segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Ironman 70.3 Penha - Erros e Acertos (parte 2 - A prova)





A noite claro, não foi bem dormida. Muita ansiedade. Muitas coisas pra repassar mentalmente.Acordei muitas vezes pra olhar que horas eram, torcendo pra chegar logo as 6 da manhã.

Quando o alarme tocou, já estava acordado há pelo menos meia hora. Levantei e fui fazer a mamadeira da Júlia. Tinha combinado com o Rodrigo por volta das 6:30 no café da manhã. Ainda precisava arrumar as comidas.

Ir pra prova não foi fácil. Estava sem carro. Taxi todos ocupados. Ainda bem que tinhamos o carro do Rodrigo (6 adultos e 2 crianças). Não era a melhor opção pois deixar o local da T1 seria tumultuado, mas era nossa única, então, que fosse. Fui no porta malas.

Pintura do corpo, checagem da bike, pneus calibrados, comida despejada no bento-box. Castanhas, yummys, bananinhas, géis. TUDO. Checagem das sacolas, proteção de partes, digamos, importantes, neoprene e praia. O dia amanheceu fechado, mas não frio. Fria estava a água....CACETA...e como estava fria. Aquecimento rápido pra me lembrar como não gosto de nadar de neoprene.

O tempo passou rápido. Logo a organização estava "gentilmente" botando a galera no cercadinho - "Ou vai agora ou não vai NUNCA mais...."....hahahahah

O tiro de largada foi no som da moda: VUVUZELAS...acho que era pra galera sair mesmo correndo pro mar.

Desesperadora a sensação de estar num liquidificador, tomando socos e chutes de todos os lados. Decidi ficar à frente na largada, o que se não foi um erro, com certeza não foi acerto. Fiquei com medo de ficar preso por algum grupo mais lento à minha frente, mas fiquei no meio da tempestade.

Fiz uma boa natação até os 2/3 de etapa. No meio do percurso reconheci os óculos cor de rosa da Julinha, companheira de treino e fui ao lado dela até a boia que nos colocava no caminho de volta à praia. Até esse momento, tudo ótimo. Navegação boa, direto para as bóias, sem perda de tempo.

De repente, tudo virou. Um agarrão, um puxão, um soco na cara. Perdi a Julinha e perdi o rumo de "casa". Cheguei a nadar paralelo à praia em um momento. Não achava a bóia de orientação e não conseguia ficar na esteira.

Na praia, com quase 35 minutos de prova, mais uma vez saí descontente com a minha natação. Vou ter que revisar esse ponto com meu treinador. Quero mais volume, quero mais intensidade. Estou acostumado com isso. Gosto disso. Vou procurar etapas de travessia pra fazer nesse segundo semestre e no início do ano que vem.

Entrei na T1 lotada. Não tinha conseguido tirar a manga do neoprene ainda. Estava tonto e enjoado. Que vergonha pra alguém que ama o mar. Peguei minha sacola, achei um canto pra sentar (no chão). Tirei o neoprene enquanto decidia se forçava um vomitinho básico ou respirava mais um pouco. Respirei. Tentei repassar a estratégia. O que pegar na sacola, o que fazer. Nada vinha. Decidi começar a fazer. Já tinha se passado muito tempo. Peguei o capacete, coloquei. A segunda coisa que vi foi minha garrafinha de isotônico caseiro, com repositor eletrolítico, malto e BCAA. Tomei. Sapatilha, calcei. Faltava mais alguma coisa. A sacola ainda estava CHEIA. Óculos. Colocado. De repente, saquinho com bisnaguinha....sou viciado em bisnaguinha, mas só de olhar naquele momento embrulhou o estômago.

Chega, faltasse o que estivesse faltando, precisava sair de lá.

T1 - Erro. Preciso enxugar o conteúdo da sacola. Capacete (se der pra deixar junto da bike - e nessa prova podia - é lá que vai ficar), sapatilha, óculos e mamadeira especial. Quem sabe o manguito. PUTZ....sabia que saí da T1 sem alguma coisa...o manguito....

No pedal, sabia que seria o momento de botar a cabeça pra funcionar de novo. Li em algum lugar que os primeiros vinte minutos são de adaptação. Melhor não comer nada. E não que fazia sentido!

Aos poucos a estratégia foi voltando à mente. O timer no relógio estava preparado pra tocar a cada 20 minutos. Quando tocasse iria comer as amêndoas e os yummys. Um punhado de cada vez. Alternaria os géis e bananinhas a cada meia hora. Água SEMPRE.

Alimentação: acerto (na maior parte do "programa").

As amêndoas não fizeram mal, não deram piriri. Rica em sódio, em carboidrato e muito calóricas. Não posso abrir mão desse coringa. Confesso...meio secas, mas bota pra baixo com água que tudo bem!

Yummys....comprei os de ursinhos....muito duras....difícil mastigar. Vou substituir.

Bananinhas de Paraibuna: de longe o melhor prato do cardápio! É um clássico a partir de já!

Gel, o mal necessário.

Aerodrink - ô grana bem gasta! tomei MUITA água. Deu vontade de fazer um xixi...mas sobre a bike e em movimento....é ruim hein!

O pedal foi ótimo. Seguindo as dicas da mestra Claudia, mirei uma velocidade média em torno de 33km/h. Assim que atingisse, manutenção. Controle.

O conjunto voava: bike + rodas = SHOW! 36, 37 Km/h. Vento fraco. No vento contra a velocidade era a mesma. Estava fazendo um pouco de força, mas ia arriscar um pouco. Já era hora de começar a curtir a prova. Fui encontrando parte da turma. Passei pela Nilma (não me identifiquei, fiquei com vergonha), pelo Alcy numa subida e ele me lembrou que tinha feito Romeiros (injeção de ânimo direto na veia), passei pela Julinha e falei que ela tinha feito uma ótima natação. Não achei "os" Marcos que claro, deveriam estar muito à frente.

