terça-feira, 23 de novembro de 2010

Nossas Medalhas (Visíveis ou Invisíveis)

Quase todo mundo que faz o que fazemos, não faz por muito mais do que isso aqui:


É difícil pra um simples "mortal" entender que muitas vezes, eu nem sei a minha colocação. Ou então não conseguem entender como eu posso ter ficado feliz sendo o 210º colocado no geral e em 57º na minha categoria!

É difícil compreender que a linha de chegada é a maior conquista, o maior prêmio.

Guardamos nossas medalhas de participação como verdadeiros troféus. Desfilamos de camisetas de provas. Se tiver a palavra finisher então...

Até bem pouco tempo atrás, guardava todos os meus números de participações em provas, desde o longínquo 1993, quando fiz minha primeira prova de biathlon. Eram números de tecido, que molhavam. Alguns ainda estão guardados na casa dos meus pais.

Existem também os troféus indiretos. Por exemplo:


Este LINDO bronzeado, cultivado no último domingo em Pirassununga em quase 5 horas do sol que TODOS os dermatologistas condenam e pessoas com um mínimo de juízo, nunca tomariam. Olha a ironia do negócio: o sol nas minhas costas ficou coberto. Talvez seja solidariedade de classes, como aquela história de médico não cobra de médico; um sol não queima outro sol!

Ou então isto: 


Eu ajudo.

Terminei a prova no domingo e fui tomar um banho (proibido) na piscina da AFA. Ao sentar pra tirar a meia de compressão, uma cãibra ANIMAL na panturrilha esquerda. Trinta segundos, um minuto.... interminável. Amanheci nos dias seguintes com muita dor. Cheguei no trabalho e pedi para que fizessem algumas imagens da perna, pra descartar alguma lesão muscular. Qual não foi minha surpresa ao ver uma alteração no osso (esta área mais brilhante na medular óssea da tíbia, o osso maior), com um nome engraçado: Shin Splints. Está explicada minha "canelinha de vidro", que dói sempre que minha filha resolve bater com algum brinquedo na minha perna!

Ok, nada pra desesperar. Talvez a decisão de abolir o alongamento depois dos treinos nos últimos 6 meses, não tenha sido muito inteligente.

Achei que seria de mau gosto postar fotos de algumas cicatrizes de quedas de bike que tenho, uma no braço e outra na perna. Estas são "medalhas tatuadas", que vão seguir comigo e sempre vão me lembrar que eu sou triatleta.

Esses são os troféus que valem. Os que nos lembram o que somos!

Acho demais ficar em 47º, 69º...e até em 11º, como no último domingo!


segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Adivinha?????? Sim, Relato da Prova em Pirassununga

Long Distance de Pirassununga (distância meio ironman). Minha segunda prova longa.

Não posso considerar isso como uma vasta experiência, mas desta vez estava bem calmo. Estava ansioso, claro. Queria fazer a prova, afinal, a gente se desdobra pra treinar exatamente pra isso. 

Acho também que o fato de ter ido pra Pirassununga só no sábado ajudou bastante pra diminuição daquele stress pré prova. Em Penha cheguei com dias de antecedência. Visitava a feirinha todo dia. Nunca tinha feito uma prova com essa distância. As estratégias de alimentação, ritmo no ciclismo e corrida não tinham sido testadas. Agora já sabia o que esperar. Sabia quando a prova deixava de ser um "passeio" e começava a doer. O que eu não sabia é que iria fazer a prova na filial do INFERNO.

A surpresa boa foi o lago onde a natação é feita. Quando olhei pra ele no dia anterior, pensei: "Pô, vou ter que nadar nisso aí?". Veio à mente a imagem, o cheiro e o gosto da raia da USP.

Quando entrei pra "aquecer", vi que a água era limpa, estava quentinha e tinha gosto de ÁGUA! A braçada rendia. Gostei.

A natação foi boa, ótima. Não saí como um boi de rodeio. Fiquei posicionado no meio da muvuca, mas surpreendentemente com espaço para nadar. Peguei a esteira. Segui um "pé" que estava um pouco mais rápido que eu e fiz uma prova de natação que, ao contrário das últimas, eu não queria que tivesse  terminado logo.

