Hoje, ao fim do que eu considerei como último treino para o Ironman, eu comemorei com um grito. Tá certo que a rua estava deserta e se alguém por um acaso ouviu, deve ter pensado que melhorei alguma marca ou então que era doido mesmo.
Mas não fiquei doido. Muita gente acha que sim: meus pais, minha esposa, colegas de trabalho. Mas acho que não.
Tenho muito pra comemorar.
O que vou dizer aqui não é grande novidade pra quem já leu alguns posts deste blog, mas são coisas que julgo importantes neste processo.
Há exatos 2 anos coloquei na cabeça que era a hora. Desde então, não tive um dia que não tenha pensado em Ironman.
Dois anos que tudo conspirou à favor. Talvez se adiasse para 2012, não teria a mesma estabilidade e tranquilidade para ocupar grande parte do meu tempo com o Ironman. Algumas mudanças estão em curso no trabalho e talvez as coisas não continuem tão calmas como foram nos últimos anos.
Em maio de 2009, gostaria de correr bem uma meia maratona. Consegui fazer duas com tempos bem razoáveis.
Em maio de 2010 foi a hora de matar o trauma da maratona. Não fui muito confiante e tracei metas nada ambiciosas. Treinei guiado por elas e fiz o que me propus a fazer, afinal a maratona em si não era o objetivo.
Desde maio de 2010 mudei de ares. Com muita dor no coração mudei de assessoria, deixando muitos amigos e parceiros de anos, muitos anos. Mais tarde eu vi que não deixei ninguém pra trás. Fiz o certo e busquei o que achava que seria o melhor.
Fiz novas amizades. Respirei triathlon da fonte. Estou sendo treinado por um cara (Emerson Gomes) que quando eu comecei a fazer esse esporte em 95, brigava pelas primeiras posições no profissional. Um cara que representou o Brasil no circuito mundial. Existem críticas, claro. A principal é que os treinos são meio "em série". Pessoas diferentes e com objetivos diferentes fazem, via de regra, o mesmo tipo de treino. Mas como dar um tratamento individualizado numa estrutura tão grande? É difícil. No frigir dos ovos, funcionou muito bem pra mim e superei muitas metas. Várias vezes me vi refazendo os planos por perceber que eu poderia fazer mais e melhor.
O início de 2011 trouxe o início do ciclo específico. Os volumes não subiram de cara. Talvez o início real tenha sido logo depois do Internacional de Santos, mas até como uma preparação psicológica, coloquei na cabeça que seriam 20 semanas.
Todos dizem que um ironman se faz de muita força de vontade e de alguns sacrifícios. Essa é uma palavra forte.
Sim, deixei de fazer algumas coisas com as quais estava acostumado.
Há um ano gastava algum tempo e dinheiro pesquisando e comprando vinhos, que tomava sempre às sextas feiras, como um ritual de começo de fim de semana. A adega desde então não recebeu nenhuma novidade. Vem esvaziando em um ritmo lento, muito lento.
Não gosto de doces, a não ser de chocolate. Posso contar nos dedos os dias que comi, mesmo com a Páscoa recentemente.
Mudei muito a rotina da casa. Até a Júlia come arroz integral vez ou outra. Sem contar horários, principalmente aos finais de semana.
Quer saber? Valeu cada segundo de esforço, cada gota de suor.
O meu grito de comemoração hoje cedo foi de agradecimento (acho que pra mim mesmo) pela forma física que me encontro, pela renovação no círculo de amizades, pelo exemplo que eu quero dar à minha filha (alguém conhece uma criança de quase 3 anos que sabe exatamente o que é o Ironman ou então uma prova de triathlon?) e principalmente por ter alcançado o meu objetivo. Muita gente vai pensar que eu estou sendo arrogante, afinal nem completei o que me propus a completar.
Não?
Então vamos lá: Desde 01/01/2011....ou seja, só este ano, eu...
Nadei: 135 km
Pedalei: 4150 km
Corri: 870 km
Meus treinos tiveram essa cara:
As semanas com menores volumes coincidem com provas que fiz. De resto, foi uma crescente de volume, determinação, dedicação, vontade.
Esta vigésima semana já foi bem suave. Sim, dá uma sensação de "amolecimento", mas o descanso que isso proporciona, fez com que eu percebesse o quanto eu melhorei. Mesmo a velocidade, tão pouco priorizada, melhorou e me fez correr tiros de 1 km, uma sessão inteira deles, abaixo da marca psicológica de 4'/km, ou então melhorar tempos da natação em mais de 30 segundos em séries de 300m (comparado ao meio do ciclo).
Estou confiante e estou extremamente feliz por chegar até aqui com a sensação de dever cumprido.
Muito se diz e é até um clichê no meio, que "o difícil é o treino. O dia é uma festa" e que a adrenalina e a felicidade te levam do tiro de largada à linha de chegada. Claro que o medo de não completar existe. Muita coisa pode acontecer, mas sinceramente, não posso pensar no que não me deixaria cruzar a linha de chegada. Posso sim fazer de tudo para evitar situações que me façam fracassar.
O treino é o principal. Fiz seguramente mais de 95% de tudo que me foi proposto.
O material está todo revisado.
Vou pedalar com muita atenção, evitando aglomerações, em primeiro lugar porque o vácuo é proibido e seguindo tudo o que aprendi nos treinos. Só de treinos realmente longos, foram três...um de 180km, outro de 185 km e um de 190 km.
Vou correr como um maratonista, como me ordenou o mestre Cláudio Castilho. Ou seja, nada de amarelar. O "urso do ironman" não existe. O que existe é planejamento e execução de ritmo de prova, de alimentação.
E como diz o Bob Esponja: "Quem está pronto? EU ESTOU PRONTO".
O próximo post, vai ser direto de Ironland!
Enfim chegou. Já tô com saudades.
Meu muito obrigado pra quem veio até aqui comigo. Torçam muito por uma boa prova, não só minha, mas de todos os 2000 homens e mulheres de ferro que tenho certeza, acordam, comem, trabalham, convivem e cuidam da família pensando em triathlon, em Ironman.
Essas pessoas fazem deste esporte uma enorme paixão. Um sentimento difícil de entender e de explicar.
Log da Semana: 155 km em cerca de 7 horas de treinos.
Faltam SEIS dias.