quinta-feira, 2 de junho de 2011

Ironman Brasil 2011 - O Show Vai Começar

Se dia de triatleta começa cedo, o de um ironman então começa "ontem"!

Coloquei o alarme às 4:30.

A noite foi tranquila, tirando o susto de acordar à meia noite com o teste de som da equipe que terminava a montagem do "circo", com direito à música bate estaca e os intermináveis "ssssssom.....sssssssssom".

Acordei sozinho uns 5 minutos antes da hora prevista. Olhei pela janela do banheiro e vi os staffs recebendo as últimas orientações na área da pintura do corpo. Já tinha movimentação de atletas na rua.

Deu um friozinho na barriga.

Comecei meu ritual, que na verdade já tinha se iniciado ainda na cama, colocando a meia de compressão. Sem pelos nas pernas fica MUITO mais fácil!

Peguei minhas tralhas. Passei vaselina, botei a bermuda, sensor do frequencimetro, top, relógio que passou a noite carregando e por cima de tudo, um agasalho porque estava bem frio.

Quando desci, o macarrãozinho da madrugada já estava ficando pronto. Deu certo na maratona e agora não teria porque não dar de novo. Mandei um pratão de peão! Com fome!

À essa altura, o Marcelão também já estava de pé pra registrar tudo.

Estava achando bem estranha a falta da ansiedade, nervosismo! Estava calmo.

Peguei as sacolas que ainda estavam comigo, chamei o Marcelão, dei tchau pra minha mãe e saí. Sensação esquisita. Só iria voltar depois de sei lá quantas horas fazendo força...

A pintura era a uns 100 m da porta de casa. O movimento ainda era pequeno.

Deixei primeiro as sacolas de percurso (as special needs), sabendo que elas foram montadas para não serem usadas. Não me incomodei nem um pouco com a mudança da regra em relação ao ano passado, quando as sacolas eram dadas aos atletas na metade do percurso, tanto na bike, como na corrida. Este ano, as sacolas seriam posicionadas em pontos intermediários, o que implicaria em mudança de logística.

O que eu fiz?

Peguei minhas tabelas nutricionais, fiz contas e arranjei um jeito de não precisar parar pra nada. Claro que coloquei comida extra, camaras e CO2 extra, mas sabia que se nada extraordinário acontecesse, eu não precisaria usar.

Depois de deixadas as sacolas, fui pintar o corpo: 120 nos dois braços e nas panturrilhas (cobertas pelas meias).

Depois fui para a bike, acomodar o "rango". Claro que não coube.

Capítulo à parte, a nutrição do ironman. Fiz um esquema complexo.

Ninguém em sã consciência come na natação por razões obvias. Além disso, você passa os dias anteriores enchendo todas as células do corpo de carboidrato. Não há necessidade!

Passado a natação, a primeira meia hora da bike seria só água. É necessário dar ao corpo um tempo para a adaptação. Comer logo que se sai da natação é fria!!! Não cai muito bem. É claro que tem uma explicação técnica, mas não vem ao caso.

Com meia hora de bike, o esquema começava: nas "meias horas" comeria bananinha, nas "horas inteiras" as batatas assadas com sal, nos minutos 15 e 45 de cada hora accelerade e a cada 10 minutos água. A mudança das special needs me fizeram abrir mão das bisnaguinhas. Além disso, tinha um "lanchinho" que poderia comer a qualquer momento que eras as balas acidas de gelatina.

Nada era por acaso. Isso em daria por hora, uma média 55g de carbo e cerca de 390 kcal.

Na corrida seria os indefectíveis géis....um a cada 6 km!

Bom, explicado esquema da comida, voltemos à preparação para a prova.

Garrafinhas com accelerade posicionadas (eram 3, somando quase 1,5L), água no aerodrink, sacolas checadas. 

Ainda eram 6 horas. O que fazer? Pô, minha casa fica a poucos passos. Vou voltar pra lá.

Quando cheguei de volta, estava todo mundo de pé. Todo mundo com as camisas que a Vi tinha feito pra mim...e tinham ficado MUITO bonitas. Acho que não era pra ter visto. Eu era o Irondan.

Ter voltado foi a melhor coisa que eu poderia ter feito. Ao chegar ganhei muitos carinhos da Júlia. Ela perguntou se eu tinha tomado café da manhã. Não é o máximo ter sua filha de 3 anos preocupada com você?

Aproveitei para escovar os dentes dela e terminar de colocar roupa nela....tudo muito normal...nem parecia que em menos de 1 hora eu estaria dentro do mar, largando pra um ironman. Com certeza as pessoas dentro daquela casa estavam mais nervosas do que eu.

Fomos juntos até a área de largada. Ainda bem, porque a estação da Sé é pouco pra multidão que se aglomerava no deck no restaurante onde a largada é dada. 



Tiramos fotos do "time" (todos uniformizados) e comecei as despedidas.

Esse é um momento que imaginei muito como seria. Os minutos que antecedem a largada. Achei que fosse estar nervoso, emocionado, com medo. Não estava, ainda.

Meu pai me tirou de lado e tentou me acalmar. Ele é quem precisava. Disse que isso era um hobbie e que  se eu não chegasse ao fim da prova, não faria a menor diferença. Ele realmente temia que não terminasse. 

Olhei pra ele e disse: "Eu VOU terminar", com bastante ênfase no VOU.

Fui pro curral da largada.

Logo encontrei o Marquinhos e a Cláudia. O moleque tava ansioso...hahahaha. Meus batimentos estavam perto de 70 bpm.

O helicóptero já sobrevoava. O locutor falava umas besteiras.

De repente o coração acelerou pela primeira vez. À direita de quem olhava o mar, atrás de dois montes, um vermelhão surgia. Cutuquei o Marquinhos e mostrei o espetáculo que se desenhava. Não sei se ele sentiu a mesma emoção que eu ao ver aquilo, mas ver o sol nascendo trouxe a exata dimensão que o dia estava chegando e com ele o Ironman. 

Um nó quase "cego" se formou na minha garganta. Me segurei muito pra não chorar. É inexplicável a felicidade que eu estava sentindo naquele momento. Queria muito poder ter dividido esse momento com a  minha família, mas naquele momento estava sozinho. Tinha cada um deles dentro de mim, mas não podia abraçar a Vi como eu queria!

Rapidamente o sol crescia atrás dos montes no horizonte. Voltei a ouvir o zum zum zum ao redor. A frequencia já beirava os 90 bpm à essa altura. Meu olhar saiu do campo da freqüência cardíaca e parou no campo que marcava as horas.

6:59

Faltava 1 minuto para  a largada.




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