Saí pra transição pensando no que fazer. Não estava tonto, não estava enjoado. Relembrei que eu GOSTO de nadar!

A bike começava com uma subidinha. Vi muita gente caindo no dia anterior, no short distance, principalmente os que calçavam a sapatilha antes, ainda na área de transição, ou então, quem deixava uma relação de marcha pesada, já com o volantão. Deixei uma marcha BEEEEM levinha. Deixei a sapatilha presa no pedal e só ia colocar no pé quando a estrada virasse plana. O que eu não esperava era que um incauto resolvesse cair bem na minha frente. Sorte que tinha os pés livres. O problema é que aterrizei errado com o pé e senti uma dor no dedão. Achei que a unha tinha ido pro saco. Depois, no banho, vi que tinha ralado a ponta do dedão. O que mais incomodou mesmo, foi a pancada que a "região perineal e adjacências" deram na ponta do selim....uhhhhhh. Ainda bem que já tenho pelo menos uma filha!

Passou.

O plano era ver como era o circuito na primeira volta. Em parte cumpri, mas vi que já estava fazendo força. Passei a primeira volta com uma média pouco maior que 34 km/h. Depois as duas voltas seguintes tentaria aumentar essa média e a última trabalharia pra manter, já pensando na corrida. Pedalei forte, sempre "dentro da lei". O engraçado é que fui ultrapassado em um momento e um fiscal veio NERVOSO, falando e gesticulando pra mim e pro cara que tinha me passado e que estava se distanciando. De repente o cara começa a contar...1, 2, 3 ( A Júlia poderia ajudar se ele quisesse...) Quando chegou em 7...ele disse de forma que pudesse entender: "Tá vendo, essa é a distância que você tem que dar, senão é vácuo".... Quase não consegui conter o riso. O vácuo é em segundos ou em metros? De qualquer forma, não estava nem atrás dele. Eu estava na direita e o cara na esquerda. Agradeci a explicação do fiscal e ele foi embora.

Comi minhas bananinhas de Paraibuna, minhas minhocas ácidas com açúcar (yummys), os géis (arghhh) e as amêndoas. Essas caíram pesado no final da etapa.

Na última volta da bike o sol abriu forte. O tempo começava a ficar abafado como na tarde anterior! Depois fiquei sabendo que o termômetro do carro chegou a marcar 38ºC durante a prova.

Saí pra correr com um ritmo que vinha fazendo nos treinos, pra fechar a meia maratona em 1:41' ou perto disso. No 5º km, o negócio pesou! Entrei num trecho aberto, sem sombra, quente, sem vento. Depois um trecho de terra e barro, por causa da chuva do dia anterior. Em uma dessas poças tropecei na vegetação na beira da estrada e fui pro chão. A segunda volta foi sofrida. Muito quente. Estava no limite.

Sei que é sofrido para as "meninas", mas vê-las durante a prova é muito bom. Dá uma força incrível, principalmente quando as coisas são difíceis e olha que Pirassununga FOI DIFÍCIL.

Consegui alcançar minha meta. Fiz abaixo das 5 horas. Sei que poderia ter corrido um pouco melhor, mas talvez 1 ou 2 minutos, nada muito abaixo disso! Fiz uma EXCELENTE prova, dentro das minhas possibilidades.

Natação (1900m): 32'08"
T1: 2'46"
Bike (90 Km): 2:33'04"
T2: 2'07"
Corrida (21 km): 1:44'21"

TOTAL: 4:54'29"

Foto de "profissa"da Vi (Dá pra tirar essa KOMBI com o photoshop???)

O final de semana:

- Na largada, conversando com o Marquinhos sobre o jantar de massas (que ele não foi): "Só a Cláudia mesmo pra achar um rodízio de massas em Pirassununga. O que ela não acha?". Realmente é impressionante. Em Penha, o nervosismo tomava conta. Em Pira, conversamos, rimos, tiramos fotos. Grande parte disso é mérito dela!

A galera (foto cedida pela Cláudia)

- O tal jantar de massas foi muito legal. Agora, o ponto a ser destacado é a paciência e a facilidade do Martim, filho da Cláudia, com crianças menores que ele. A Júlia ficou encantada com ele! Esse moleque promete! Mamães, segurem suas filhas...hahahahah!


