domingo, 20 de fevereiro de 2011

Ironman Brasil: Semana 7 - A Pergunta, A Notícia e O Internacional de Santos.

Quem tem criança em casa, vai saber que três palavras desconexas em um título de qualquer coisa, lembra algo do tipo "O Leão, a Feiticeira e o Guarda Roupas".



Esse é o título de um livro, que faz parte das Crônicas de Nárnia. 

O que isso tem a ver com o meu post?

Tirando a já percebida falta de conexão entre as palavras dos dois títulos, NADA. Absolutamente nada.

Então vamos ao que interessa.

Essa sétima semana começou com uma pergunta que até poderia ser perturbadora, mas não foi.

Sentado à mesa no almoço do domingo passado, conversando sobre....o ironman..., meu pai solta esta: "Como você sabe que vai conseguir terminar essa prova?".

Ok, é mesmo difícil imaginar como alguém pode viabilizar uma coisa dessas. Nadar 3800m, pedalar 180 km e depois correr uma maratona.

Não soube o que responder. Só disse que iria terminar.

Depois fiquei pensando qual resposta seria a mais convincente. Na verdade a resposta já estava aqui comigo há tempos.

Estou sendo quase constantemente "acusado" em casa de estar exagerando - e olha que o pesado ainda nem começou. Mas o que ninguém quer ver é que a única coisa que garante o término (com sucesso) da minha prova é o treino.

Todos dizem que o duro numa prova dessas de resistência é o treino. A prova é a coroação. Espero que seja assim.

O treino té dá bagagem física, faz seu corpo aprender a resistir. E como? Com uma série de adaptações metabólicas. À medida que você faz os treinos, quer sejam eles longos como 160 km de pedal, ou 30 km de corrida, ou uma série de 3000m na piscina, você está ensinando seu corpo a usar da melhor forma possível a energia acumulada. Por isso a alimentação é importante. Por isso o treino é importante. Por isso o descanso é importante.

Estava conversando com a Vivi outro dia. Acho que ela ficou meio preocupada com o estado que eu cheguei no sábado passado. O treino é o ensaio para o grande dia. Não adianta treinar sua maratona com tempos que te levariam à linha de chegada com 7 horas e querer fazer em 3 no grande dia.

Você tem que treinar o que você quer fazer.

Isso eu aprendi com a maratona no ano passado. E isso eu trouxe pro ironman neste ano!

Vai doer? Provavelmente. A dor é sim parte do processo, por mais que isso provoque reações negativas pra quem ouve. (leia-se pai, mãe, esposa, amigos...todos com cara que vão me internar no hospício mais próximo).

A segunda parte do título: A Notícia.

Acho que temos a primeira baixa na família Ironman. Infelizmente, o Marcelo (irmão que mora na Austrália) estará prestes a terminar o curso que está fazendo. Pode ser que não consiga vir. 

Fiquei triste, mas como ele mesmo disse, ainda não tem nada certo.

Ele seria o cara responsável por "eternizar o momento". Aliás, é isso que ele tem feito nos últimos anos, fotografando surf na Indonésia e agora entrando definitivamente para o ramo de foto é vídeo.

Espero que tudo aconteça da melhor forma, independentemente dele estar ou não em Floripa no final de maio.

Agora, a terceira parte desse LOOONGO post: o relato da prova em Santos.

A semana de treinos foi devagar por causa da prova. Depois do treino insano de pedal na terça, com 10 tiros de 2 km feitos entre 39 e 40 km/h, entramos mais ou menos no modo "recuperação". Treino de 1500m de natação na quarta cedo e tiros fortes de 800m de corrida no final do dia, depois do dilúvio em SP; quinta de folga (por minha conta, claro) e sexta só de piscina com treinos mais "firmes" de 100 e 50m.

O Internacional de Santos é uma prova legal.

Antigamente era um dos poucos com distância olímpica e era comum de se ver gente de outros países, como Argentina, Chile, além de profissionais como Mark Allen, Greg Welsh, Ken Glah. 

Hoje em dia, acho que a galera prefere as provas da marca Ironman como pretexto para competir em outros países.

Só tinham brasileiros mesmo na prova de hoje.

E como não poderia deixar de ser para uma prova em pleno verão, o dia foi QUENTE. Bota quente nisso.

Tive que ser convencido a usar a roupa de borracha. Eu suava na praia antes de entrar para aquecer. Não parei de suar dentro d'água também.

Estou triste por constatar que estou com medo de nadar. Não do mar ou da natação em si. Estou com medo de fracassar nadando. De prejudicar minha estratégia.

Hoje me peguei pensando que a minha natação voltou a evoluir. Estou nadando três vezes por semana, grandes volumes. Tenho feito bons tiros.

Inseguranças à parte, comecei nadando sem muita pressa. Também não tinha muita gente subindo em cima de mim. Fiz o primeiro lado do triângulo levantando a cabeça poucas vezes, usando bastante o pessoal à minha volta para navegar. Deu certo. Direto pra bóia.

O segundo lado do triângulo também usei a mesma estratégia, mas como o pessoal dispersou mais, tive que levantar mais vezes a cabeça pra procurar a bóia. Foi bom também. Na segunda bóia bati o olho no relógio e vi que em uma das porradas que levei, o botão se auto-apertou e já estava marcando o tempo da primeira transição. Ok. Parte do treino é aprender a lidar com imprevistos. Este não seria um imprevisto tão importante.

O terceiro lado do triângulo pra mim é o mais chato. O povo já tá meio cansado, meio capenga. A orientação pra mim é mais difícil pois achar uma bóia no meio do marzão é fácil. Achar um pequeno totem no meio da praia não é fácil. Em um momento tive que parar de nadar pra ajustar a gola que já me assava feio o lado direito do pescoço.

