segunda-feira, 3 de maio de 2010

15 Anos Depois




Hoje foi engraçado.

Muita gente entrou aqui esperando o relato da prova. Normalmente o blog é mais visitado quando eu ponho no twitter ou no meu orkut, dizendo que tem post novo.

Desta vez, muita gente entrou e não encontrou. Mas CALMA, terminei (e bem) e estou me sentindo muito aliviado. Por ter cumprido meus objetivos, por ter encerrado os treinos pra maratona, por voltar a pensar em triathlon.

SENTA QUE LÁ VEM HISTÓRIA

Minha história com maratonas começou há 15 anos. Essa é a história que há tempos estou devendo.

Em algum dia do ano de 1995, o Cláudio, meu treinador chegou na academia (na época ele era professor de natação) e desafiou: Vamos correr a maratona de SP?

Ele só podia estar maluco. Nunca tinha feito nenhuma prova acima de 10 Km.

Mas era sério.

Em outubro de 1995, estávamos no centro da cidade para a largada da nossa 1ª maratona (e também da 1ª maratona de SP).

O percurso era muito diferente do de hoje, leia-se MUITO pior. Saia do centro, Marques de São Vicente, Sumaré, Cardeal, Pedroso de Morais, ponte do Jaguaré, bairro do Jaguaré e por aí ia, até passar pelos TRÊS túneis, inclusive o A. Senna, disparado o pior dos 3).

Passamos os primeiros 10 Km abaixo de 50 minutos e achando que iríamos terminar em pouco mais de 3 horas....muito fácil esse negócio de maratona. O fato é que a distância foi passando, tudo começou a doer e no Km 32, a casa caiu! Andamos por mais de 1 hora, pra cobrir menos de 3 Km. Voltamos a correr no 34º ou 35º Km, sem absolutamente NADA pra oferecer aos músculos exaustos.

Cruzamos a linha de chegada com 4:30' e ainda lembro um fiscal dizendo: "Pô, esses caras que terminam agora sofrem muito mais do que quem termina em 2 horas e pouco....

SIM! O sofrimento rendeu a perda de algumas unhas, 7 dias sem andar e um trauma que durou todos esses anos. NUNCA mais faria uma maratona.

Um trauma e uma frustração: Nunca conseguiria fazer um ironman...um sonho desde aquela época.

Com o tempo, a gente aprende algumas coisas, como ser mais paciente e esperar a hora certa pra tudo.

O Cláudio especializou-se em maratonas, virou técnico do Pinheiros e da seleção brasileira.

Em 2009, treinando pra meia maratona (seria a do Rio, mas me contentei com a da Praia Grande mesmo...HAAHAHAHAHA), Percebi que poderia fazer um meio ironman, por que não?

Falei pro Cláudio dos meus planos. Ouvi dele o seguinte: Meio IM é obrigação, seu desafio é o IRONMAN. Mas pra isso você vai ter que rever sua promessa de não mais correr maratonas.

Comprei o desafio.

Queria correr uma maratona antes de começar a treinar pro iron. Vendo o que poderia ou não fazer, decidi correr São Paulo. Tinha que derrubar meus traumas!

Foram 16 semanas de treino duro. MUITO duro. Muitas vezes cheguei em casa de 4ª a noite tão exausto que mal conseguia falar. Dormia deitado no sofá enquanto a novela passava. Ouvi de um colega de treino uma frase que era perfeita: muitas vezes durante a preparação eu seria mais IRON do que MAN....e é verdade!

Vamos à prova de 2010:

Acordei 5 horas da manhã pra comer macarrão na manteiga...o começo foi duro...mas depois até achei bom esse café da manhã esdrúxulo.

Acordei de novo as 6:30, repassei tudo o que eu iria usar, me troquei e fui de carona com a Vivi pra estação de trem do Jaguaré/ Villa Lobos. Mais uma descoberta do dia: andar de trem.

Na estação conheci a Dayse, uma amiga da minha amiga (até hoje) virtual Cláudia, do blog. Conversamos todo o caminho e quase perdemos a estação. Ela também vai pro iron no ano que vem.Como se nos conhecessemos há tempos, nos despedimos e fui atrás do Leandro, que estava me esperando.

1º stress. Ele estava do outro lado da rua. Impossível atravessar. Fui correndo pra passar debaixo da ponte e chegar até ele.

Ouvi dele a maior e melhor orientação pra prova: Você treinou, você sabe o que fazer. Não faça nada a mais, nem a menos.

E la fui eu pra prova.

Na hora da largada, aquelas imagens que vão ficar pra sempre: o céu azul, a lua "indo dormir" à esquerda e os balões verde e amarelos ganhando altura, enquanto a galera se agitava pra começar a correr.

Nessa hora, tava mais pra São Silvestre do que pra maratona. Muita gente, muito acelera e para, zig-zag....péssimo!

Só achei a primeira marcação no Km 3 e estava quase 2 minutos atrasado.

