segunda-feira, 20 de junho de 2011

Os Dias Seguintes

Fiquei assustado ao ver que o último post foi em 10/06.

Não vai ser difícil entender o por quê.

Cruzar a linha de chegada do Ironman da forma como eu fiz, ou seja, com tudo dando muito certo, dentro ou melhor do que o previsto, tirou um peso enorme de cima dos ombros e me fez ver as coisas com maior clareza.

É uma prova. É um esporte.

Isso em absoluto quer dizer que tenha tido qualquer tipo de decepção. Não, pelo contrário. Estou orgulhoso demais. Eu sou um IRONMAN!

Mas isso, como eu já suspeitava, não mudou minha vida. 

Basta uma pessoa ter um mínimo de organização e certa estabilidade familiar e financeira, além de muita força de vontade e determinação para ser um Ironman. Não somos semideuses!

Passado todo o stress dos treinos e a emoção da prova, já dá pra falar o que eu pretendia no grande dia. Antes da prova achei melhor não me expor. Odeio gente cornetando! E olha que, apesar de ser só uma prova, só um esporte, amador por sinal, tem muita gente que corneta.

Plano A: Seria o melhor dos mundos. Natação em torno de 1 hora, bike com média de 32 km/h e corrida em cerca de 3:45'. Transições somadas dariam 10'. Somando tudo isso, daria umas 10:40'. Achava muito difícil, mas não impossível.

Plano B: O que eu sei que conseguiria sem sair muito da zona de conforto. 11 horas no total.

Plano C: Chegar a qualquer custo.

Todo mundo sabe em quanto tempo eu fiz. Tá na foto à direita do post. Foi melhor que o plano A. Exatamente por isso, fiquei tão feliz e orgulhoso.

Não tem segredo. Não tem mistério. Eu treinei pra isso. Eu fiz tudo certo. Controlei tudo o que eu podia controlar. Não briguei com o que eu não podia.

Tem muita gente que foi melhor. Muito melhor. Resultado de maior aptidão física e principalmente MUITO trabalho duro. Parabéns. Não invejo ninguém que chegou na minha frente. Pelo contrário. Admiro e na medida do possível, vai servir de exemplo. Não sei se consigo me dedicar mais do que me dediquei. Se mantiver o ritmo e a disciplina, a melhora do tempo é inevitável, mas acredito que o PULO DO GATO vem de outra forma. Muito mais entrega. Muito mais treino. E eu tenho família, emprego. Até um certo ponto, as coisas se encaixam. Depois, fica incompatível.

Apesar de toda essa análise bem crítica, bem pouco emocional, o dia seguinte à prova foi especial.

Acordar em Floripa, de férias é bom demais.

Acordar Ironman, em Floripa e de férias, é melhor ainda.



Praia, passeio com a família. Finalmente vinhozinho (no almoço, no jantar e em muitos outros dias que vieram depois). Pena que durou pouco.

Hora de ir embora. Voltar à realidade. Precisava entregar o apartamento antigo à nova dona, mesmo o novo ainda em obras.

O grande choque de realidade foi mesmo quando chegamos em SP. 

    Por mais que as coisas já estivessem em grande parte encaixotadas e organizadas, havia um mundo de pequenas coisas para serem guardadas. Não foi fácil.

Foi tudo tão cansativo que na quinta feira depois da prova, minha vontade de treinar era enorme. Tudo isso potencializado pela saudade da rotina de treinos (mesmo os mais duros) diante da incerteza de quando iria mudar pra casa nova, de não ter a própria casa.

Fui para os meus pais. 

Ok. É minha casa. Foi minha casa por mais de 30 anos. Mas à partir do momento que você sai de casa e toma conta da própria vida, é difícil voltar. Foi mesmo difícil.

O trabalho também não contribuiu. Desde que voltei de férias, tenho entrado cedo, saído tarde.
Como o tempo tem estado tipicamente de outono, com sol e muito seco, olhar o final de tarde pela janela e imaginar que há cerca de 1 mês, esse seria o horário de treino no Villa Lobos, dá uma certa nostalgia.

Mas enfim, são fases. Ainda bem que isso não aconteceu antes do Iron.

Próximos desafios? Sim. Penha em agosto e Floripa de novo em 2012.

Sou um dos quase dois mil "determinados" que conseguiu a inscrição pro ano que vem. Quem esperou muito, perdeu!

Fiquei irremediavelmente contaminado pelo vírus do Ironman.


Quem sabe no ano que vem, com um time maior.







sexta-feira, 10 de junho de 2011

Ironman Brasil 2011 - Eu NÃO Vim Aqui Para ANDAR!

Recapitulando, entrei na transição perguntando onde estavam minhas pernas.

Brincadeiras à parte, a perna de quem pedala por mais de 5 horas sem parar não pode estar 100%. Claro que a minha não estava. Mas, surpreendentemente, estava bem melhor do que nos três treinos acima de 180 km que eu fiz durante a preparação.

Entrei na tenda e agora sim era hora de pegar a sacola amarela de corrida.

Fácil: estava na fileira A, no final do cavalete de madeira. Fui direto nela.

Agora as coisas dentro da tenda estavam bem mais calmas, com menos gente. Sentei próximo à saída. Tirei o capacete, tirei tudo da sacola. Boné na cabeça, saquinho com os géis no bolso, meias nos pés e tênis...

POUTZZZZZZZZZZZZZZZZZ. Esqueci de desamarrar o nó nos cadarços que tinha feito para o último treino solto, já em Floripa.