- Faço parte da ELITE do triathlon. Se não como atleta, pelo menos como amigo dos atletas: Cláudia 1ª na categoria, na primeira prova depois de "dias" de uma artroscopia do ombro; e Thelma terceira colocada no GERAL! Isso sem contar o Marcos e Pedro que foram pro campeonato mundial de meio ironman em clearwater! Pode parecer besteira, mas a convivência com essas pessoas dá muita motivação. O resultado disso, não preciso nem dizer.
(NOTA: - Apesar do post já publicado e lido por bastante gente, cometi uma grande injustiça de não ter citado outras duas pessoas e quero corrigi-la. Por isso, esse adendo: A "minha elite" não estaria completa sem essas duas pessoas - A Julinha, que aparece na foto da largada à minha direita, ficou em 3º na categoria. O Marquinhos (de top branco e bermuda azul) teve problemas durante a prova, mas terminou bravamente. Ele e o Marcos Vilas Bôas são grandes parceiros de treino e responsáveis diretos pela minha melhora no pedal! Não desanima. Vamos buscar nossos objetivos!)

- Sou todo ERRADO. Faço tudo o que não recomendam. Em Penha experimentei a alimentação  NA prova. Em Pira resolvi experimentar a meia de compressão, sem nunca antes ter usado. Aliás, era crítico quanto ao uso delas. Como em medicina o que é certo hoje pode não ser o certo amanhã (e vice-versa), não vou ficar constrangido em ter que adimitir que errei. Não sei se realmente existe algo cientificamente provado sobre melhora de desempenho, etc, etc..., mas a sensação de se correr com elas é boa! Isso é o que basta! Mas fica feio.......e engraçado!

- Por último, um agradecimento especial: Osvaldinho, conhecido por vovOsvaldinho, da inesquecível equipe Patolinos. A galera ainda vai ouvir falar desse cara. Ele foi pra Pira no sábado e no domingo, acompanhou toda a prova, torceu, apoiou e fez uma espécie de laboratório pra uma puta ideia que ele teve. Vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance pra colaborar como puder!

Mais uma meta batida! Vou fazer Santos daqui a algumas semanas, mas meu ano esportivo acabou com Pira! 


Estou muito feliz e realizado (por enquanto)!


sexta-feira, 19 de novembro de 2010

"Causos" de Pirassununga

Uma sugestão da Cláudia é mais que um pedido, é uma ordem!

Então, lá do fundo do baú, vamos resgatar mais lembranças sobre minha experiência militar.

O "universo" militar é constituído de particularidades: o clima é sempre de guerra iminente, tudo é baseado em hierarquias e hierarquizações, o linguajar é característico, quase um dialeto. Por exemplo, qualquer atribuição, por mais corriqueira que seja, é uma missão; aula é instrução. Esqueça A de amor, B de bola, C de casa....A de alfa, B de Beta, C de Charlie, D de delta e assim vai.

Como eu disse no post anterior, o fim da "instrução" militar (os dois meses nos quais o básico do BÁSICO do treinamento militar seria passado à um bando de moleques e dondocas recém formados - essa é a imagem deles sobre as pessoas nas condições em que eu me encontrava naquela época) previa uma "missão" à Pirassununga. Lá, além de mostrar aos "estrelados" nosso aprendizado como soldados, teríamos algumas aulas complementares sobre como montar guarda em uma operação de guerra, técnicas de sobrevivência na selva, até alguns requintes de crueldade como o tratamento a prisioneiros de guerra.

Os preparativos para essa missão incluía uma certa tortura psicológica: a todo momento éramos lembrados que lá, seríamos o "cocô do cavalo do bandido". Se entramos na Força como aspirantes à oficiais, e por isso, com ascendência sobre todos as patentes menores, como soldados, cabos, sargentos e suboficiais, nesta missão, TODOS eram instrutores (alguns instrutores seriam soldados ou quaisquer outros militares com patentes menores às nossas) e por isso, alguns iriam à forra. Iriam tirar o recalque. E BOTA RECALQUE NISSO!

