segunda-feira, 26 de novembro de 2012

X-Terra Pirassununga




Quem nunca se pegou duvidando de algum feito do passado e até temendo nunca conseguir repeti-lo um dia?

Essa frase acima é inspirada no que escreveu a Ana Mesquita no início do relato da travessia do Canal da Mancha, no seu livro "A Travessura do Canal da Mancha".

E sim....é absolutamente verdade.

Como eu já consegui correr uma maratona? Como eu já consegui ficar 10:30 correndo (na verdade nadando, pedalando e correndo) num Ironman? Hoje parece uma realidade distante.

Claro que estou falando isso no calor (e com as dores) de um pós-prova em Pirassununga.

Pirassununga 2012 foi uma prova diferente.

Divido minha "vida triatlética" em dois: APDQ e DPDQ, respectivamente Antes da Porra da Dor no Quadril e Depois da Porra da Dor no Quadril.

Na época APDQ era bem confiante, treinava bem, sabia o que queria e podia fazer. Planejamento e execução.

Nessa época DPDQ, confiança foi uma palavra erradicada do meu vocabulário. Depois do TriStar, podem me chamar de amarelão, cagão...do que quiserem, mas a real é que tenho treinado bem e na hora do "vamo vê"....afino. Vide TriStar.

Minhas duas semanas pré-Pira foram ruins de treino. Comecei a sentir sinais de vida do meu quadril esquerdo (o dito cujo). Torcia pra chover, qualquer motivo era bom o suficiente pra não treinar. E realmente quase não treinei. Aí é uma bola de neve. Não treinei pra fugir da dor, depois veio o medo de não conseguir fazer uma boa prova por causa da falta de treino, de aumentar a dor, etc....

Além disso, a previsão era de temperatura amena e chuva....praticamente incompatível com a imagem que Pirassununga tem para os triatletas.

Realmente choveu. E choveu forte.

Lamentações à parte, eu gosto dessa prova. O lugar é demais. Adoro aviação militar. O lago usado para a natação fica na cabeceira da pista e de vez em quando passa um avião prestes a pousar. E é bom demais nadar nele. O asfalto no percurso da bike poderia ser melhor, mas pra quem pedala na USP, tá bom até demais. A corrida....bom, a corrida...É FODA!!!!!

Como o novo Daniel DPDQ é inseguro, dormi mal no pré-prova. Estava nervoso, ansioso. Acordei 4 da manhã e não consegui dormir mais. Comecei arrumar tudo. Gu Espresso Love para o novo café addicted...eu. Às 5:45 estávamos de saída de Porto Ferreira em direção à Pira. No caminho, uma chuva que o limpador de parabrisa não vencia. Que ótimo.

Em Pira o céu estava mais "amigo". Não ventava. Os mosquitos reinavam.

Com calma, tudo no lugar. A T1 fica no canteiro central de uma via que dá acesso à base aérea. Com chuva a noite toda, era puro barro.

Já olhava pra magrela pedindo desculpas por enfiar ela naquele terreno hostil!

Aos poucos o lugar foi enchendo e já estava perto da largada.

Fui na tenda da MPR falar com o Emerson. Engraçado ter um cara que já foi atleta top como treinador. A cabeça dele pensa competitivamente o tempo inteiro. Já aprendi com ele como "tomar seu espaço" na natação em águas abertas (leia-se técnica para se livrar dos caras que insistem em subir em cima de você), em como "ganhar espaço numa chegada disputada" (com o cotovelo......kkkkkkk) e como "dançar conforme a música" se você quiser ganhar.

Ganhar? Hahahahahahahaah. Não. Realmente essas coisas não servem muito pra mim. Mas gostava de vê-lo competindo nos anos 90.

Ele me deu um toque sobre o controle de vácuo. Existem marcações no asfalto a cada 7 m em determinados pontos. Quem passasse dentro dos intervalos das linhas, estava punido. Achei legal. Deixou de ser algo subjetivo e passou a ser uma coisa que se possa controlar melhor.

Achei um lugar pra largar. Escolha não muito boa. Diferente de 2010, demorei muito pra conseguir nadar. Muita pancadaria. Muita gente mais lenta na frente formando paredão. 

Cheguei na primeira bóia com 7 minutos. Esperava uma natação em 30 minutos. Já não ia dar mais.

O resto da primeira volta foi mais tranquilo. Achei que estava fazendo boa navegação. O Garmin desmentiu.....hahahahaha. Foi um zig-zag maluco! Mas marcou 1950m. Até que não nadei muito mais.

Saí com 33'30". 

O Daniel DPDQ não faz mais planos A, B ou C....o que der, deu e tá bom.

T1 tranquila. Tinha um monte de Bike nos cavaletes. Essa sensação é boa.

Saí pra pedalar e chovia. Pé cheio de barro antes de por a sapatilha. Além da estréia da bike, era dia de estréia do capacete aero com pintura personalizada, com as mãos da Vi e da molecada. Que dó de enfiar tudo isso na chuva...

A primeira coisa que a gente faz quando acorda para um treino e vê que está chovendo é voltar pra cama. Como eu queria estar na minha cama.

O vento entrava pelo capacete e fazia um barulho que eu não estava acostumado. Nunca tinha usado capacete aero. Além disso, os pingos da chuva faziam um barulho alto. Ainda bem que não estava de óculos.

Muito barro. Muita água cruzando a pista. Muito buraco escondido. Mas nem tudo é desgraça, Acho que descobri a solução pro fim do vácuo em provas longas: CHUVA!

