quinta-feira, 15 de março de 2012

A Gincana

Não existe foto pra ilustrar a estupidez humana. Portanto, este post vai ser só escrito.

Ontem à noite, num raro momento de silêncio em casa, estava no YouTube fazendo uma coisa que gosto: procurando shows de bandas de hard rock dos anos 80 e 90. 

Numa delas, os comentários (em inglês) me chamaram a atenção.  Neles, "torcedores inflamados" ao melhor estilo Corinthians x Palmeiras defendiam as bandas favoritas, avacalhando outras.

Sério que existe isso?

Não seria bem mais fácil ouvir o que se gosta, não ouvir o que não se gosta e desde que um não atrapalhe o outro, cada um ouvir o que bem entender?

Ok. Estão criadas as torcidas uniformizadas de bandas de rock! Agora não assisto mais a shows na casa do adversário!

Outro passatempo que eu tenho me dedicado nos últimos tempos é namorar tudo a respeito da Cervélo P5. Procuro fotos, vídeos, reviews. Tudo o que se tenha alguma linha escrita ou alguma foto!

Fui direto no primeiro em português que achei. Era de um fórum e ciclistas discutiam as diferenças entre as versões UCI legal e ilegal.

Os primeiros tópicos expunham o garfo maior, o nariz sobre o freio hidráulico, a utilidade desse freio hidráulico. Por que não um freio a disco, etc...

Aí, teve um iluminado que resolveu atacar o público alvo da UCI ilegal. E não por acaso, esse público é o triatleta. 

Segundo ele, o cara que NÃO nada, NÃO pedala e NÃO corre. 

O que participa de uma GINCANA e não um esporte. 

O cara que só sabe pedalar em linha reta e não tem "a manha" de pilotar a bike pra salvar a própria vida, se preciso.

De novo, não seria melhor o "cada um na sua"?

Não fui dormir puto. A sequência de comentários deixou claro a motivação dos ataques. Neles, um dizia que sem dúvida, os participantes de gincanas é que se divertiam a valer, enquanto eles, os CICLISTAS tinham que pedalar com bikes rigidamente controladas. Em outro, o super ciclista se entregava e se lamentava que além de pedalar bikes de sonhos, os GINCANEIROS tinham provas mais organizadas e mais numerosas (a grama do vizinho é sempre mais verde, não é mesmo?).

Todo palmeirense é um corinthiano enrustido (ou vice-versa). 

Aplique essa máxima em qualquer situação que se queira!

E a humanidade desfia o rosário da sua estupidez mundo afora!

Ahhhh...o fórum era o Maglia Rosa.

sábado, 10 de março de 2012

Faça o Bem!


Quem está se divertindo mais?

Há uma semana, o amigo Marcos Vilas Boas que tem um blog que tem por objetivo ajudar a divulgar o trabalho da ABRALE (Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia) disse que sente algo de diferente, gratificante quando vai às reuniões na associação.

Talvez a mesma sensação que faz com que a Chrissie Wellington aí em cima, brinque e se divirta como a criança que ela carrega nas costas.

Fazer o bem faz bem. Pra todo mundo.

Há tempos a ideia de fazer algo do gênero me persegue, mas não tinha a "minha causa".

Acho que há pouco tempo ela se revelou e estou em processo de amadurecimento.

Pratique o bem! Faz muito bem pro coração!

sábado, 3 de março de 2012

Ciclista Fantasma

Mais um ciclista morreu, no caso uma mulher, no trânsito de São Paulo.

Pelo que consta, até era uma atleta, mas quando digo ciclista, digo um usuário de bicicleta em meio ao trânsito, quer seja urbano, rodoviário ou rural.

Diariamente, ou pelo menos frequentemente, muitos morrem nessas circunstâncias. Em alguns casos há mais repercussão, em outros nem sequer se ouve falar.


Não vou discutir aqui qual situação é mais importante (se é que isso possa ser discutido): a morte de um ciclista ou triatleta em bikes caras ou a do usuário da bike, geralmente sem nenhum glamour, que usa a magrela como meio de transporte. Isso já foi debatido na blogosfera.

Eu quero aqui dar outro enfoque.

A total falta de preparo do povo brasileiro para compartilhar a rua com qualquer tipo de meio de transporte.

É um verdadeiro vale-tudo. Todos disputando o mesmo espaço. 

A briga normalmente é desproporcional. Caminhões, ônibus, carros, motos, carroças (de catadores de papel), bikes, pedestres. Todos numa luta feroz. Todos em ponto de ebulição. Todos dispostos a defender o espaço que (acham) lhes é de direito. Ninguém dá passagem a ninguém. Não existe gentileza. Não existe educação. 

Não me excluo disso.

O trânsito é stress. Em qualquer situação. Seja no horário de rush em São Paulo, seja numa estrada a caminho das férias. Ninguém cede. O carro é a armadura.

No caso da ciclista morta em São Paulo nesta sexta feira. Ela ia de bike ao trabalho numa região movimentada e emblemática da cidade, a avenida Paulista. 