Toca eu desfazer os ditos cujos. Enfia o tênis pouco chamativo nos pés e pronto. Um rolezinho de 42 km. O dia continuava espetacular. Sol, céu azul sem nenhuma nuvem.

Saí da T2 e entrei pelo tapete que passava atrás da "casa dos Blois". Logo o Rafa já estava fazendo festa e o Marcelão do lado, registrando tudo. Achei que iria encontrar o resto do time na esquina da Av. dos Búzios, mas não. Tudo bem. Depois de 21 km encontraria todo mundo.

Difícil não se empolgar nesse começo. Antes do primeiro km, eu já estava adaptado à corrida. Pernas leves, frequencia baixa e 4´30"/km de pace no Garmin......

PARA TUDO!

4´30"/km eu não chegaria em Canasvieiras.

Fui ajustando o ritmo. Passei abaixo de 5´/km os dois nos três primeiros kms. Depois fui chegando no ritmo alvo que era em torno de 5´10"/km.

Quando estava chegando no 5º km, comecei a sentir que faltava força. Acho que um gel a cada 7 kms iria ser pouco. Aguentei até chegar o 6º km e mandei o DELICIOSO Gu de chocolate pra baixo. Caiu bem. Força reestabelecida. Muita água, gatorade.

Nesse momento o Marcos me passou. Pera aí! O que o Marcos estava fazendo atrás de mim?????

Trocamos umas palavras. Ele seguiu.

Perto do km 7 ou 8, a prova vai pra Canasvieiras. Apesar de ser novato na prova, sabia que ali era a hora que o bicho pegava.


A impressão da bike se repetiu. Triatleta é um ser engraçado. Ao ver uma subida, entra em "stand by".

O primeiro morro tinha uns 300m ou menos. A inclinação era equivalente a de uma subida da biologia. Na menor das elevações, no pézinho do morro, vi todo mundo começar a andar.


Eu não vim aqui pra andar, nem por um segundo.

O ritmo caiu muito, é verdade, mas meu pace neste km com subida foi de 5´35"/km.

Depois, uma retinha e uma leve decida. Todo mundo que andou veio babando. Fui ultrapassado.  A paisagem do continente, o mar, uma marina com barcos lá embaixo e um sol de outono. Tudo era facinante. Fiquei admirando aquele quadro, sentindo que eu era um dos caras mais sortudos do mundo. Fazendo um ironman num dia como aquele. O que mais eu poderia querer?

Subida de Canasvieiras. Correndo.
 Pouco depois, uma subida DE VERDADE. A subida que tem uma igreja no topo.

Todo mundo que me passou e alguns outros mais, novamente andando.

Segui meu ritmo, não parei de correr. Subida curta de uns 100m. Depois, todo mundo me passando de novo como alucinados.

Só pra não alongar o que quero dizer com isso, antes do retorno de Canasvieiras, já tinha ultrapassado e despachado todo mundo que anda nas subidas, achando que estão se poupando. Qual a vantagem em se quebrar o ritmo desta forma, andando e depois dando um tiro pra recuperar o tempo perdido?

Nenhuma, e provei isso pra mim mesmo.

Voltei pra Jurerê.

Entrar de volta na av. dos Búzios é emocionante. A galera enche, quase invade as ruas.

Ouço um "vai Daniel" daqui, outro alí. Alguns em castelhano. Respondo, agradeço! Só de lembrar fico arrepiado!

Perto do Campanário (hotel), vejo amigos. A adrenalina sobe.

O Emerson (treinador) grita, ou tenta gritar. Já estava rouco. Pega a bike e vem pedalando do meu lado. Entusiasmado ele fala que eu tô fazendo minha estreia de uma forma espetacular. Com uma matemática que eu não entendi direito, ele disse que se fizesse a segunda metade da maratona em 6´/km, eu faria a prova em 10:30´.

Eu só disse que não precisaria subir meu ritmo pra 6´/km. Iria manter como tinha feito até alí. O relógio marcava um pace médio de 5´13"/km.

Mais a frente o MPR gritando pra todo mundo, como sempre. Ele perguntou como eu estava. Dei uma mentida pra quebrar todo mundo em volta: Estou me sentindo como se tivesse acabado de começar. Ele gritou mais ainda: "TESÃO OUVIR ISSO. TESÃO OUVIR ISSO."

Cheguei no final da avenida e vi toda minha torcida na porta de casa. Bati na mão de cada um. Estava me sentindo muito bem.

A segunda volta seriam 10 km no plano.

Resolvi dar uma poupada, recomendada pelo Emo. Subi o pace pra uns 5´20"/km. Não sei se foi bom. Comecei a sentir um pouco o peso da prova. Cansaço.

Tomei uma pespi. Não caiu bem. Não tomo mais.



Fechei a segunda volta sem falar muito com o pessoal na frente de casa. Só passei por eles com o dedo em riste. Faltava uma volta pra completar a prova. Pra realizar um sonho.

Nada mais poderia dar errado!

Hora de usar todas as reservas. O plano era voltar ao ritmo do início da prova.

A felicidade começava a tomar conta.


Esse era um momento muito esperado. Assim como o momento da largada, imaginei como seria em cada detalhe, o momento da chegada. Achei que também iria estar emocionado, com o sangue italiano fervendo, aos prantos.

Nada. Estava feliz, mas muito concentrado,muito confiante. Corria leve, corria solto, de cabeça erguida.

Tudo passava pela minha cabeça. Sentia uma enorme gratidão por todas as pessoas que fizeram parte dessa longa busca. As madrugadas em pé para treinar. Os longos dias longe da família. Os treinos que de tanta dor, quase chorava...ou às vezes chegava mesmo a chorar, sem ninguém perceber.