Era uma quarta feira. Todos com caras de assustados com as mochilas, fuzis com baioneta e capacete PESADÍSSIMO sobre as cabeças. Claro, além de camuflado e coturno, num calor de final de março. Esse seria nosso figurino para os próximos 3 dias. A volta era prevista para sexta, mas nada era dado como certo..."portanto, avisem os papais e mamães que não sabem quando voltam....OU SE VOLTAM".

O tempero de tudo isso chamava-se C-130, mais conhecido como Hércules. Um avião militar enorme, com asa alta, quadriélice (nenhuma delas poderiam estar em sincronia, ou então o avião cairia, segundo as intimidações pré voo), muito usado em transporte de tropas, paraquedistas ou cargas.

Muitos estavam com medo do acampamento, outros muitos com medo do avião. Eu estava morrendo de medo de me estourar todo e não conseguir fazer a etapa do Troféu Brasil de Triathlon, que aconteceria no domingo daquela semana, em Santos.

E fomos pro acampamento!

E não foi NADA parecido com os acampamentos no Rancho Ranieri, que eu fazia com a escola!

Saímos do avião, fomos divididos em 2 ou 3 pelotões (sem bikes), cada um com líderes que, dependendo do desempenho em comandar a tropa, seria trocado pelos comandantes da operação.

Foram entregues 3 sacos, com lonas, ferros, ferramentas. Eram barracas! Não eram iglus. Não tinham manual de instrução!

Horas pra se montar as tais barracas!

Terminado isso, Ordem Unida, agora com fuzis: APRESENTAR ARMAS, DESCANSAR ARMAS....horas de pé. 

A noite caía e nada de considerarem apresentável o que viam! Não me lembro de ter comido. Fomos dispensados para dormir por volta das 2 da manhã, mas com a obrigação de montar guarda permanente em volta das barracas. O inimigo estava por toda parte.

Às 5 da manhã do dia seguinte, uma série de morteiros são detonados atrás da barraca. A guarda completamente ineficiente não percebeu! Acordei SURDO!

Num pequeno lapso de bondade, foi-nos oferecido um café da manhã com a recomendação: "COMAM, SEM EXAGEROS, MAS COMAM. NINGUÉM SABE QUANDO OU SE VAI TER COMIDA DE AGORA EM DIANTE".

E estávamos todos em fila, preparados para a "volta ao mundo" (como eles chamavam o caminho até a área de acampamento). Horas andando no sol de rachar, com mochila nas costas, capacete na cabeça e fuzil na mão. Não era um caminhar relaxado. Era um caminha militar, quase uma marcha. À todo momento existia o risco de ataque inimigo e, desta forma, precisávamos nos entrincheirar quando era dado o alerta!

Depois de 6 a 7 horas andando assim, a sede era insuportável. De vez em quando nos reuniam e davam um copo que era pra ser dividido em 20, 30 pessoas. O último tomava a baba de todos os outros!

Antes de chegarmos ao acampamento propriamente dito, algumas "instruções" (aulas) no meio do caminho. Como éramos filhinhos de papai, não éramos obrigado, mas quem quisesse, poderia experimentar bigatos (larvas que crescem em madeira) e outras coisas relacionadas à sobrevivência na selva! 

Vou te dizer que em nenhum treino ou prova até hoje senti tanto stress, cansaço ou sede! A famosa frase PEDE PRA SAIR não existia, mas a todo segundo era repetido o equivalente "PEDE DESLIGAMENTO 06. PEDE DESLIGAMENTO". E aquela cena do durão, chorando e pedindo pra sair...acontece mesmo! Os que mais falam que vão "fazer e acontecer" durante as aulas teóricas, são os mais visados...e sim, conseguem tirar essas pessoas do sério!

Depois que terminou essa primeira parte, aliviou. No acampamento, serviram UM PUTA almoço! Esqueçam lavagem com vômito do Tropa de Elite. Comida BOA de verdade...claro, éramos aspirantes a oficiais, filhinhos de papai!

