ideia do meu ritmo, mas sabia que mesmo me arrastando, não conseguiria ir assim até o fim.

Precisava tomar uma decisão. Queria desistir. Tinha que ter feito o 55,5 (0,5/50/5km), ou seja, a metade das distâncias que estava tentando completar.

Pensei no ano que passei querendo voltar a competir. Pensei na Vi cuidando das duas crianças pra que eu pudesse voltar a treinar e competir. Não podia desistir.

No 6º Km, ou melhor, no começo da segunda volta, cruzei com a Bel, amiga da antiga assessoria, a torcedora mais animada de todas as provas. Disse que estava morrendo. Ela mandou de volta a frase do título do post.

Pensei: Pô, tô aqui porque quero. Vou reclamar do que? Continuei no ritmo de cruzeiro, só pra terminar.

Se tivesse desistido, não teria tido esse momento.



Assim que vi a galerinha, a Júlia veio correndo em minha direção. Parei. Ganhei um abraço e um beijo. Perguntei se ela queria correr comigo. Ela nem respondeu. Me deu a mão e saiu correndo me puxando. O Guilherme dormia.

Entramos no funil. Ela estava toda orgulhosa. Eu estava muito mais.

Subimos a rampa da chegada e pedi pra ela levantar os braços. Comemoramos juntos.

Dei a medalha pra ela.

Foram dela as melhores frases do dia. Pra quem me tem como contato no facebook não é novidade, mas aí vão alguns petardos dessa língua solta de 4 anos:

"Mamãe, tem uma 'pancada' de bicicleta junta né?
"Eu vou ficar esperando aqui pra sempre? O papai não chega nunca?"
"Mamãe, eu quero a pulserinha do papai pra levar pra escola e mostrar pra todo mundo que ele é atleta".

Tempo de prova? Depois dessa chegada, isso quase não importava e isso nem é desculpa esfarrapada de quem foi mal.

Fiz 4:28'. Tempo suficiente pra um meio Ironman.

Algo em torno de 17'50"de água, 3:06'de pedal e quase 56' de corrida. Somados, uns 6' de transição.

Claro que desanimei um pouco.

Por mais que não pudesse ter a expectativa de repetir o desempenho de maio/2011, tinha a esperança de chegar perto. Estava treinando bem.

O quanto a bike teve influência? Não sei, mas decidi que se não arrumar uma bike melhor, não vou fazer Pirassununga. Se sofri pra correr 10 km, imagina correr 21 km.

Isso aqui é diversão. Não vou ficar sofrendo sem precisar. Lá pelo 9º km, eu repetia sem parar: "eu não sei mais se gosto dessa porra....eu não sei mais..."

A Vi perguntava o que eu estava sentindo. Nem sei o que eu sentia. Tentava falar e a garganta amarrava. Quase chorei de raiva, de dor, de felicidade. Estava puto por ter ido mal, por não ter conseguido correr. Estava aliviado por ter terminado. Por ter voltado a fazer provas.

O bom é que quando passa, a gente esquece.

Já passou. Mas a decisão sobre Pira já está tomada.

Uma coisa é certa: eu tenho a melhor torcida do mundo. Muito obrigado Vi, pela força, pelo carinho, pelo suporte e por levar nossos pequenos, fazendo com que eles cresçam dentro desse ambiente, o esporte.


Sem saber se ainda gosto ou não, sou triatleta de novo!

Isso é bom né?

Acho que é!


sábado, 13 de outubro de 2012

A Feia Arrumadinha

Bonitinho (a) é aquilo que é feio(a), mas está "arrumadinho (a)".


Espero que não entendam errado. Não tem como esse lugar ser, sob nenhum aspecto, "bonitinho". Deve ser lindo.

Mas assim, arrumada pra festa, fica beeeeeeem melhor.


Tomara que essa cena se repita pela terceira vez.

É hoje!

Vai Macca!!!





quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Pau pra Toda Obra

Mais um post em homenagem à magrela.

Quando voltei aos treinos, percebi uma tendência no pelotão: triatletas com bikes de ciclismo (road) e até algumas ciclocross.