Os últimos 5 km foram de intensa "comemoração interna". Um sentimento estranho de querer terminar logo, ainda com o sol como testemunha, mas ao mesmo tempo querendo que nunca acabasse. Que eu pudesse viver dentro daquele sonho por mais tempo.

A av. dos Búzios tem cerca de 3 km. Entrei nela sabendo que faltavam pouco mais de 15 pro fim da prova.

Dois ou três dias antes, fiz uma corrida de 5 km por ela que pareceu demorar uma eternidade. Quando dei por mim, perdido nos meus pensamentos, já estava no hotel Campanário, faltando cerca 1,5 km pra linha de chegada. Mais gente conhecida. Equipe MPR. Gente, muita gente.

Nas minhas imaginações, pensava em chegar já de noite, com as ruas semi vazias.

O cenário era outro. Não cabia mais gente na rua. O sol estava quase se escondendo atrás das montanhas, ainda lá me esperando.

Espera sol. Eu vou chegar!!!

Quem é ironman, sabe o que eu quero dizer com "terminar de dia"!

Passei pelo pórtico que dividia quem iria pra segunda ou terceira voltas e quem iria pra chegada. Eu iria pra chegada.

Cada vez mais cheio de gente, já conseguia ver o topo das tendas onde armaram a cidade do Ironman.

De repente, vi o quarteirão onde ficava a casa dos Blois. Vi a entrada do funil de chegada. Uma onda de calor e felicidade invadiu todo o corpo. Havia gente debruçada nos alambrados. Uma multidão e eu fazia parte de tudo aquilo.

Não tive tempo de procurar minha torcida. Planejei em ir para onde eles estavam e abraçar cada um deles.

Não deu tempo. Em um piscar de olhos, a Vi e a Jujuba apareceram ao meu lado. "Cadê o resto?". Não tive tempo de perguntar. Só pensei.


A Júlia assustou-se com toda a multidão ao redor. Não podia correr o risco de não cruzar a linha com ela. Com elas.

Peguei no colo. Só um braço não iria aguentar os 15 kg. Senti o peso de cada grama destes 15 km. Tinha que segurar com os dois.

Com a Júlia no meu colo e ela de mãos dadas com a Vivi, corremos por uns 200m. Pela primeira vez no dia todo senti fraqueza, como se meus braços e minhas pernas não fossem dar conta do peso extra.

Talvez por isso não consegui olhar tanto pra passarela da chegada. Olhei muito a reação da Júlia. A cara de felicidade da Vi me chamou a atenção.

Olhei em fente, o relógio marcava 10:27' e alguns (muitos) segundos. Cheguei com menos de 10:30'.

Não ouvia nada ao redor.

Consegui ver o Marcelo na arquibancada, filmando, pulando, gritando. Ergui o braço. Comemorei com ele.

A Júlia estava quase caindo do braço. Não aguentava mais correr.

Andei, pela ptimeira vez em mais de 10 horas. Foram poucos passos.
Cheguei embaixo do pórtico de chegada. Contraí o corpo todo. Dei um grito!!!!!!!!!!

MISSÃO CUMPRIDA. MISSÃO COMPRIDA.

Quinze anos imaginando como seria um Ironman. Dois anos efetivamente vivendo ironman todos os dias. Planejando, sonhando, realizando a cada treino.

Emoção? Sim. Sem fim! Choro? Não.

Dei um beijo na filha assustada. Um longo abraço na pessoa que possibilitou a realização de tudo.

Agora, a comemoração era só minha! EU ERA UM IRONMAN daquele momento em diante, até o fim dos meus dias.

Estava inteiro. Perguntaram se eu estava me sentindo bem.

Se eu estava me sentindo bem?

Não me lembro outro dia em 38 anos em que me senti melhor do que na tarde de 29/05/2011, exatamente às 17:30!!!!

Vi gente chegando, caindo e saindo de maca. Eu estava FORTE! Eu estava inteiro. Eu estava com uma fome que nunca tinha sentido na vida.

Os que chegavam iam pra "ala hospitalar", que mais parecia um hospital de guerra ou pra uma tenda refeitório. Adivinha pra onde eu fui?

Eu? Tenda hospital, com um monte de gente suja, num lugar sujo, com gente com coragem pra "tomar um sorinho EV" no meio daquela sujeira toda. Eu sei como as coisas funcionam. Tô fora!

No caminho ouvi meu nome. A Min, minha querida prima, com o Rafa e meus pais. Nesse momento, comemorando com eles à distância, vi minha mãe chorando.

Desabei no alambrado chorando muito. Foi o momento que eu tomei consciência que eu tinha completado a prova. A tal da ficha caiu!

Levantei  e virei as costas antes que eles vissem. Não sei se perceberam meu choro ou se acharam que eu só estava muito cansado.

Nesse momento, antevi o recado que me esperava em casa. O sonho não era só meu.

Cumpri meu objetivo quando quis trazer cada uma destas pessoas comigo. Não só pra me ver, mas pra cruzar a linha de chegada comigo. Pra realizar o sonho "que se sonha junto".
Fui para a tenda. Comi a melhor PIOR pizza de toda minha vida. Uns 4 pedaços. Sorvete, coca, frutas.

Na saída, encontrei o Alcy e a Mari, irmão e namorada do Marcos. Mais do que parceiro, um amigo que fiz nessa jornada. Fui atrás dele na tenda médica. Nada sério. Estava só fazendo massagem.