A noite caiu. Banho com tempo contadíssimo. Obrigatório fazer a barba. Jantar. Aprendemos a mexer com granadas. Aprendemos como proceder com prisioneiros de guerra e acredite, não é NADA legal ser um deles! Aprendemos a montar uma guarda eficiente e, com a noite alta e notícias de um lobo guará rondando o acampamento, testemunhei o céu estrelado mais bonito que já vi (e olha que meus pais tiveram sítio em uma área afastada de Ibiúna até bem pouco tempo atrás),

A manhã do dia seguinte veio! Como líder eficiente do meu pelotão, escolhido no meio da tarde do dia anterior e não mais destituído (os caras rachavam o bico das broncas que eu dava na minha tropa), fui premiado com a volta de todos para o refeitório da base (fora da área de acampamento) em caminhões. Ninguém aguentava andar de volta. Aí que percebi que estávamos do lado da base aérea. A tal "volta ao mundo" era realmente uma bela volta pelo caminho mais longo pra se chegar no lugar pretendido.

O retorno a Sampa, já disse - de ônibus, infelizmente. Teríamos que cruzar a marginal Tietê em direção à Guarulhos em pleno horário de rush. Todo mundo largado, deitado no corredor do ônibus. 

Não consegui forças pra ir à formatura do meu irmão. Estava eu "meio limpo", desmaiado no sofá da sala de televisão da (então) minha casa. Nem lembro dos meus pais ou irmãos chegando aquele dia.

Foi legal. Um mundo à parte, do qual com certeza eu não me encaixaria nunca, mas como experiência foi bem interessante.

Consegui ir pra Santos no dia seguinte (um sábado). Lembro de ter feito a prova, mas realmente não lembro do desempenho. Claro que não deve ter sido dos melhores.



terça-feira, 16 de novembro de 2010

Academia da Força Aérea - Pirassununga


Sábado agora, dia 20/11 eu vou pra Pira, fazer o Triathlon Long Distance naquela cidade, dentro da academia da Força Aérea. 

Será meu segundo meio iron; o primeiro lá em Pira, prova tradicional.  Apesar disso, vai ser em um cenário já conhecido! 

Acredite ou não, eu estou na foto acima. Acho que era o nº6 (sabe o negócio de chamar o cara pelo nº, popularizado pelo Tropa de Elite? É assim mesmo!)

Mas o que eu estava fazendo alí?

Bom. Todos os formando na área da saúde (médicos, dentistas, veterinários, farmacêuticos) são automaticamente realistados, homens e mulheres! 

Eu estava meio de saco cheio. Os dois últimos anos da faculdade (o internato) são MUITO cansativos. Meus últimos 6 meses antes da formatura foram de estudo insano para a prova de residência. A especialidade que eu havia escolhido (radiologia) era uma das mais concorridas e neste caso, não existia uma segunda chance! Não passou na prova, não tem cursinho no ano seguinte! Vai ter que se virar, dar plantões em PS de periferia, etc.

Minha decisão por passar um ano na aeronáutica voluntariamente, quase matou meu pai de susto. Geração traumatizada pelos governos militares, movimento estudantil perseguido, etc, etc.

Mas o que ele tinha dificuldade para entender é que eu não queria fazer parte dos porões da ditadura. Não queria virar "milico" como ele dizia! Queria sossego, trabalhar meio período. Queria ganhar mais que o dobro do que ganharia como residente,  sem plantões noturnos.

Claro, tudo isso só faria sentido se passasse na prova de residência e pudesse trancar minha matrícula para o ano seguinte! E poderia, desde que passasse na prova (vestibular é fichinha perto disso).

O ano de 1998 começou em Floripa e começou MUITO movimentado. 

Voltando do surf na Praia Mole, fomos recebidos (eu e amigos da faculdade) no portão da casa onde estávamos com a notícia que todos havíamos passado na prova de residência da Santa Casa, inclusive eu, o caso mais difícil por causa da concorrência! 

Poucos dias depois, duas porradas: a morte do meu avô, por metástase de melanoma  e da namorada do meu irmão Marcelo, de leucemia!

Enfim...

Começava meu ano de aeronáutica! Dois meses de ordem unida. Fui aprender a ser "milico". 

