Acho que aos poucos estou fugindo do objetivo primário do blog, mas prometo resgatar em breve o mote original.
Algumas coisas não podem ser deixadas de lado.
18 de outubro - dia do médico.
O que vamos comemorar exatamente?
A forma como somos tratados por quem deveria nos valorizar, entre estes, os próprios colegas de profissão, os pacientes, as pessoas que nos pagam (leia-se convênios médicos).
Um dia, há não muito tempo, essa escolha já foi motivo de orgulho para a família e, não raro, a inspiração vinha de dentro de casa mesmo. Quantas gerações de médicos não se via dentro de um mesmo núcleo familiar. Minha mãe é médica, por exemplo.
Tirando-se casos pontuais, acho cada vez mais difícil isso continuar a acontecer.
Perdeu-se por completo o respeito e quando falo isso, não faço do médico o ser divino inquestionável. É o respeito que se deve a alguém que no mínimo dedicou 6 anos da vida à graduação, outros 3 ou 4 anos à especialização (residência) e que mesmo assim, continua sempre a aperfeiçoar-se sob o risco de ser engolido pelo trem rápido (ainda bem) do avanço científico/ tecnológico.
Somos roubados por convênios, por todos os lados. Como pacientes pagamos fortunas, reajustadas religiosamente todos os anos. E me pergunto: pra onde vai esse dinheiro? Procedimentos cirúrgicos, consultas, exames pagos com valores irrisórios (de verdade), por anos não reajustados, defasados. E se todos nos mobilizarmos contra isso? Sempre vai haver quem seja condescendente e aceite trabalhar com valores cada vez menores. Isso acontece todos os dias e pior, essas pessoas "condescendentes" estão tomando conta do mercado. O futuro, muito pior que o presente.
Somos desrespeitados pelo volume de informações duvidosas e superficiais a que todos temos acesso hoje em dia. O Dr. Google é o médico mais popular e visitado do mundo. Todos achamos que de médico e loucos temos um pouco. Será? Lembro bem de uma passagem da minha vida, enquanto era aluno da faculdade. Uma parente de uma antiga namorada perguntando: "Como é a faculdade de medicina? Vocês ficam estudando bulas de remédios????". Como se ser médico fosse apenas dar o remédio (de preferência certo) pra cada doença. É APA (duvido que você "me leia", mas preciso dar o crédito pra sua frase, dita em outro contexto, que o "excesso de informação também gera distorção". Acho que não é nem o excesso, mas sim a informação de má qualidade).
O mercado é inundado anualmente com médicos recém formados mal preparados, por escolas que recebem concessão de ensino pelo MEC que só querem saber do dinheiro da mensalidade e que não apresentam estrutura mínima para o ensino médico.
Por fim e, na minha opinião, o mais assustador, somos desrespeitados até entre nós mesmos. Tenho inúmeros exemplos vividos na prática, no dia a dia, mas não vale a pena serem assim expostos, sob o risco de se repetir uma prática cada vez mais comum: a atitude anti-ética (ou seria antiética???).
Não sei se incentivaria a minha filha se ela escolhesse essa profissão.
Nossa Daniel, que post pessimista! Vou dar um pitaco e talvez fale besteira... aí vc me perdoa e me corrige, não necessariamente nesta ordem. Olha, na minha área, que é educação, as pessoas têm mania de dizer que o nível da escola piorou muito, que o professor não é valorizado como devia, que a escola de antigamente é que era boa. Mas, o fato é que a escola agora é pra todos e antes era só pra classe média e a elite. O acesso foi universalizado. Isso teve um preço. Foi necessário formar muitos profissionais muito rapidamente, por um lado e, por outro, ficou patente que a escola não sabe lidar com as classes menos favorecidas (mas isso é uma longa história que não vem ao caso).
ResponderExcluirPergunto: será que não aconteceu algo semelhante com os médicos? Ou seja, há mais acesso a medicina, mas a formação também decaiu?
Será também que não havia um mito em torno da profissão e agora não há mais?
Será que esta falta de ética já não existia, mas era mais velada e agora está mais exposta (ou talvez os seus olhos não fossem capazes de percebê-la)?
Posso ter escrito bobagens, mas tendo sempre a achar que as coisas não PODEM ter piorado tanto!
O que vc acha?
Fala Clau! Você falando bobagem? Isso é uma bobagem!
ResponderExcluirO bom de conversar com você é que sempre você faz pensar e como você mesma chegou à conclusão em um texto recente, não há nada de errado em se rever posições. É saudável o exercício da argumentação.
Acho que essa discussão é longa. Vou te mandar por email, mesmo porque estou TÃO cansado com esse horário de verão (e são só 9 horas da noite) e amanhã tem pedal com as galinhas....rsrsrs
Beijo e valeu a reflexão que você proporcionou!