Aqui ao lado, o fiel retrato do que sentíamos. O Alcy captou o retrato de duas almas lavadas. A própria felicidade fotografada num clique muito feliz. Momentos únicos assim que fazem fotos serem tão especiais. Essa sem dúvida é muito especial e bonita, apesar de protagonizadas por dois caras feios e sujos, depois de correr durante quase metade de um dia todo.  

Claro que faltava o Marquinhos, mas neste momento, ele estava mostrando pra muita gente que não é um leão de treino.

Hora de ir pra casa. O caminho ainda era longo. Check out da bike, sacolas, etc.

Cheguei em casa e fui recebido com um banho de espumante. Frio. Estava muito frio.

Entrei de roupa e tudo no banho, enquanto a família toda entrava no banheiro para conversar comigo.

Fiz muita força para cumprir o que prometi pra mim mesmo. De esperar o último ironman  chegar. Fui pra linha de chegada perto das 11 da noite. Não aguentei esperar. Estava frio. Eu estava muito cansado.

Fui pra casa dormir.

A casa foi um dos grandes diferenciais pra essa semana perfeita que passamos em Jurerê, mas ao mesmo tempo que  localização a cerca de 100m da linha de chegada era uma tranquilidade pra mim que competia, em saber que minha família não precisaria sair de casa pra me ver, tinha também um inconveniente. O som do locutor e da música até o último competidor.

Não me incomodei. Outras pessoas lá fora estavam realizando o mesmo sonho que eu.

Deitei. Dei um longo abraço na Vivi e no lugar do "boa noite", disse um "Obrigado. Por tudo". Por tudo mesmo. Desde o nosso primeiro dia juntos.

Acordei assustado depois de um tempo. Não havia mais barulho. O sono tinha me vencido, sem que eu percebesse.  A prova já tinha acabado. Já era mais de meia noite.

O Ironman já era uma boa recordação! Umas das melhores da minha vida.






segunda-feira, 6 de junho de 2011

Ironman Brasil 2011 - Ride Like the Wind


O assunto ainda é ironman.

Peguei emprestado essa música que fala de um cara que ainda tem um longo caminho pela frente e ele tem que andar como o vento pra chegar no seu destino.

Durante os treinos, numa quinta feira no caminho do trabalho para a USP treinar, esta música tocou no rádio. Fiz um ótimo treino e com a música o tempo todo na cabeça.

O mote é apropriado.

Saí da transição com um pouco de frio. O manguito no bolso. Não coloquei. Iria esquentar, pelo menos esperava que sim.

Passei pela avenida dos Búzios, entrei à direita em uma das ruas e alcancei a estrada. Estava um pouco ansioso.

O começo estava confuso. Cones posicionados no meio do caminho. Não havia espaço pra muita gente. Além disso, havia muito cacos de cones pelo caminho e fiquei com medo de que algum destes furasse meu pneu.

Quando finalmente abriu um caminho maior,  estava com velocidade de uns 35 km/h. Queria manter os 32 Km/h que queria de média final, mas estava bom, não tinha sensação de que estava fazendo força. A frequência era baixa.

Pensei que estava andando com o vento....e não contra ele. Na verdade o vento era fraco....ainda

Quando atingimos a SC-401, vieram as primeiras subidas. A primeira, um aclive leve. Depois uns morros de respeito.

A galera enfiava uma marcha BEEEEMMMMM leve e subiam sentadinhos, comportados. Eu, como sou atrevido, enfiava uma mais pesada e fazia as subidas em pé, passando todo mundo.



OBRIGADO ROMEIROS!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Quem ainda acha que ir pra Romeiros não tem NADA a ver com iron?

Ok, como sou bebêzinho ainda, achei que iria pagar pela minha audácia. Mas não afinei.

Os leões de descida vinham ventando atrás de mim. Na subida, deixava todo mundo pra trás. E nas retas também.

Estava atrevido.

Cheguei na Beira Mar Norte e estava ansioso para ver a ponte. Depois de uma curva, ela apareceu imponente. Fiquei muito feliz em vê-la. Soltei um grito (contido) de felicidade. Agora me sentia em Floripa!



Depois os túneis. Esse era um trecho temido por causa do vento. Por enquanto o vento era amigo. Quando era contra, deixava desenvolver uma velocidade em torno de uns 33 a 34 km/h. À favor, subia pra uns 37 km/h. Estava feliz.



Outra coisa que pegava nesse trecho era a solidão. Não tinha ninguém vendo. O transito era absolutamente fechado para a prova.

Fiquei feliz quando finalmente peguei o caminho de volta para Jurerê.

De repente, numa olhada de leve no relógio pra conferir o tempo total de prova, a surpresa.ESQUECI DE ZERAR A MEMÓRIA. Estava cheia e parou de registrar minha prova...

FDP!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Pedalando, zerei tudo e passei a contar de novo. Saco.

Tudo bem. Nada que fosse estragar meu dia. Corria tudo excepcionalmente bem. Pernas perfeitas.

Duas pessoas passaram por mim e me avisaram que era melhor tomar algum repositor eletrolítico, pois estava com a roupa branca,  o que quer dizer que estava perdendo muito sódio através do suor. Passei a tomar gatorade depois disso. Não queira quebrar cheio de cãimbras no meio da corrida, certo? Fiquei um pouco preocupado, na verdade.

Perto do fim da primeira volta, estava muito apertado pra um "special needs" do tipo 1.

Piadinha infame.

Quem me conhece sabe que sou incapaz de fazer xixi sobre a bike. Tiraram muito sarro de mim por esse motivo.