Encontrei a areia com pouco mais de 22 minutos. Achei excelente. Mas estava cansado a ponto de aproveitar a desculpa de tirar a roupa de borracha ainda na água pra dar uma paradinha. Passei no tapete do chip perto de 23'30". Depois uma longa e difícil corrida pela areia da praia até alcançar a avenida, atravessa-la, ganhar a área de transição e achar minha bike. Transição longa, demorada.

Quando comecei a pedalar, meu relógio já marcava 26 minutos. Três minutos e tanto desde que passei pelo tapete do chip.

Coloquei o pé na sapatilha. Quando ia colocar o outro, não sei o que aconteceu, ela se soltou do pedal. Tive que parar. Alguém veio me trazer a sapatilha. Paro. Perco tempo. Ponho a bendita no pé e saio pedalando. Meu estômago queimava. Não estava me sentindo lá muito bem.

Pelas ruas esburacadas eu segui, esperando finalmente chegar à Anchieta lisinha, teoricamente com menos chance de um pneu furado. Em um dos buracos ou trilhos que temos que passar, meu cateye simplesmente morreu. Ótimo. Tá aí um imprevisto PHODA de lidar. Não em uma prova dessas que é socação de bucha o tempo todo. Mas e no iron? E se a porra do cateye me deixa na mão, sendo uma prova que você tem que controlar a velocidade, construir a média.

Continuei socando. Na estrada, perto do 20º km, voltou a funcionar. E estava bem....muito bem. 38 km/h, 39 km/h. Assim eu gosto.

Vácuo, muito vácuo. Na cara dura. Bando de picareta. Me recuso a entrar em pelote nas provas, por mais que seja fácil pedalar assim. Resultado: muitas vezes tive que reduzir pra não ficar no rabo do pelote. No final da Anchieta me rebelei e antes da ponte, ataquei, entrei na zona de vácuo a 43 km/h, passei todo mundo e ninguém mais me alcançou! Senti uma melhora muito grande na qualidade do pedal em relação ano passado. Gostei muito.

Chegando na T2, um cara numa puta bike animal, uma Argon 18 E-114, resolve fazer uma transição super rápida. Embananou-se. Caiu. A super bike fez um looping sobre ele e estatelou no chão. Barulho de carbono batendo....ui....O cara levanta e fica parado bem no meu caminho. Pô, tá certo que o cara tomou um tombaço, mas não fica na frente. Desviei. Entrei na T2 com algo em torno de 1:05'. Dentro do esperado.

T2 em quase 2 minutos. Saí pra correr ainda com chance de fazer as 2:17' que o MPR "previu"pra mim. Tinha cerca de uma hora e trinta minutos de prova, até então.

Cara, tava calor. Comecei o 1º km em 4'37", correndo solto e tranquilo. Respiração controlada. Passei o 6º km pela tenda da MPR com cerca de 27' de corrida. Achei que ia dar.

Os 4 últimos km foram de sofrimento. Muito quente. O retorno nunca chegava. Fechei a corrida em 47'39".

Tempo total: 2:20'48" para os 1500/40/10 km.

Achei muito bom. Não foi meu melhor tempo, mas foi o melhor que eu tinha pra dar hoje. E convenhamos, foi um bom tempo: 43º na categoria (tinham 164 atletas).

Nota ruim do dia. Ao voltar pra resgatar minhas coisas na transição, meus óculos de natação tinham sumido. Meu capacete estava com uma touca e óculos de natação que não eram meus dentro dele.

Espero que o cara que levou meus óculos tenha feito isso por engano. Não passa pela minha cabeça alguém que paga 360 reais de inscrição, pilota uma bike de custa de 4 a 5 dígitos, com rodas de mais 4 ou 5 dígitos, seja capaz de levar na mão grande um óculos de 100 reais. E se não chegasse antes que o dono da touca e óculos que estavam no meu capacete? Será que teria um prejuízo maior ainda?

Mas beleza. O dia é de festa. Amanhã vou ter que matar a natação por falta de óculos!

Resumo do dia:

Natação (1500m): 23'30"
T1:  3'19"
Bike (40km): 1:04'29"
T2:  1'51"
Corrida (10km): 47'39"

Total: 2:20'48"

"Loguinho" da semana:  160 km em 8 horas de treinos, mais 1 hora de Pilates e 1 hora de massagem.

Faltam 97 dias!



4 comentários:

  1. Daniel, tenha paciência com as pessoas que te amam, voce sabe como é, quem ama cuida e se preocupa! Bela prova hoje! Parabéns! Falta pouco, tenho certeza que voce vai mandar muito bem! Titia esta aqui torcendo por voce! Beijinhossssssss.

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  2. Oi Biba. Gosto muito quando você lê meus posts! Sim, terei (e tenho) paciência com todos. Gosto da preocupação. Falta muito pouco:13 semanas, menos de 100 dias. O frio na barriga já tá crescendo. Bjos

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  3. boa meu! parabéns!!!!

    - também estou "sendo acusado" de estar exagerando. Meu pai falou pra só fazer uma vez o Iron....huahuahu. E ainda estou "sendo acusado" de estar muito magro pela minha mãe..huahuahuahu

    - meu cateye tb deu pau, mas na marcação dos batimentos cardíacos....ai só me restou socar a bota. Puta prova quente hein. mas foi bom. Um treino de luxo em Rumo do Iron.

    abs,

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  4. Quando minha mãe falava que eu estava exagerando, ou fazendo uma coisa muito insana de mais (que era treinar para triathlons)- isso em 1996 - eu dizia:

    `` Mãe....ja é tão difícil fazer o que eu faço. Por favor, se não for dizer "vai Ciro", não diga mais nada´´

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