quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Em 2011...

No dia 1º de janeiro de 2011, eu ganhei esse depoimento:


A Júlia tinha 2 anos e meio, ainda não falava muito bem, mas já era uma tagarela e tudo o que foi dito aqui foi de forma espontânea. 

De tanto ouvir falar em ironman, ela sabia que era importante pra mim e que era uma competição que eu nadava, "andava" de bicicleta e corria. 

Nesta época estávamos concretizando a compra da nossa casa nova e isso abria a perspectiva de um irmãozinho (ou irmãzinha....mas não seria Vitória se fosse menina).

Tudo isso aconteceu.

Casa nova.

Ironman.

A gravidez do Guilherme.

Foi ou não, um ano inesquecível?

Como eu acredito que não vá mais escrever este ano, queria dizer que foi sim um ano pra nunca mais se esquecer. Espero que todo mundo que esteja nesse barco comigo tenha tido um ano igual. 

Que 2012 seja ainda melhor pra todo mundo.

Pra mim vai ser. Apesar de não poder fazer o ironman, o ano novo vai me trazer algo muito maior e mais importante.

Que venha 2012! 

Ainda mais legal, diz aí Jujú!!!!!

Feliz ano novo!

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

"Tire o Chapéu que Nossa Escola vai Passar"

Minha manhã começou com um vídeo no YouTube sobre a minha escola médica - A Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, ou só Santa Casa.



Fiquei com vontade de escrever sobre "ela".

A Santa Casa entrou na minha vida (ou eu entrei na Santa Casa) como uma lição de humildade.

Fiz apenas dois vestibulares no ano de 1991: Fuvest e Unicamp.
 
Pra ser bem sincero, o vestibular da Unicamp eu fiz beeeeeeeeem "nas coxa".

Excesso de confiança? Talvez, mas não era só isso.

Em uma noite em casa, durante um jantar, percebi que eu só poderia passar nas faculdades que faziam parte da fuvest (USP, Paulista, Santa Casa e Ribeirão Preto). Fui muito questionado quando falei que iria fazer inscrições para unesp e outras escolas (boas escolas) no interior. Fiquei puto e meus argumentos só pioraram minha situação. Lembro que disse que não podia ter a pretensão de querer passar numa USP, depois da lambança do vestibular em 1990, quando nem da primeira fase eu tinha passado.

Como assim, "pretensão"????? Enfurecido, ouvi meu pai dizer (com razão, hoje eu vejo) que me deu uma das melhores escolas de SP (Palmares), me deu apoio quando não passei da primeira vez, fiz um ano de cursinho, nunca trabalhei. Eu tinha obrigação de ter um bom resultado. Claro que na época, não gostei. Mas afinal, pais geralmente têm razão.....geralmente.

Nas férias de 1992, em janeiro, num dia de chuva na praia, o resultado. Não passei....em nenhuma delas. Pelo menos não em primeira chamada.

Na hora o chão faltou. Fiquei imaginando mais um ano de estudo das 7 da manhã às 10 da noite, como no ano anterior. Não aguentaria. Decidi que faria biologia.

Fui consolado, talvez com a possibilidade de uma lista de espera, quem sabe para a Santa Casa, que era paga e por isso, geralmente colocada como 4ª opção. 

Nessa hora descompensei: "E quem quer a merda da Santa Casa???????? Eu estudei pra passar na USP!!!!!!".

Tive minhas férias. Depois, fui trabalhar com o meu pai enquanto as aulas no cursinho não começavam. Estava decidido mesmo a fazer biologia. Não se falava em outra coisa além de genética, projeto GENOMA, etc, etc. Eu estava maravilhado com isso.

Fui conhecer a Faculdade de Biologia na USP. Passei uma manhã espetacular no prédio no alto da rua do Matão, a ladeira onde 10 entre 10 corredores amam odiar, na cidade universitária. Era mesmo aquilo que eu queria fazer da vida.

Mas......

No final da manhã meu pai liga no laboratório onde eu estava, desesperado atrás de mim (na época não existiam celulares, dá pra acreditar????). Até hoje não sei como ele conseguiu me achar lá. Precisava decidir naquele exato momento o que eu queria da vida. Meu nome estava na última lista de espera na Santa Casa e tinha poucas horas pra reunir documentos para a matrícula no dia seguinte.

O chão faltou de novo! 

A "merda" da Santa Casa me queria. E eu, com 19 anos, o que queria?

Eu fui. Claro que eu fui!

Foram dez anos lá dentro. Dez anos intensos. Seis de faculdade e mais quatro de residência.

Quem não conhece a Santa Casa, vale um passeio, principalmente em setembro quando os ipês amarelos ficam carregados e existe até um concurso fotográfico com esse "mote". O prédio principal multicentenário em tijolinhos aparentes parece um castelo gótico, com torres altas e colunas formando arcos em forma de ogiva. Os corredores são sombrios e nos tetos também se vêem arcos em ogiva. Existem infinitos corredores subterrâneos. 

Essa aparência  misteriosa rende até hoje muitas histórias como a da "Freira sem cabeça" ou os fantasmas que muitos colegas insistem em já ter visto no prédio da radiologia.

A realidade é que a Santa Casa é maravilhosa.

Dizem que o conjunto nasceu há mais de 400 anos e já abrigou as faculdades de medicina da USP e da Escola Paulista. Quando estas decidiram que precisavam de prédios próprios, a Santa Casa com sua vocação para ensinar, cedeu o espaço para a FCMSCSP, a nossa Santa. Em 1992, entrei para a XXX turma.

A Santa é diferente de outras escolas médicas. Sua principal virtude talvez seja seu principal defeito. Pra falar a verdade, não sei mais como é hoje em dia, mas na minha época a enorme deficiência em aulas teóricas era compensada com o livre acesso às enfermarias e aos doentes. Aprendíamos na prática.

Em 1997 me formei. No final do curso, muitos de nós ainda se perguntavam: "quando acontece a mágica? Quando viramos médicos?". Éramos um bando de moleques. Eu tinha cabelo comprido. As atitudes não eram as que se esperavam de médicos. 

O que ninguém sabia na época é que a mágica estava sendo feita ao longo de todos os anos, desde o primeiro dia de aula.  A Santa Casa exigia muito do nosso esforço, da nossa vontade, mas generosamente oferecia muito em troca. Pessoas com quem aprendíamos todos os dias. E aprendemos muito com todas elas. 

O médico da Santa Casa tem sim uma relação muito especial com a escola, com o hospital. Na verdade não existe uma escola ou um hospital....um está no outro e um não existe sem o outro.

Areguá, Santa!


 Obs: O título é parte do hino da faculdade.