Pra não pagar o micão de ir num banheiro químico na frente de todos, parei no acostamento e aliviei ali mesmo. Feio, mas necessário.

Fechei a primeira volta em 2:45´.

Ótimo. O vento iria apertar, mas provavelmente ficaria dentro do que eu queria, entre 5:30 e 5:40'.

Passei por pai e mãe empolgados e depois pelo Marcelão, Minhoca e Rafa (irmão, prima e marido, respectivamente). O Rafa alucinado com tudo o que acontecia. Ele também é triatleta e tenho certeza que cedo ou tarde, ele estará alinhado em Jurerê pra uma largada de Ironman.

Não vi a Vi nem a Jujuba. Pela hora, a baixinha deveria estar dormindo.

Fui pra segunda volta afim de dar uma ousadinha. Estava ótimo, não sentia fome, não sentia sede. Só a perda de sódio me preocupava um pouco.

Morros fazendo força. Retas idem. Túneis com vento insano, que impedia que a velocidade sequer se aproximasse de 30 km/h. A volta com vento de cauda, porém, era acima de 40 km/h.

Ainda tinha o receio de pagar pela ousadia de manter a bike sempre entre 35 e 36 km/h.

Não passei apuros. Parei ainda uma segunda vez pra outra "special needs" tipo 1, desta vez num banheiro químico e fui embora.

Apesar de muita gente, não cruzei muitos conhecidos. Fiz a prova quase toda passando ou sendo passado pelo Antônio Pizzonia. Ia fazer uma brincadeirinha com ele, mas achei melhor não, afinal, não é todo dia que um piloto de formula1 é ultrapassado por um mortal....a não ser que ele não estivesse em um carro....e ele não estava.

Outras surpresas: Fui ultrapassado pelo Marcos Vilas Boas perto o km 40 (acho que foi isso, não lembro). Tomei um susto. Emparelhamos, conversamos um pouco e quase fomos penalizados: " ESTÃO MUITO PRÓXIMOS"... disse um fiscal em tom ameaçador. Pensei em justificar que éramos amigos e logo ele iria passar e ir embora. Não ia dar tempo. Falei pro Marcos sair fora logo e ele foi.

Também vi a Cláudia algumas vezes, a Deise Jancar outras. Não vi o Marquinhos ou o Rodrigo. Passei pelo Valter Stoiani no terço final da prova.

O trecho da bike passou muito rápido. Curti as paisagens. Tentei olhar tudo pra guardar na memória, o máximo que podia. Comi a batatinhas assadas com sal, as bananinhas, os yummys, tomei muita água, accelerade, gatorade. Tudo caiu MUITO bem. Não enjoei. Tinha um trunfo para isso....gengibre.  Adoro gengibre. Quando o Dean Karnazes contou que gengibre é ótimo pra enjoo (em provas ou em qualquer outra situação), achei ótimo. Tudo bem que enjoo é causado por hipoglicemia nestes casos, mas tudo bem. Nao precisei usar de qualquer forma.

Ótimo sinal, não estava em hipoglicemia.

Chegando de volta à Jurerê, bati o olho no relógio e vi que tinha boa chance de chegar na T2 por volta da 1:40 da tarde, o que me deixava quatro horas pra completar a maratona e terminar com o tempo alvo de 10:40´de prova (plano A).



Com mais de 170 km nas pernas, me vi fazendo força, muita força. O pensamento martelava:  você vai pagar por isso!!!!!!!!!!

Entrei na Av. Búzios. Chegando perto da casa dos Blois, vi todos sentados na calçada em cadeiras de praia. Soltei um GRITO alto, forte, nada contido....de felicidade e de alívio por ter terminado a bike sem nenhum perrengue. Inteiro e pronto pra correr...e dentro do que eu queria....bike em 5:35'.



Deixei a bike com um staff. Tinha vontade de dar um beijo nela! Não dei.

Ainda fiz uma brincadeira: perguntei onde estavam minhas pernas. Claro que sabia onde estavam. O locutor ouviu e repetiu: "o cara passou perguntando onde estavam as pernas dele". Ia mostrar onde estavam em breve. Só precisava do meu par de tenis.

Tudo perfeito. Agora só dependia de mim pra chegar!



sábado, 4 de junho de 2011

Ironman Brasil 2011 - No Liquidificador

Amanhecer em Jurerê no dia 29/05/2011

Exatamente as 7 horas, uma buzina que parecia a de um transatlântico soou forte e demoradamente. Era a "deixa" que cerca de 1800 pessoas precisavam pra sair correndo pro mar, em direção ao lindo sol que subia.



Dei pela última vez um "boa prova" pro Marquinhos e também saí correndo.

Mas não era qualquer corrida. Era a corrida de uma criança em direção ao presente mais esperado.



A água fria entrava pela costura do zíper da roupa, mas não incomodava. A felicidade era imensa e não cabia em mim. 

Queria começar a nadar. Mas como nadar se eu chorava de soluçar nesse momento?

Três ou quatro braçadas nessa situação, achei melhor me concentrar e me fazer perceber que era hora efetivamente nadar. Com água do lado de dentro dos óculos não iria rolar.

A largada de uma prova de águas abertas não é coisa mais civilizada do mundo. Mas tem gente que exagera.

Se percebo que estou subindo em alguém, tento desviar. Se minha perna está batendo em alguém, procuro diminuir a força da pernada ou até parar. Um calcanhar em algum lugar sensível do rosto pode tirar alguém da prova.

Mas não é todo mundo que pensa assim. Tomei chute, tomei soco, seguraram (e puxaram) minhas pernas, subiram em cima de mim.