A galera estava comportadíssima. Não sei se pelo medo de cair ou pra não tomar o jato de água e sujeira que saía da roda de cada um. O fato é que literalmente não vi, não passei e não fui passado por nenhum pelotão.

Esperava média de 33km/h. No final da primeira volta estava com 35. Depois foi caindo. Na terceira estava com 34 e talvez conseguisse manter. Mas aí veio uma vontade enorme fazer o nº1. Tentei a todo custo fazer em movimento. Não conseguia. Até que aproveitei um trecho em descida, reduzi.......e finalmente perdi a virgindade!!!!!!!!!! Onde já se viu comemorar uma mijada em si próprio? Pior....tudo escorria pela perna pra dentro da sapatilha. Mais nojento impossível. Bom...pelo menos não parei, mas o Garmin mostrou que nesses 10 km (boto pra dar lap a cada 10 km), aumentei meu tempo em mais de um minuto em comparação com as demais passagens. Será que não valia a pena parar e fazer numa árvore?????

Eu olhava pros outros atletas e via as roupas parecendo de guerreiros bárbaros em batalha sangrenta...ou melhor...barrenta. Só pensava na bronca que ia tomar da mulher ou a empregada pedindo as contas. Depois olhava pra mim mesmo....e estava sujo. Dor deu mesmo quando resolvi olhar a bike. Desespero! Não me lembrava de ter me inscrito num X-Terra.

Ainda fiz o nº1 mais uma vez, com um pouco mais de "desenvoltura", mas não menos nojento.

A última volta foi um pouco sofrida. Dores nas costas, muita força pra não cair a média que já estava em 33,9 km/h. Quando de repente, estava tentando abrir uma bananinha e atropelei uma lombada. Perdi tudo o que tinha no bento box. A garrafa no torpedo caiu e depois as duas do suporte atrás do selim...em uma delas estavam meus CO2, espátulas, câmaras reserervas. Ia ter que parar para o resgate.

Média despencou pra 33,3 km/h. E a motivação foi junto.

Aproveitei que estava numa parte favorável e iria tentar recuperar. O trecho final era em subida e com vento contra. Consegui chegar em 33,8, mas fechei com média 33,4 km/h, Pouco acima de 2:41'.

Não estava bom, mas não estava ruim, se pensar que esperava 33 km/h.

A T2 estava encharcada. Com mais lama que no início da manhã.

Sentei, botei meia, tênis, engoli o preparado numa caramanhola e saí pra correr, assustado com o fantasma da corrida no TriStar.

Quando comecei a subir, vi que corria sem muito esforço. Frequencia boa. Pace de 4'40". Beleza. Fantasma extinto. Como queria correr entre 5'00"e 5'10"/km, fui controlando. Entrei no ritmo e fiquei nele. O trecho em estrada de terra que tinha lama em 2010 (com sol), só era atravessado com tênis com tração nas 4 rodas.....caraca....era mesmo um X-Terra!

Cruzei o Emerson na tenda da MPR e ouvi que "se tivesse algo guardado", que usasse agora e sofresse um pouco. Sofrer????? De jeito nenhum. A ideia era NÃO sofrer! Estava tudo sob controle.

A segunda volta também foi bem controlada e dentro do ritmo estabelecido. Depois da lama, quando o asfalto volta, a chuva deu uma trégua. Estava até seco e quente. Os últimos 3 Km foram muito difíceis, mas mantive 5'05"/km. Fechei os 21 km (o garmin deu 21Km e 200m) em 1:46'49".

Fechei em 2:06'34". Fiquei feliz. Muito feliz.  Estava exausto, mesmo tendo como principal meta não sofrer. Daí vem o pensamento do início do post: como já fui capaz de fazer um Ironman? Será que vou conseguir de novo?

Fiz um tempo 12 minutos pior que Pirassununga 2010, mas foi 2 minutos melhor que meu primeiro 1/2 Ironman em Penha 2010, o que me abre perspectiva pra seguir o caminho que já percorri uma vez.

Mas pra isso acontecer, preciso mudar minha nova maneira de pensar. Tenho que buscar uma melhora gradual, mas não posso me contentar com menos do que eu sou capaz de fazer. Não posso me subestimar e colocar metas mais fáceis do que eu posso dar. Mais do que isso, o corpo precisa ajudar e sem mentiras pra mim mesmo....não é o está acontecendo.

Fui embora pra SP sem almoçar. Tinha uma festa da turminha da escola da Júlia. Muitos estão de mudança e os pais organizaram uma "despedida", pois muitos deles estão juntos desde o berçário, antes de 1 ano de idade.

Depois, em casa, ainda tive que desfazer a mala, lavar tênis, sapatilha, capacete e tentar salvar o top (ex) branco, antes que a empregada visse toda aquela bagunça. Fui pra cama depois das 23hs. O mais hilário foi perceber que estava todo marcado do sol (que não apareceu)! Sério! Estou TODO marcado, inclusive uma marca ridícula no meio do peito, onde o top estava aberto. Como? Não faço a menor ideia. Corri sem chuva apenas nos últimos 3km.

A bike? Foi pra UTI do Elpídio hoje à tarde. Acho que vai se salvar.

Antes de terminar esse post longo, meus parabéns ao Rodrigo, grande parceiro, pela evolução constante e sólida! Fez uma prova excelente! Nosso primeiro X-Terra!!!!! Hahahahaha. E um MUITO obrigado à sua família: pais, esposa e filhota linda, que foram minha torcida quando eu precisei muito enxergar alguém conhecido no início da segunda volta da corrida!

A próxima? Caiobá.


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