Não tinha muita intenção de ter uma, mas tudo conspirou pra isso: a bike de tri que não chega nunca; a falta de uma bike pra treinar; e o conselho do Max (Kona Bikes) pra que se tivesse uma oportunidade, pegar uma road. Acho que no fundo ele pensou: "você é um prego. Vê se faz por merecer a bike que você está querendo comprar e vai treinar fundamentos com uma bike de ciclismo" (mais uma frase pra por no mural da sua loja Max...aquele mural das coisas que você não diz, mas pensa....hahahahah).

Não tinha ideia de qual bike comprar, até que cheguei na loja do Elpídio e disse: "Cara, preciso de uma bike pra ser minha segunda bike, que eu não tenha pena de treinar na chuva com ela e que seja uma bike pra subir "parede", pensando em não ficar muito pra trás da galera quando fosse pra Romeiros.

Ele veio com uma (claro) Bianchi ML3 usada.





Olhei desconfiado, afinal Bianchi que se preze tem essa cor "verde feio" . Olhei de novo. Peguei. Levantei. Botei na balança...10,5 kg

"É boa Elpídio?"

"É boa, brou. É tamanho 52, com pedivela compact".

"Ela sobe bem?"

Aí ele me olhou com cara de desconfiado, tipo...quem sobe é você....não a bike, porra.

Mas ele respondeu educadamente "Sobe...é compact".

Bom, senti que tinha feito uma pergunta parecida com aquela daquele tio que olha sua bike e pergunta até que velocidade ela chega.

O Elpídio é uma lenda. Confio nele. Levei a bike.

A primeira vez que exigi de verdade da magrela "verde feio", depois de alguns treinos, foi em....Romeiros.

Desastre. Postei aqui.

O que não disse, é que no fundo, joguei parte da culpa na bike. Pesada. Não me entendi direito com um volantinho de 34 dentes (até hoje não me entendo muito, mas beleza).

Já fiquei fazendo planos pra um upgrade nela.

Mas a real era: o upgrade quem precisava era eu. Quem precisava perder peso era eu!

Cinco meses depois, com muita disciplina, evolui bastante. Recuperei parte do que perdi em um ano de sedentarismo forçado.

Saí do pelotão do "fundão" e já estou até dando alguma contribuição puxando uma galera boa, de vez em quando.

A magrela "verde feio" não faz tão feio assim perto das bikes de triathlon dos caras com quem pedalo.

Por isso, desisti da ideia de pedir bike emprestada pra ir pro Rio daqui duas semanas. 

É com ela que eu vou. Sem roda de carbono. Sem frescura. Sem firula.

Bike com desenho de bike e não de nave espacial.

Na verdade....queria muito estar com a minha nave espacial, mas pelo jeito muita água vai rolar ainda até pedalar a superbike, já que troquei o pedido nessa semana.

Mas, pensando nisso também, vou começar a mandar uns emails diários pressionando uma certa fábrica canadense de bicicletas, pra mostrar que eu quero minha bike.

Pode ser mais ou menos assim:



Acho que agora só em 2013....

Nota pós fechamento da "edição" do blog: li no fórum slowtwitch que a cervélo informou que a previsão de entrega das P5 encomendadas em outubro de 2012 será somente à partir de março de 2013. Será que a troca de pedido em outubro cai como novo pedido.....ai, ai, ai.....Acho que sim. Agora a lista de provas com a bianchi cresceu para: pirassununga, caiobá, internacional de santos....quem sabe em penha 2013 eu estreio a P5

Que imbroglio. Que novela.

A culpa é minha. Quem mandou vender a P2?



quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Lenda Urbana Triatlética


Uma mulher na casa dos 30 fazendo compras em um supermercado.

Um homem, ajudante do caixa e empacotador, entre 50 e 60 anos de idade.

Um carro com adesivo que identifica a pratica de um determinado esporte. Não um esporte de massa, difundido e divulgado pelos meios de comunicação. Não um adesivo com um símbolo que remete a um esporte específico, a não ser pra quem o pratica.

