segunda-feira, 15 de outubro de 2012

"Engole o Choro"

Ouvi essa ordem mais ou menos no 6º km da corrida da prova neste domingo.

A minha primeira prova de triathlon desde o Ironman 2011. Mas não vou começar o relato assim. Nem fazendo nenhum tipo de drama.

Também não vou ficar reclamando sobre gente que não respeita regras. Em toda prova tem. Vai da consciência de cada um. 

O TriStar teve coisas boas e coisas ruins.

Sem sombra de dúvida, a boa foi a surpresa em conhecer o Rio como uma cidade segura. Pelo menos com sensação de segurança. Meu carro dormiu na rua todos os dias. Andamos na orla com máquina fotográfica (das grandes, tipo reflex) e também à noite por Ipanema, sem achar que corríamos perigo.

Pena que choveu tanto. Não deu pra ser turista tanto quanto queria, mas deu pra conhecer o "básico".

O Rio é realmente lindo. A Lagoa é um lugar muito gostoso. As orlas de Copacabana, Ipanema e Flamengo ficam fechadas aos domingos e feriados, pro prazer de quem quer passear e até treinar (no caso do aterro). Precisaria que a população e turistas colaborassem um pouco mais com a limpeza, com a conservação. 

O trânsito é difícil. Os semáforos têm disposição diferente quando comparados aos de SP. Sem contar que não existem vagas pra carros nem nos prédio e nem nas ruas. 

As obras de infraestrutura estão atrasadas pra quem quer sediar os Jogos Olímpicos. Quando fui a Atenas em 1997, a cidade era um canteiro, com o agravante que a cada meio metro escavado, um sítio arqueológico era encontrado. Muito diferente do que vi e não quer dizer que o Rio tem muito mais que Atenas tinha naquela época. Tudo bem que a Grécia se endividou até as tampas para adequar a cidade aos Jogos de 2004 e até hoje paga a conta...ou melhor...dá o calote nela.

Será que vamos pro mesmo caminho?

Vi obras de um túnel na região portuária. A própria Perimetral vai abaixo pra revitalizar essa região. O trabalho vai ser árduo. Vamos ver no que vai dar. Mas não sei se há transporte e serviços adequados. 

Vou torcer pra que dê tudo certo. Gostei do Rio. Muito diferente do que achei que seria. A Júlia adorou o Rio. Ela quer voltar. Foi muito legal.

A Prova. Chega de rodeios e introduções.

Não costumo e não vou falar mal da organização. Se dar um jantar em casa para amigos dá trabalho, imagina uma "festa". Erros acontecem, ainda mais quando não se tem experiência de eventos anteriores.

Mas vai ter que melhorar muito.

Feira, pretensiosamente chamada Expo, precária. Confusão nas informações de onde seria a largada, onde se estacionariam os carros.

A prova também não escapou dessas "cabeçadas".

Como se não tivesse existido planejamento ou um simpósio no dia anterior, a organização da prova corrigiu umas duas vezes como seria o contornar das bóias.

A água estava fria e, apesar de ser a baía da Guanabara, o mar estava muito agitado.

Pancadaria. Socos, puxões, chute "nas partes". Impossível contornar nadando a primeira bóia. Fui no movimento natural da esteira. Bom...aqui o vácuo é permitido.

Nadei na média. Nem bem nem mal, para os meus padrões.

Saí completamente tonto. Parecia que o Aterro tinha voltado a ser mar e estava balançando!

Sacola. Respira. Pensa. Não vomita.

Fui pegar a magrela "verde feio". Estava com medo.

Tudo bem. Uma semana atrás fiz um cruzado bike/corrida de 50/3/25/3/25/3 km pedalando pra 34/35 km/h de média e correndo consistente pra uns 4'30"/km. Achei que não teria problemas.

A prova deu o seu tom muito cedo. Antes do 10° Km minhas costas doíam muito. A favor do vento eu não passava de 35 km/h. Meu capacete apertava minha testa. Eu não tinha mudado nenhum ajuste. A cabeça de médico pensava: "deve ser Paget"....mas esquece. Isso é outra história. Claro que não é Paget. Daqui uns 30 anos eu me preocupo com essa possibilidade.

Quando cruzei a placa de 10 km, pensei: putz, faltam 90.

Isso não é um bom pensamento. Nem em treino, nem em prova.