É inevitável.

Só torcia pra acabar logo e conseguir um espacinho onde pudesse NADAR.

Nem só com socos e pontapés nada um ironman

Quando finalmente consegui, encaixei um ritmo confortável, sem exageros, mas sem muita moleza.

A cada 7 braçadas, levantava a cabeça pra me orientar. No resto do tempo, pegava um "bode expiatório" pra me orientar lateralmente.

Os treinos tiveram LONGAS séries de cabeça alta. Acho que deu muito certo. Poucas vezes em uma prova de triathlon me senti tão confortável ao levantar a cabeça pra me orientar como nesse início de Ironman.  Já tinha sentido isso no TAIÁthlon.

A água mais gelada se restringia a uma faixa mais perto da praia. Depois a temperatura ficava um pouco mais agradável, mas sinceramente, em nenhum momento achei que estivesse realmente frio. Estava ideal.

A primeira bóia era LONGE pacas!!!!

A chegar nela, bati o olho no relógio: 16'. Ok. Queria por o pé na areia no fim da primeira volta com no máximo 40 minutos. Faltava um pequeno trecho paralelo à praia e depois o retorno. Nesta terceira perna, o retorno à praia para o fim da primeira volta, aconteceu uma coisa muito gratificante. Sentia um enorme prazer em estar nadando. Não queria parar, colocar o pé na areia e depois voltar à nadar. Queria continuar. Estava com um ritmo muito bom.

Quando percebi, estava fazendo força e nadando em um ritmo moderado/ forte, como num tiro em piscina. 

Alcancei a faixa de água mais fria e percebi que já estava perto do fim da primeira volta.

Navegação perfeita. Não tive pressa em ficar de pé e quando minha mão raspou na areia, levantei e estava a poucos passos do início do corredor.

De pé, uma leve tonteira devido ao balanço do mar. Alguns passos andando e já me sentia bem pra uma corridinha. 

Tirei o óculos pra desembaçar e tentar encontrar meu time. Erro...quase fatal!

Meu óculos caiu e a correnteza quase leva embora. Desesperei e já imaginei como seria fazer o resto da natação com lentes de contato e sem óculos de natação. Tudo isso em uma fração de segundo.

Um anjo da guarda percebeu meu movimento, botou a mão na água e saiu com meus óculos nas mãos.

MUITO OBRIGADO!!!!!!!!

Saída da Primeira Perna da Natação - No meio da multidão.

Agora a adrenalina me fez correr mais rápido pelo corredor. Bati o olho no relógio: 35 minutos.

A segunda perna é menor. Sim, conseguiria alcançar o objetivo e ficar dentro do plano A (natação entre 1:00'e 1:05').

Voltei pro mar e vi uma onda relativamente grande no "quebra coco". Opa...esse não era o mar que eu entrei há pouco mais de meia hora.

Nesse momento o staff gritou: "O mar virou! Tá levando pra esquerda (de quem está de pé na areia, olhando o mar). Tá levando pras pedras!!!!!.

Ok. Mirei na primeira bóia e fui embora!

Meu pescoço incomodava muito. Ardia. A proteção com gaze e micropore tinha ido pro espaço. Tentei ajeitar a gola da roupa de borracha, a bandida que me causa assaduras sempre que a uso, mas não teve jeito.

Decidi ignorar a dor. Era isso ou perdia o fio da meada da boa prova que estava fazendo até então.

Cheguei à primeira bóia da segunda volta (terceira bóia) bem rápido. Só faltava um pequeno trecho paralelo e depois a volta à praia.

Estava achando uma delícia nadar, mesmo com a assadura no pescoço.

O último trecho da natação foi o mais difícil. O mar balançava demais. Engoli muita água.

Realmente a correnteza estava levando para as pedras à esquerda da praia (à direita de quem nadava em direção ao P12). Tive a certeza disso quando passei dando o ombro esquerdo à uma bóia metálica de orientação.

Dias antes, no congresso técnico, alguém me disse que deveria passar à esquerda dessa bóia, dando meu ombro direito à ela, nunca o esquerdo.

Agora já era tarde.

Vi algumas pedras à frente. O relógio marcava 59 minutos e faltavam uns 100m.

Caraca, iria fazer um belo tempo.

Botei o pé na areia com 1 hora, 1 minuto e alguns segundos. Uma onde ENORME atrás de mim. Gritei para alertar aos que não tinham percebido.

Estava longe do funil de cronometragem por ter saído muito perto das pedras. Andei um pouco, recuperei a orientação espacial e saí correndo.

Vi primeiro o Rafa. Depois a Lê e o MarcelãoJú no colo. Se fosse algum personagem de video game, nessa hora eu recarreguei TODA minha energia e ganhei uma "vida extra".

Entrando no funil de chegada da natação, `a esquerda.
Entrei no funil, tentei tirar a roupa, mas não consegui. Meu relógio é enorme e atrapalha muito nessas horas. Meu pescoço estava DETONADO! Arranquei o que sobrou do micropore, passei pelo Emerson, gritei alguma coisa. Ele gritou de volta, até meio surpreso por ter me visto, eu acho.

Olhei no relógio sobre o tapete de cronometragem: 1:02:47".

NADEI BEM DEMAIS!!!!!!!!! Fiquei (e ainda estou) muito feliz. 

Deitei pra ser "despido". É quase um estupro.... Tadinha da minha roupa. Toda vez que algum staff me ajuda a tirar a roupa, aparece uma pequena rachadura na cobertura de borracha. Claro que agradeci. Se pudesse dava um abraço no cara, de tão feliz que eu estava.