Com o passar do tempo, o vento aumentou e parece que as subidas iam aumentando a inclinação. Hora de entrar no modo economia. Vi que minha média estava em 34.4 Km/h. Iria pedalar em torno disso pra manter. No final meu cateye terminou marcando 34 km/h, com tempo de 2:40' (a cronometragem oficial me deu uma média de 33.7 km/h...tá bom também).

Pedal: acerto. Da estratégia à execução. Melhor do que eu planejei. Tempo todo concentrado, prova limpa, sem vácuo, mesmo que as vezes precisasse quebrar meu ritmo (pra cima ou pra baixo) pra sair de grupinhos que inevitavelmente se formam. Esse era um grande medo: puniçxão injusta, mas vi que isso é perfeitamente controlável. Faça sua prova. Esqueça outros atletas, esqueça fiscais! Divirta-se!

Na T2, desmontei da bike. Pra minha surpresa, as pernas respondiam. Nada doia. O staff tentava tirar a bike de mim...eu não deixava.....hahahahahaa. Não tô acostumado com essas mordomias. Até que fui convencido que ele a guardaria. Eu podia ir pegar minha sacola e ir pra tenda.

Lá, as coisas era mais calmas que na T1. De novo demorei. Me confundi com tudo o que estava lá dentro.

Tomei a mamadeira especial. Meia, tênis, boné (pra trás, sempre), garmin. Saquinho com géis. Preciso de um banheiro. Saí pra correr. Dessa vez foram 4 minutos.


Liguei o GPS, esperando sinal. Nada. Desencanei. De repente, sinal. Liguei o cronômetro.

Não vi a placa de 1 km. Quando o GPS apitou, surpresa: 4'15". Ferrou. Muito fora do ritmo pra uma meia.

O Emerson me viu. Mandou encurtar a passada. Ainda falta quase toda corrida.

Passei por um atleta que se queixou: "Usei tudo na bike, acabou o gás". Tinha um gel na mão e não estava a fim de abrir. Olhei pra ele e falei: Acabou? Então toma aqui! O cara me passou depois de 2 km....hahahahah.

A primeira volta ia passando. Encontrei um ritmo bom aos 5'/km. Lembrei dos treinos. Estava correndo mais que aquilo. Podia mais!

Passei o Castelo "da Branca de Neve", segundo a Jujú e passei pelo Emerson de novo. Hora de crescer. Prova no final.

Ia controlando pelo GPS. 4'50"/ Km, 4'45". Estava treinando pra isso. Podia manter. Era esse o ritmo que ia botar. Não esqueci dos géis nos pontos planejados. Água em todos os postos. Não tomei gatorade nem coca. Estavam em copos. Não ia parar pra tomar e não ia correr o risco de tomar gatorade pelo olho, mesmo não estando com lentes.

Tudo na medida. A corrida foi um grande acerto. Os últimos 2 km foram meio sofridos, mas mantive o ritmo. Fiquei feliz por não ser um iron inteiro. Quando a cabeça queria desistir, o Emerson veio na minha direção, estendeu a mão, batemos. Faltava o final de uma subidinha e depois só decida. Ainda recebi a última lição de casa. Passar três caras que estavam na minha frente.

De repente, uma dose extra de energia vinda de não sei onde. Passei os caras que, sem forças, não reagiram. No acostamento, um grupo de argentinos incentivaram, gritando meu nome (legal esse negócio de vir o nome no número). E pensar que uma vontade irresistível de gritar Alemanha passou pela minha cabeça momentos antes. Senti vergonha. Agradeci. Agradeci também todas as águas que peguei e as que não peguei ao longo de todo percurso

O castelo crescia. Entrei no tapete e sem perceber, estava sorrindo ao ver a chegada!


Procurei a Vivi e a Júlia. A baixinha dormindo, de novo. Não fiquei triste. Faltavam 20 metros de tapete.

Vi o relógio. Marcava 5:08'. Muito melhor do que minha melhor projeção. Fiz uma coisa que nunca fiz. Levantei os braços e comemorei minha chegada, sem pensar no que as pessoas que viam estavam achando daquilo! Ouvi meu nome no microfone! Arrepiei.

Missão cumprida.

De novo faltou o ar. Podia dar uma choradinha....estava de óculos...hahahahah.

Não estava dolorido. A sensação era boa! Corri por mais de 5 horas. Ao meu lado, um monte de gente que compartilha do mesmos gostos, do mesmo estilo de vida. Lembrei de uma camiseta que vendiam na feira: Born to Triathlon, Forced to work.

Ainda precisava sair de lá.


2 comentários:

  1. Parabéns, Daniel, de novo! Porque não dá para ler e ficar sem dizer nada...

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  2. Daniel ! Parabéns pelo blog, vc escreve muito bem!!! ainda não te conheço, mas me parece ser um triatleta hiper organizado!, Fiquei impressionada com seu "check List" para a prova, Eu até imprimi para comparar com a minha, ver se não estava faltando nada...e confesso a vc ,que a sua estava bem mais completa!!!
    Poxa passou por mim no ciclismo, e nem deu um oi ?! podia ter me chamado, nada de ficar com vergonha!!! Sabia que foi assim que conheci a Claudia?!, papeando durante o pedal nas competições?!!!, bom...acho que só as mulheres conseguem esse feito...rsss
    Super Parabéns pela grande prova!
    Ironman 2011 que te aguarde!!!...

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