A bike tinha dois trechos bem distintos: um no Aterro - bonito, arborizado, Pão de Açúcar, bondinho, Corcovado e o Cristo Redentor (inevitável cantar nas cinco passagens que fiz por ele a música do Tom Jobim: "Cristo Redentor/ Braços abertos sobre a Guanabara...). O outro sobre a Perimetral, uma via elevada sobre a região portuária. Prédios antigos, tudo muito cinza e por enquanto bem feio. Na última volta vi que o retorno era perto da Cidade do Samba, lugar onde as Escolas de Samba do Rio fazem as suas mágicas. Em comum, os dois trechos tinham um vento contra FELODAPUTA no sentido de quem ia pra Botafogo.

Tentei não pensar muito em quanto faltava e passei a procurar minha torcida fiel a cada passagem pela área de transição. Pedi à Vi que não chegasse cedo e que nem fossem se estivesse chovendo. Na penúltima volta, eu achei. Foi uma dose extra de ânimo, mas ainda faltavam 30 km e, no ritmo que eu estava, era mais um hora.

Na real, vi minha média cair de 34 km/h na primeira volta (o original era 35,5 km/h, mas essa deve ter sido a velocidade MÁXIMA que alcancei. Editado ao ver o arquivo do Garmin) pra 32,3 km/h no final, o que quer dizer que na última volta, mal cheguei aos 30/h. Sofrido.

Pensando no último treino, queria começar a correr logo. Pelo menos iria sentir que estava sendo mais eficiente.

Aí relembrei que treino é treino e jogo é jogo.

Deixei a T2 meio "de mal" com a "verde feio". Saí correndo e percebi que fiz lambança com o modo multisports do Garmin. Só tinha o modo natação.

Passei pela Júlia e ela fez muita festa. Quase parei pra dar beijo em todos. Mas não. Pelo menos uma das três etapas eu queria fazer direito.

Quando passou a adrenalina da área de transição, tudo doía. O peito doía pra respirar. As costas doíam.

A placa de 1 km demorou. Não tinha ideia do meu ritmo, mas sabia que mesmo me arrastando, não conseguiria ir assim até o fim.

Precisava tomar uma decisão. Queria desistir. Tinha que ter feito o 55,5 (0,5/50/5km), ou seja, a metade das distâncias que estava tentando completar.

Pensei no ano que passei querendo voltar a competir. Pensei na Vi cuidando das duas crianças pra que eu pudesse voltar a treinar e competir. Não podia desistir.

No 6º Km, ou melhor, no começo da segunda volta, cruzei com a Bel, amiga da antiga assessoria, a torcedora mais animada de todas as provas. Disse que estava morrendo. Ela mandou de volta a frase do título do post.

Pensei: Pô, tô aqui porque quero. Vou reclamar do que? Continuei no ritmo de cruzeiro, só pra terminar.

Se tivesse desistido, não teria tido esse momento.



Assim que vi a galerinha, a Júlia veio correndo em minha direção. Parei. Ganhei um abraço e um beijo. Perguntei se ela queria correr comigo. Ela nem respondeu. Me deu a mão e saiu correndo me puxando. O Guilherme dormia.

Entramos no funil. Ela estava toda orgulhosa. Eu estava muito mais.

Subimos a rampa da chegada e pedi pra ela levantar os braços. Comemoramos juntos.

Dei a medalha pra ela.

Foram dela as melhores frases do dia. Pra quem me tem como contato no facebook não é novidade, mas aí vão alguns petardos dessa língua solta de 4 anos:

"Mamãe, tem uma 'pancada' de bicicleta junta né?
"Eu vou ficar esperando aqui pra sempre? O papai não chega nunca?"
"Mamãe, eu quero a pulserinha do papai pra levar pra escola e mostrar pra todo mundo que ele é atleta".

Tempo de prova? Depois dessa chegada, isso quase não importava e isso nem é desculpa esfarrapada de quem foi mal.

Fiz 4:28'. Tempo suficiente pra um meio Ironman.

Algo em torno de 17'50"de água, 3:06'de pedal e quase 56' de corrida. Somados, uns 6' de transição.

Claro que desanimei um pouco.

Por mais que não pudesse ter a expectativa de repetir o desempenho de maio/2011, tinha a esperança de chegar perto. Estava treinando bem.

O quanto a bike teve influência? Não sei, mas decidi que se não arrumar uma bike melhor, não vou fazer Pirassununga. Se sofri pra correr 10 km, imagina correr 21 km.

Isso aqui é diversão. Não vou ficar sofrendo sem precisar. Lá pelo 9º km, eu repetia sem parar: "eu não sei mais se gosto dessa porra....eu não sei mais..."