Passei pelo chuveirinho. Muita gente corria devagar. Queria correr rápido. Queria chegar à tenda.....mas ela caprichosamente NUNCA chegava.

Alguém me disse que a T1 tem cerca de 800m. Cara, é muito longe.

Cheguei, finalmente.

O staff me indicava onde pegar a sacola, mas eu insistia com ele que não era lá que tinha deixado.

De repente percebi que estava tentando pegar minha sacola de corrida....hahahaha. Apressado. Precisava primeiro pedalar.

Peguei, sentei na primeira cadeira livre. Tirei tudo de dentro da sacola. Fui vestindo capacete, óculos, manguito no bolso (já tinha perdido muito tempo até então, não iria perder mais pondo o manguito nos braços), comida extra no bolso do top. Meias eu não quero.

O material de natação na sacola apropriada. Fecha tudo. Dei na mão do primeiro staff na minha frente, agradeci e saí correndo pra pegar a bike.

Já tinha marcado meu corredor. Outro staff saiu em disparada, pegou a bike e me entregou.

Ela estava pesada por causa de tantas garrafas.

Saí da transição, com 5 minutos e 57 segundos. ALTO DEMAIS, mas era realmente longa. Parei sobre a faixa onde estavam pintados 0km de um lado e 180 km do outro.

Era hora de uma voltinha LONGA na minha querida bike.



Até então, missão cumprida. Tudo dentro do planejado e o que é melhor, do plano A.






quinta-feira, 2 de junho de 2011

Ironman Brasil 2011 - O Show Vai Começar

Se dia de triatleta começa cedo, o de um ironman então começa "ontem"!

Coloquei o alarme às 4:30.

A noite foi tranquila, tirando o susto de acordar à meia noite com o teste de som da equipe que terminava a montagem do "circo", com direito à música bate estaca e os intermináveis "ssssssom.....sssssssssom".

Acordei sozinho uns 5 minutos antes da hora prevista. Olhei pela janela do banheiro e vi os staffs recebendo as últimas orientações na área da pintura do corpo. Já tinha movimentação de atletas na rua.

Deu um friozinho na barriga.

Comecei meu ritual, que na verdade já tinha se iniciado ainda na cama, colocando a meia de compressão. Sem pelos nas pernas fica MUITO mais fácil!

Peguei minhas tralhas. Passei vaselina, botei a bermuda, sensor do frequencimetro, top, relógio que passou a noite carregando e por cima de tudo, um agasalho porque estava bem frio.

Quando desci, o macarrãozinho da madrugada já estava ficando pronto. Deu certo na maratona e agora não teria porque não dar de novo. Mandei um pratão de peão! Com fome!

À essa altura, o Marcelão também já estava de pé pra registrar tudo.

Estava achando bem estranha a falta da ansiedade, nervosismo! Estava calmo.

Peguei as sacolas que ainda estavam comigo, chamei o Marcelão, dei tchau pra minha mãe e saí. Sensação esquisita. Só iria voltar depois de sei lá quantas horas fazendo força...

A pintura era a uns 100 m da porta de casa. O movimento ainda era pequeno.

Deixei primeiro as sacolas de percurso (as special needs), sabendo que elas foram montadas para não serem usadas. Não me incomodei nem um pouco com a mudança da regra em relação ao ano passado, quando as sacolas eram dadas aos atletas na metade do percurso, tanto na bike, como na corrida. Este ano, as sacolas seriam posicionadas em pontos intermediários, o que implicaria em mudança de logística.

O que eu fiz?

Peguei minhas tabelas nutricionais, fiz contas e arranjei um jeito de não precisar parar pra nada. Claro que coloquei comida extra, camaras e CO2 extra, mas sabia que se nada extraordinário acontecesse, eu não precisaria usar.

Depois de deixadas as sacolas, fui pintar o corpo: 120 nos dois braços e nas panturrilhas (cobertas pelas meias).

Depois fui para a bike, acomodar o "rango". Claro que não coube.

Capítulo à parte, a nutrição do ironman. Fiz um esquema complexo.

Ninguém em sã consciência come na natação por razões obvias. Além disso, você passa os dias anteriores enchendo todas as células do corpo de carboidrato. Não há necessidade!

Passado a natação, a primeira meia hora da bike seria só água. É necessário dar ao corpo um tempo para a adaptação. Comer logo que se sai da natação é fria!!! Não cai muito bem. É claro que tem uma explicação técnica, mas não vem ao caso.

Com meia hora de bike, o esquema começava: nas "meias horas" comeria bananinha, nas "horas inteiras" as batatas assadas com sal, nos minutos 15 e 45 de cada hora accelerade e a cada 10 minutos água. A mudança das special needs me fizeram abrir mão das bisnaguinhas. Além disso, tinha um "lanchinho" que poderia comer a qualquer momento que eras as balas acidas de gelatina.

Nada era por acaso. Isso em daria por hora, uma média 55g de carbo e cerca de 390 kcal.

Na corrida seria os indefectíveis géis....um a cada 6 km!

Bom, explicado esquema da comida, voltemos à preparação para a prova.

Garrafinhas com accelerade posicionadas (eram 3, somando quase 1,5L), água no aerodrink, sacolas checadas. 

Ainda eram 6 horas. O que fazer? Pô, minha casa fica a poucos passos. Vou voltar pra lá.

Quando cheguei de volta, estava todo mundo de pé. Todo mundo com as camisas que a Vi tinha feito pra mim...e tinham ficado MUITO bonitas. Acho que não era pra ter visto. Eu era o Irondan.