O fim do treinamento era um acampamento na Academia da Força Aérea! Saímos da Base Aérea de Cumbica (na mesma estrada que alguns pedalam) com o C-130 aí da foto, parecendo um carregamento humano. O avião não tem acentos. Fomos no chão, mas apesar do desconforto, o bichão voa suave. Chegamos à Pira no meio da tarde!

Foram 3 dias insanos, cruéis! Acho que nunca fiquei tão cansado na minha vida. A volta, de ônibus, foi engraçada! O pessoal se espalhou no corredor do ônibus para dormir! Perdi a formatura do meu irmão na FAU-USP porque cheguei em casa e desabei no sofá, de camuflado e coturno!

Depois disso, cada um foi para uma unidade ou hospital da aeronáutica, exercer o que sabia (ou achava que sabia): a medicina.

E olha, sabe aquele ditado que diz: se cobrir é circo, se cercar é hospício! Mais ou menos isso mesmo.

Depois de 1 ano, dei baixa na aeronáutica, saí como segundo tenente médico, coisa que só me foi útil poucas vezes, quando fui parado em batidas policiais. Depois fui roubado e perdi minha identidade funcional, sem direito à segunda via. Carteirada nunca mais...rsrsrsrsr. 

Fiz minha residência. Não virei "milico". Nisso,  lá se vão 12 anos!




Estou prestes a voltar pra AFA. Desta vez, meu avião não vai ser um Hércules (C-130). Quero voar baixo, com minha super bike!


quarta-feira, 10 de novembro de 2010

200 Dias

Às 7 horas da manhã, no dia do meu aniversário de 38 anos, o contador mostra o tempo que falta pro Ironman Brasil 2011.

200 dias.

opa, agora já são 199 dias, 23 horas, 59 segundos...

xi, 199 dias, 23 horas, 58 segundos....

caraca....199 dias, 23 horas, 57 segundos....

O tempo corre...


melhor....VOA!




terça-feira, 9 de novembro de 2010

Day Off


... do trabalho!

Interessante. 

Hoje não foi difícil sair da cama às 4:40 da manhã. 

Talvez pelo calor dos últimos dias aqui em São Paulo, ou ainda, talvez porque é o segundo dia seguido que vou pra cama às 10 da noite.

Fiz meu treino de bike, aliás, fiz quase 10 km a mais o que dizia minha planilha, com um tipo de série que pouca gente gosta, um contra-relógio de 20 km, sozinho, sem o pelotão (o MPR em pessoa chegou lá e mudou TODO o treino, mas não pude fazer tudo o que ele queria, então fiz um meio termo entre o que disse o CHEFE e o que disse meu treinador e pupilo do CHEFE, o Emerson Gomes, que aparentemente está de férias).

Saí de lá, quase sem pressa. Às 8 horas tinha que levar o carro para a revisão. 

Feito isso, fui pra casa e decidi ir nadar. Como estava sem carro, fui à pé.

E lá fui eu pelas ruas da City Lapa, um bairro aqui em Sampa estritamente residencial, muito arborizado, em direção à academia, no meio de uma manhã de muito sol, calor, céu azul. Apenas de camiseta, bermuda, chinelo, mochila pequena e óculos escuro.

Fui prestando atenção nas casas, nas pessoas, no movimento....enfim, em tudo o que não dá pra ver quando estamos de carro. Mesmo porque, quando nos vestimos com nossos carros, mudamos a forma de encarar o mundo. Pra BEM pior!

Vi que existe um mundo totalmente diferente do mundo onde eu vivo. O meu mundo me faz acordar às 5 da matina pra trabalhar. Tranca-me em um lugar fechado e sem janelas durante 6 a 10, até 12 horas todos os dias, com rotina estressante, relações pessoais estressantes, decisões estressantes.

Um trajeto de cerca de 4 km, com pessoas caminhando, conversando em frente aos portões das casas, passeando com cachorros, trabalhando também. Tudo isso em quase 1 hora, sem muita pressa de chegar.

Academia, treino de natação com água muito boa, até geladinha, o que é de se estranhar para uma academia. Treino "sussa" em fase de "polimento" pra Pira, que se aproxima. Depois, almoço por lá mesmo e novamente caminhada para casa. Desta vez pelo caminho mais curto, pra dar tempo de ir pro Pilates e ainda pegar o carro no final da tarde.