O homem para a mulher: "Tem algum Ironman na família?".

Surpresa pela pergunta e ainda mais surpresa com quem havia perguntado, a mulher responde: "Sim, meu marido".

A conversa continua. O homem continua a surpreender: "Não são muitas as pessoas que praticam esse esporte. Eu já completei cinco Ironman em Floripa".

Parece conversa de mesa de bar, ou então de pescador. Uma lenda urbana. 

Difíííícil de acreditar.....

Mas a mulher era a minha mulher, a Vivi. O homem, o empacotador do Pão de Açúcar da rua Cerro Corá na Lapa, bairro próximo de onde moramos aqui em São Paulo.

Assis Leite, cearense de Fortaleza, triatleta, cinco vezes Ironman. Melhor tempo na casa de 11:30'. Largou a cidade natal, família, faculdade de educação física (aos cinqüenta e tantos anos) e sabe-se lá mais o que, pra viver o sonho. Buscar patrocínio ou apoio para continuar fazendo aquilo que mais gostava: competir em provas de triathlon.

Como sabemos, inscrições, viagens, materiais esportivos, tudo é muito caro.

Em pouco tempo, perdeu o pouco que tinha em uma grande enchente no bairro da Pompéia. Depois uma lesão que o impediu de treinar, de competir.

Não sei qual a lesão. Não sei qual a limitação.

Só sei que desgraça pouca é bobagem.

Sem ter como se tratar adequadamente, algum médico orientou a procurar um trabalho que permitisse movimentar-se. Achou o de empacotador em supermercado. Uma loja que abriga uma grande academia (Bio Ritmo) em sua sobreloja.

Falante, simpático e como todo ironman que se preze, gosta de contar sua história, não demorou a conhecer outros membros da mesma tribo que, assim como eu, foram sensibilizados pela história. Conseguiu uma bolsa pra treinar de graça na academia. Está se recuperando.

Não tem dinheiro e nem pretende voltar pra Fortaleza. Às vezes passa dificuldades, mas tudo o que ganha vai para inscrições de provas de corrida.

Está atualizado. Sabe do TriStar no Rio. Gostaria de fazer Pirassununga, mas 510 reais é caro pra nós, imagine para ele. Minha mulher disse que se tivesse conversado com ele, tinha certeza que eu pagaria do meu bolso a inscrição dele.

Quem sabe.

O sonho dele é voltar a competir em Floripa. Com um sorriso no rosto, ele passa a certeza que vai conseguir isso.

O que leva uma pessoa a desistir de quase tudo na vida para viver um sonho?

Loucura inconsequente?

Pouco ou nada à perder?

Coragem?

Idealismo?

Todas? Nenhuma razão acima?

Dizem que o que faz do futebol um esporte universal é a possibilidade de se jogar com uma bola de meia e dois pares de chinelos para demarcar os gols. Ok, bem mais democrático que um esporte que precisa de uma piscina, uma bicicleta, tênis de corrida, treinadores, inscrições caras, etc, etc, etc.

Apesar de tudo isso, apesar de aparentemente elitista, o meu, o nosso esporte é capaz de despertar a mesma paixão que eu sinto, que você que lê sente, em alguém com aparente bem menos recursos e possibilidades materiais. Mas sonhos não se limitam por essas coisas mundanas. 

Infelizmente não conheci essa figura e não ouvi diretamente dele essa história que só uma cidade maluca como São Paulo pode contar. Mesmo não sabendo muitos detalhes, passei boa parte do dia pensando em uma forma de ajudar. Não tenho sequer o contato dele. Só sei que se chama Francisco de Assis Leite de Oliveira (tem um videozinho no youtube produzido pela tv de fortaleza, com uma letra adaptada por ele mesmo...é só procurar no YouTube por "ASSIS LEITE IRONMAN" no google) trabalha de empacotador no Pão de Açúcar da Cerro Corá, em SP e quer voltar pra Floripa de qualquer forma.

Só quem faz sabe o amor, o orgulho e a vontade de continuar que sentimos.

Vou tentar fazer minha parte. E você? Tem alguma coisa que você pode fazer?