Ter voltado foi a melhor coisa que eu poderia ter feito. Ao chegar ganhei muitos carinhos da Júlia. Ela perguntou se eu tinha tomado café da manhã. Não é o máximo ter sua filha de 3 anos preocupada com você?

Aproveitei para escovar os dentes dela e terminar de colocar roupa nela....tudo muito normal...nem parecia que em menos de 1 hora eu estaria dentro do mar, largando pra um ironman. Com certeza as pessoas dentro daquela casa estavam mais nervosas do que eu.

Fomos juntos até a área de largada. Ainda bem, porque a estação da Sé é pouco pra multidão que se aglomerava no deck no restaurante onde a largada é dada. 



Tiramos fotos do "time" (todos uniformizados) e comecei as despedidas.

Esse é um momento que imaginei muito como seria. Os minutos que antecedem a largada. Achei que fosse estar nervoso, emocionado, com medo. Não estava, ainda.

Meu pai me tirou de lado e tentou me acalmar. Ele é quem precisava. Disse que isso era um hobbie e que  se eu não chegasse ao fim da prova, não faria a menor diferença. Ele realmente temia que não terminasse. 

Olhei pra ele e disse: "Eu VOU terminar", com bastante ênfase no VOU.

Fui pro curral da largada.

Logo encontrei o Marquinhos e a Cláudia. O moleque tava ansioso...hahahaha. Meus batimentos estavam perto de 70 bpm.

O helicóptero já sobrevoava. O locutor falava umas besteiras.

De repente o coração acelerou pela primeira vez. À direita de quem olhava o mar, atrás de dois montes, um vermelhão surgia. Cutuquei o Marquinhos e mostrei o espetáculo que se desenhava. Não sei se ele sentiu a mesma emoção que eu ao ver aquilo, mas ver o sol nascendo trouxe a exata dimensão que o dia estava chegando e com ele o Ironman. 

Um nó quase "cego" se formou na minha garganta. Me segurei muito pra não chorar. É inexplicável a felicidade que eu estava sentindo naquele momento. Queria muito poder ter dividido esse momento com a  minha família, mas naquele momento estava sozinho. Tinha cada um deles dentro de mim, mas não podia abraçar a Vi como eu queria!

Rapidamente o sol crescia atrás dos montes no horizonte. Voltei a ouvir o zum zum zum ao redor. A frequencia já beirava os 90 bpm à essa altura. Meu olhar saiu do campo da freqüência cardíaca e parou no campo que marcava as horas.

6:59

Faltava 1 minuto para  a largada.




quarta-feira, 1 de junho de 2011

Ironman Brasil 2011 - O Sonho Compartilhado (Pré Prova)




Não pretendia dividir em muitas partes ou prolongar muito meu relato, mas vai ser inevitável. Mesmo porque, quero muito guardar muitos detalhes de tudo o que vivi nesses dias.

Hoje, plena quarta feira, com a casa completamente desmontada para a mudança amanhã, depois de uma pizza (sem prato, nem talheres) e com vinho em copo de plástico, vou começar a contar meu Ironman do final.

Cruzada a linha de chegada e vencida todas as etapas até enfim conseguir chegar em casa, fui recebido com esse cartaz, escrito pela minha mãe: Um sonho que se sonha só, é só um sonho. Um sonho que se sonha junto, é uma realidade.

Por muito tempo, meu sonho foi solitário. Muito tempo.

O engraçado é que quando passou a ser compartilhado, ele tornou-se realidade.

Mobilizei a família toda. Pais, irmãos, mesmo um deles morando do outro lado do mundo, prima com marido. 

Algumas baixas no meio do caminho, outras surpresas de última hora. 

O pré prova é sempre de ansiedade, certo? Nem sempre.

Estava inexplicavelmente calmo. Talvez calmo não fosse a palavra certa. Estava confiante.

Não vou ficar descerevendo os dias que antecederam a prova. Vou colocar imagens.

IronCar...LOTADO


A casa em Jurerê, no "quintal" da prova.



Dispensa Legenda
O único grande problema destes dias, foi ver a família toda tomando vinho, comendo bem, enquanto eu ficava enchendo a pança de macarrão!!!!!

Apesar disso, foram dias maravilhosos. Sol nascendo na janela do quarto, com céu azul, sem nenhuma nuvem. Frio, é verdade.

Dias de treinos leves, exceto para alguns que insistiam em se mostrar fazendo força, MUITA força na "passarela dos Buzios". Dias de experiências com câmeras acopladas à bike, de sessões filmagem com equipamento profissional, o mesmo que estava sendo usado pela equipe de filmagem da prova. Dias de se recuperar muito tempo perdido entre a (minha) filha e o tio australiano. 

                 

Dias pré ironman.

Quando finalmente o dia chega, estou tranquilo. Repasso a todo instante as estratégias, os detalhes. Nada escapa. Monto as sacolas, monto a bike e deixo tudo na transição. 

No final do dia 28, a véspera, reuni a família e passo todo o planejamento. Onde e quando vou passar em cada modalidade. Pena que não filmei esse momento. As imagens iriam mostrar o quanto estava confiante.

Não tentei ir dormir às 8 da noite. Mantive toda a rotina. Não tentei mentalizar a prova na hora de dormir. Já tinha feito e refeito isso milhões de vezes nas últimas semanas, nos últimos dias, nas últimas horas.

Deitei, dormi. Minha última noite antes de finalmente virar Ironman.

Simples assim!

Confiança!!!!!

Minha prova já tinha começado!