Dá vontade de deixar o carro na revisão todos os dias....quer dizer, não dá não....de repente um golpe de realidade e a conta da concessionária.

Ainda não dá pra levar vida de aposentado e nem de milionário.

Mas não seria NADA mal!



P.S.: Cheguei à conclusão que o que cansa MESMO nessa vida de treinos, triathlon, trabalho, família.....é TRABALHAR! O resto, dá pra tirar de letra!

sábado, 6 de novembro de 2010

Show de Rock n' Roll


Tentei voltar ao foco (odeio essa palavra usada nesse sentido, parece jogador ou técnico de futebol tentando falar difícil) original, mas a vida é muito mais que treinos e provas.

Ontem (05/11) fui a um show que confesso, nunca esperei que fosse ver na vida.


Antes de mais nada, um desabafo, ainda adrenado pelo que vi e o que ouvi ontem:

POSER, HAIR METAL, GLAM METAL É O CARALHO!

O que eu vi e ouvi ontem foram 5 músicos espetaculares (nem precisa falar, mas eu vou falar, com um dos melhores guitarristas que existem no rock and roll, John Norum), num show limpo, empolgante, sem frescura e sem nenhum artifício pra desviar a atenção da performance deles e da música que eles estavam tocando.

Fiquei pensando: como uma banda dessas toca pra menos de 2000 pessoas enquanto um Black Eyed Peas, cujo MAIOR atrativo é a vocalista, mas não exatamente pelo que ela canta e sim pelo que ela aparenta (nesse quesito ela é sim espetacular), toca num Morumbi lotado (toca????? será que o verbo é esse mesmo? NÃO GOSTO DE MÚSICA ELETRÔNICA DE NENHUM TIPO). Enfim, gosto é que nem....bom, já sabem!

Pior, como uma banda dessas tem esse estigma que no mundo do rock é depreciativo: POSER, hair metal e outras babaquices rotulantes. 

Rótulo é (MUITO) legal em uma garrafa de vinho!

Então, um pouquinho de conhecimento pra iluminar a ignorância de quem joga a pedra antes de saber o motivo.

Ouvi Europe pela primeira vez no verão de 87. O som era (claro) The Final Countdown e tocava no último volume em um carro, no meio do agito em uma sorveteria na praia! É impossível ser indiferente a esse riff de teclado. É genial, é espetacular (mais espetacular ainda é o solo de guitarra dessa música, mas isso eu só fui descobrir bem depois).

Virei fã. Comprei o bolachão, depois CD. Comprei todos os CD's que encontrei deles depois disso. 

O engraçado, como diria uma antiga professora de história, depois do auge, sempre vem a decadência. A decadência deles foi o próprio caminho para o auge!

Quem taxa os caras de poser, não conhece o trabalho deles antes do The Final Countdown (1986), que foi o 3º disco. Nesse disco, muita coisa mudou na trajetória dos caras: Como a grande maioria das bandas de rock da época, o caras passaram a usar roupas estranhas; Cabelos....compridos e armados (hair metal), Maquiagem. 

No caso específico do Europe, por causa da FORÇA do riff do teclado da música The Final Countdown, esse passou a ser o instrumento dominante, apagando a guitarra que era o pilar que sustentava o som da banda até então. Descontente com esse caminho, Norum ("O" guitarrista) caiu fora antes da banda entrar em turnê pra divulgar o que seria o início do sucesso mundial da banda, no início de 1987, iniciando uma excelente carreira solo (quem quiser ouvir um resumão dessa fase dele, Face it Live, de 1997, ao vivo).

O cara que entrou no lugar dele, o Kee Marcello é tão bom quanto, mas com estilo e técnica diferentes e principalmente mais maleável por não ser membro original da banda, permitindo que entrassem num período comercial, dando pilha pra quem acha que hard rock é um "heavy metal gay".

A banda acabou em meados dos anos 90, época do grunge!

Na virada dos anos 1999/ 2000 (erradamente chamada de virada do século), os caras se reuniram no país deles, a Suécia e fizeram um show histórico, tocando The Final Countdown (link pro youtube nome da música) numa temperatura CONGELANTE, ao ar livre, com os dois guitarristas, Norum à direita do palco e Marcello, à esquerda, com gorro e óculos.