Ela foi fechada por um carro. Foi dito que, mesmo desequilibrada, tirou satisfações com o motorista barbeiro ou mal educado, ou os dois. Por conta do desequilíbrio (do corpo, pelo menos), ela foi fechada por um ônibus que vinha atrás. Novamente ficou a tirar satisfações, inclusive chegando a tirar as mãos do guidão (pra mim isso é impensável em qualquer situação). O erro fatal. Foi parar embaixo da roda de um outro ônibus.

Não quero saber de quem é a responsabilidade. A polícia é quem tem esse papel de descobrir se a culpa foi do carro, do ônibus, da ciclista...de todo mundo.

Mas...

E se depois da primeira fechada, ela com o coração na boca, tivesse ficado "na dela" e recuperado o equilíbrio (físico e mental). Seria esse o desfecho?

Mais... ainda cabe outra discussão

Isso mostra o quanto estamos preparados para lidarmos com essas situações.

Diz o código de trânsito que o veículo maior é responsável pela integridade do veículo menor e todos, em último caso, pela segurança do pedestre, como numa enorme cadeia alimentar às avessas. Então, ônibus e caminhões teriam que gentilmente assegurar o caminho seguro de carros, de motos, de bikes, de skates, de pedestres e assim por diante.

Não é o que ocorre.

Eu tenho um ranking não oficial dos veículos mais perigosos do trânsito de São Paulo. Disparado os celtinhas de operadoras de TV à cabo com escadas metálicas presas ao teto são os principais vilões do trânsito. Não sei como conseguem correr tanto com carrinhos tão fracos. Depois vem as Fiorinos BRANCAS (de outras cores, ok), na mesma situação: velocidade impensáveis em um carro instável e fraco. Depois ainda, os veículos que estão entre caminhonetes e pequenos caminhões, uma entidade chamada VUC (que acho que só existe aqui em SP), criada depois de uma série de restrições à caminhões de grande porte no centro da cidade. Têm tamanho de caminhões, carregam cargas, mas seus motoristas se portam como pilotos de formula 1.

Ao lado disto, estão todos que acham que quanto mais caros os próprios carros, mais barbaridades podem fazer.

Onde quero chegar?

O poder público incentiva o uso da bike para desafogar o trânsito. Para compensar décadas de descaso com relação ao planejamento do trânsito. Mas transfere toda e qualquer responsabilidade da segurança do ciclista para ele mesmo. Enquanto isso, o pau come solto com os veículos acima descritos.

Ciclovias, ciclofaixas, ciclorrotas.

A bike tá na moda.

Ciclovias são vias permanentes protegidas. São extremamente raras. Tem uma beirando o rio pinheiros que é um espetáculo, não fosse o cheiro do rio. Atraiu ciclistas e com isso ladrões. Pipocam os casos de roubos.

Ciclofaixas são ciclovias temporárias que funcionam aos domingos e feriados. Ligam os principais parques de São Paulo. Separadas do trânsito por...CONES. Perto da ponte da cidade universitária (zona oeste de São Paulo), é responsável por enormes engarrafamentos. É nítida a fúria dos motoristas, presos ao trânsito em pleno domingo por causa de....bikes. Os nervos ficam à flor da pele. As vias que dividem espaço com os cilcistas de fim de semana (e os cones) têm velocidade limitada em 40 km/h. Assim que os "gladiadores" se veem livres, aceleram ao dobro desta velocidade. Nas ciclofaixas existem crianças, pessoas com idade mais avançada, adultos que espelham a forma como dirigem, insitindo em permanecer à esquerda impedindo ultrapassagens, mudando a direção sem sinalizar, parando em qualquer lugar, mesmo com o mundo atrás dele. A chance de MERDA é iminente. Não sei como nunca aconteceu.

As ciclorrotas são vias permanentes para ciclistas que dividem espaço com o trânsito, normalmente em ruas calmas. Como se isso importasse. O motorista (de qualquer tipo de veículo) não pode ver um ciclista. Este é um intruso numa via que PERTENCE ao carro.

A questão é de educação. Não somos holandeses (ou europeus em geral). Não damos valor às bikes e aos ciclistas. Não damos valor à vida.

Via de regra, a vida vale o valor da fiança que o cara paga após matar outro ser humano no trânsito e ser solto da prisão para responder processo em liberdade e depois de anos, ter uma condenação e ser beneficiado pela progressão da pena.

E assim vamos até a próxima notícia um um ser humano morto no trânsito.  Ninguém liga muito mesmo, afinal, poucos se aventuram de bicicleta no trânsito caótico. 

Ahhhh....bicicletas fantasmas, ou ghost bikes são homenagens (alertas) que se prestam à ciclistas mortos no trânsito, sendo bikes (brancas) colocadas nos locais dos atropelamentos.

Do jeito que a coisa vai e mal educados como somos todos, a cidade vai virar um enorme monumento póstumo.