A Vi perguntava o que eu estava sentindo. Nem sei o que eu sentia. Tentava falar e a garganta amarrava. Quase chorei de raiva, de dor, de felicidade. Estava puto por ter ido mal, por não ter conseguido correr. Estava aliviado por ter terminado. Por ter voltado a fazer provas.

O bom é que quando passa, a gente esquece.

Já passou. Mas a decisão sobre Pira já está tomada.

Uma coisa é certa: eu tenho a melhor torcida do mundo. Muito obrigado Vi, pela força, pelo carinho, pelo suporte e por levar nossos pequenos, fazendo com que eles cresçam dentro desse ambiente, o esporte.


Sem saber se ainda gosto ou não, sou triatleta de novo!

Isso é bom né?

Acho que é!


9 comentários:

  1. Te escrevi um comentário e quando foi publicar deu algum problema , mas enfim , segue um resumo do que escrevi.

    Parabéns pela prova
    Teve sim um monte de besteirada da organização , mas tomara que eles "ouçam" os atletas
    A primeira boia foi horrível
    Cortar caminho na água , ficar no pelote faz quem quer !!!
    Vamos para Pira ? Estarei lá , se precisar de um apoio conte comigo.

    Um abraço Fernando Asdourian

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  2. Fala Fernando. Valeu.
    Vi umas fotos suas no album do facebook da onipresente Bel...hahahaha. Ela devia se candidatar à vereadora!!!!
    Parabéns pela prova também.
    Quanto a Pira, vamos pensar. Estou inscrito, mas agora tô com pânico de correr depois de pedalar, se for pra repeetir meu desempenho. Não estou falando só de tempo, pace...mas sim a forma como corri, contando os metros que faltavam pra cada placa. Sem contar que já tinha feito isso durante os 100 km de pedal. Isso é horrível.
    Abraço!

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  3. A parte técnica de tempos e distancias, o mal humor com a pobre da magrela e demais "rabugentisses" são o que menos importa!Mesmo pq, inerentes ao autor!!(hehe)

    O grande ponto do post e da prova certamente é a superação e essa é admirável!
    Dor,desanimo,irritação,pensamentos inoportunos, tudo superado!!!

    Resultado final: torcida orgulhosa sensação de dever cumprido e de estar inteiro.
    Independente de qualquer dúvida quanto a gostar ou não de ser atleta, gostar ou não das provas essa decisão é sua e recuperado vc pode escolher e não apenas se conformar!!

    Julia orgulhosa, Vi orgulhosa, Gui(bom esse vai ter orgulho qd conseguir saber o que é isso) a lista é grande, posso arriscar,no mínimo, seu pai sua mãe seus irmãos, suas primas Marina, eu e mais uma extensa lista. Todos orgulhosos. Sobretudo pq vc não desistiu!Mais uma vez optou por encarar a dificuldade de frente ,superar e ser feliz na linha de chegada!

    Parabéns!!

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  4. Por que será, que mesmo postando anônimo (apesar de alguns nomes que dão as pistas de quem seria) eu tenho a certeza da autoria...não é mesmo Carol
    ??????????? Ia colocar o nome inteiro, mas você ia usar como argumento pra validar o meu "mau humor"...hahahahahahahah
    Beijos!!!!!!!

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  5. RRSRSRS PQ SOU RETARDADA E TENTEI DE TODAS AS FORMAS E SÓ CONSEGUI ASSIM!
    pode colocar até MARIA CAROLINA LIMA DIAS TORRES! COMADRE ORGULHOSA! eainda anonima aff

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  6. Show de bola !!!!!!!!!
    Agora falar que 5'30 ta quase andando, humilha os amigos rsrsrs
    Que venha Pira !!!!!!!!!!
    Mais um anonimo hahahahah

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  7. Calma. Nunca!!!! Tudo depende do referencial. Se você faz um treino no final de semana anterior, correndo com média de 4'23"/km, os tais 5'30" estão muuuuuuito longe do que posso fazer, mas nunca menosprezando ninguém.

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  8. Cara, desculpa aí pela ideia do 111 hahahaha.
    Agora sério, parabéns ! Voltar é sempre difícil e esta foi em grande estilo. Esquece o tempo, resultado e asneiras da organização, encara pelo lado positivo de estar voltando e bola pra frente.

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    1. KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK. Você acabou de me lembrar que o culpado foi mesmo você.
      Ok, tá desculpado!!!!!!
      Valeu.
      Abraço

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