O caminho para a volta estava aberto. E a volta foi triunfante (pra quem é fã, como eu). Começou meio que timidamente com um disco chamado Start From the Dark (título bem apropriado) em 2004 e veio com força total com Secret Society, em 2006. Esse último, um disco com a cara do Norum, sem concessões!

Então, pra quem tem coragem e não tem PREconceitos, indicações pra se conhecer o Europe, além das baladinhas e dos riffs de teclados:

Europe - 1983
Wings of Tomorrow - 1984
Secret Society - 2006

O último disco lançado, Last Look at Eden (2009) volta a ter mais teclado, mas tudo em harmonia. Destaque para a última música, In My Time (também com link pro youtube no nome da música),  um blues tipo Gary Moore, feito pra esposa do Norum que morreu recentemente de câncer. O som da guitarra é um lamento durante toda a música e o último solo (nos 2 minutos finais), a explosão de fúria em forma de tristeza, no solo mais bonito que eu já vi!

E pra quem chegou até aqui neste post, um pouco do que foi Europe ao vivo em SP, filmado por mim mesmo, com o celular (reclamações sobre qualidade do audio e vídeo com o titio Steve Jobs)




E claro, o solo do Norum, ESPETACULAR!

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Sonho doido, Prova doída!



Todo mundo sabe, ou pelo menos já ouviu falar que o sono tem um papel muito importante nas nossas vidas. 

Enquanto dormimos, "organizamos" as situações vivenciadas, consolidamos aprendizados e pra quem ainda está nessa feliz fase da vida, até crescemos de tamanho (nada contra meus 1,70m e muito menos contra meus 38 anos a serem completados brevemente, idade na qual não costumamos crescer há MUITO tempo, pelo menos pra cima).

Isto significa dizer que, enquanto todo o corpo descansa, uma parte vital trabalha com força....a cabeça, o "CÉLEBRO".

Minha filha falou muito durante esta noite. Se acordada ainda é difícil entender tudo o que ela tenta dizer, imagina dormindo. Dava pra pescar um "papai" aqui, uma "mamãe" ali, mas infelizmente não dava pra saber o que se passava dentro da cabecinha agitada de uma criança de 2 anos.

Eu também tive um sonho muito agitado e muito engraçado (pelo menos eu achei) e esse post é sobre isso.

Sonhei que estava fazendo a prova pra qual estou me preparando atualmente, o Long Distance de Pirassununga (distância meio ironman).

O que tem de engraçado nisso? As transições.

Antes, deixa eu explicar rapidamente uma das minhas funções como médico radiologista.

Além de ficar sentado, de frente pra um negatoscópio cheio de filmes, um computador e um telefone que não para de tocar, também ponho a "mão na massa". Faço punções articulares pra injeção de contraste pra um tipo de exame de ressonância chamado artrorressonância, pedido por ortopedistas em determinadas situações. Não é um exame MUITO agradável, afinal a agulha tem que ser longa o suficiente pra se chegar dentro do ombro ou do quadril, por exemplo (pra quem tiver acostumado, uso um Gelco 18).

Beleza....voltando ao sonho: as transições desta prova incluíam punções articulares.....cada um na prova tinha que sentar numa cadeira parecida com aquelas para doação de sangue e com uma AGULHA ENORME, tinham que espetar os próprios ombros, sob pena de acrescentar 5 minutos no tempo final pra quem não conseguisse.

Meu sonho terminava na linha de chegada, puto da vida por ver que apesar de ter feito tudo certinho, fiquei atrás de todo mundo que não tinha conseguido se espetar. A dor era tanta, que perdi mais tempo que a punição imposta pra quem não tinha se "auto flagelado".

Sonho doido (e doído)!

Interpretações: 

1 - a prova já tá no meu radar!
2 - preciso de férias!

O legal é que lembrei do sonho entrando na sala de exames pra um procedimento destes. Contei pra auxiliar de sala e pro técnico da tomo que estavam me auxiliando. Quase caíram no chão de dar risada!

E que venha Pira, sem agulhas por favor!