Depois, já na marginal, já consegui me posicionar e entrei no ritmo. Fui convencido na última semana que 5'30"/Km era muito pouco pro que eu tinha treinado. O meu querido treinador, que descobri ter feito curso com a mãe Dinah, profetizou: "seu ritmo vai ser entre 5' 15" e 5'20"/ Km. Em determinadas horas você vai se sentir tão bem que vai querer puxar...CALMA....o final de prova vai subir muito esse tempo por causa dos túneis. Use a cabeça".

Dito e feito. Pelo 10º Km estava rodando a 5'10", 5'08"/ Km, fácil!

No 13º Km, a tão esperada hora da família, com um cartaz de CORRE, CORRE, CORRE PAPAI, a frase da Júlia quando me vê de uniforme de treino...Passei por eles mais 2 vezes, uma delas com o toque na mão da Jujuba (foto acima) e a última, na metade da prova, quando efetivamente começou a MARATONA pra mim.

Entrei na USP sentindo um pouco a coxa esquerda. Não era uma dor que me fizesse diminuir o ritmo, mas preocupava.

Na politécnica passei pelo pessoal dos 25 Km, recebi o apoio importante de amigos, em especial do Rodrigo que estava na grade, esperando eu passar! Essas coisas são muito importantes nas horas que o corpo começa a te dizer que você é insano em continuar insistindo!

Entrei e saí da USP de novo e a partir do 32, com a escolta do Leandro.

Não preciso dizer a importância desta companhia nessa altura da prova. Ele me deu a 3ª mamadeira especial (receita olímpica...hahahahaah) e disse que meu tempo até alí era pra 3:45'. Trocamos mais algumas palavras e segui meu caminho, muito concentrado. O que me esperava era o desafio mais difícil do dia...os TÚNEIS.

O primeiro, o Jânio Quadros, me assustou. Uma longa decida (que era subida no início da prova) e depois uma ladeira íngreme, com um platô no meio. Ritmo caiu pra 6`11"/ Km.

O segundo, Tribunal de Justiça parecia um cenário de guerra. Muita gente andando, muitos jogados na lateral, com dor. Cena ruim pra quem já está querendo jogar a toalha.

Meu estímulo era o Leandro. Não ia dar o gostinho de ser chamado de chorão. Só pararia no final!

E segui, firme. Entrei na República do Líbano, estátua do Brecheret, Assembléia...LINHA DE CHEGADA!

3:47'30", média de 5'23"/ Km, 628º colocado no geral masculino, como se isso tivesse alguma importância!

Alí, sozinho no gramado em frente ao Obelisco, senti uma emoção que acho que nunca tinha sentido. O ar não entrava, sentia que ia desabar chorando sem nem saber o motivo. Não tem motivo. A sensação é indescritível.

Sentei, tirei o chip do meu tênis, enxuguei o rosto torcendo pra que ninguém estivesse vendo e fui atrás do meu troféu. Minha medalha.

Liguei pra família e depois pro Leandro e fui dar um grande abraço nele e no Cláudio, que estava lá só por minha causa. O técnico 3º colocado no feminino com a Adriana, estava me esperando. Sei que não vou ter mais isso daqui pra frente, pelo menos no próximo ano.

Agora, só me restava ir embora! Encontrar minha torcida fiel e barulhenta e comer...comer muito!

Meu 1º leão está no chão! Ganhei dele com sobra, o que não quer dizer que tenha sido fácil!

O caminho é longo e sei que falta muito.

Apesar de ter muitos motivos pra ficar feliz, meu resto do domingo foi de muita reflexão. Preciso ainda ter uma conversa e botar minhas cartas na mesa. E não vai ser fácil. Tenho muito respeito e admiração pelas pessoas que fizeram parte dessa conquista

Sei que a longo prazo, minha escolha vai me recompensar. Não imagino um ciclo de treino pro ironman, passando pelas etapas que passei pra chegar ao meu topo do mundo. O triathlon não é uma união de 3 esportes e sim um esporte único. O melhor atleta de triathlon não se faz com os melhores técnicos de natação, de ciclismo e de corrida...mas sim com o melhor técnico de TRIATHLON.

Esse é meu esporte.

Esse aí embaixo é o meu pódio





2 comentários:

  1. Rodrigo (r.previatti@uol.com.br)9 de junho de 2010 às 09:00

    Show !!!!!!
    Qdo vc termina sua primeira prova de 5k, é muito legal, depois a de 10k, 15k, 21k, 25k, mas essa sensação indescritível q vc teve em frente ao Obelisco, só quem terminou uma maratona sabe o q é.
    Parabéns !!!!!
    (4/5/2010 11:25:29) - (IP: 187.3.18.5)

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  2. Andressa (andressablois@uol.com.br)9 de junho de 2010 às 09:01

    Dan!!! Eu estava louca pra saber como tinha sido! Li TUDO!!!
    Parabéns !!! Assisti a Maratona pela TV e confesso que chorei com a mulherada chegando! SENSACIONAL!
    Parabéns!!!!!! Sucesso nas próximas!! Vá em frente que o ironman está ai!!!
    bjss
    (6/5/2010 9:04:27) - (IP: 189.33.80.105)

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