sábado, 9 de abril de 2011

Ironman Brasil: Semana 14 - A Cápsula do Tempo

Júlia, 

O papai vai pedir desculpa pra quem eventualmente lê o blog, já avisando que o assunto não é triathlon.

Hoje eu vou escrever uma carta pra você pois existem coisas que não dá simplesmente pra evitar e fingir que não existem. Continuar a viver até com certo egoísmo, achando que nossos problemas são suficientes pra nos deixar ocupados, enquanto o mundo gira lá fora.

Quem sabe um dia você leia esse blog e ainda tenho a esperança que o que está sendo dito aqui, seja um retrato de uma realidade distante.

Fico impressionado e maravilhado quando penso que há pouco menos de 3 anos, você veio ao mundo somente com alguns reflexos inatos: respirar, chorar, sugar. Em pouco tempo, já podemos conversar, entre tantas outras coisas que você tem aprendido nesse pouco tempo.

O aprendizado não é só seu. Também eu e a mamãe não temos todas as respostas, todas as verdades, como ainda você acredita que temos. Todo dia aprendemos com você.

Nesta semana de abril de 2011, você descobriu uma realidade da vida: a morte. Vendo um dos seus desenhos que se repetem à exaustão aqui em casa, você pareceu entender o significado do Bambi ter perdido a mãe dele pelas mãos de um caçador. Existia uma certa angústia na pergunta que se seguiu, querendo saber se a mamãe também iria morrer.

Na mesma semana, a angústia se inverteu.

Que pai ou mãe no mundo pode estar preparado para a perda de um filho?

Vivemos em um mundo feio. Existem muitas pessoas passando frio, fome, morando nas ruas. Existem pessoas que têm poder pra tentar mudar isso, mas que na verdade só querem saber o quanto vão se beneficiar de suas ações. Existem pessoas que entram em uma escola e atiram com uma arma para matar crianças.

Como médico posso tentar te explicar que, embora cruel e desumano, pode ser possível que o monstro covarde não soubesse muito o que estava fazendo, mesmo tendo sido um ato planejado, premeditado. Mas e como pai de uma criança? Como reprimir a tristeza imensa de saber que outros pais e mães tiveram essa parte tão importante de cada um deles tirada desta forma tão violenta? Como negar um sentimento vingativo numa situação como essa?

Gostaria muito de poder acreditar em céu e inferno para que pelo menos tivesse um consolo, sabendo que as pessoas envolvidas teriam cada um, o seu destino.

Ou seria melhor que a justiça fosse feita aqui mesmo? Ou talvez melhor ainda, que valesse o código de Hamurabi, de quem você vai ouvir falar nas suas aulas de história.

Não pretendo criar você dentro de uma redoma de vidro, negando a você a chance de conhecer o mundo como ele é, mas certas coisas gostaria que não existissem. Certas coisas me faltam o conhecimento e me faltam palavras pra poder explicar.

Quero muito e farei de tudo pra que você cresça crítica, que tenha opinião, que tenha posição, que saiba o que é o certo e o que é o errado e com tudo isso, poder achar o bonito neste mundo tão feio, onde quer que ele esteja: num nascer ou pôr do sol, ao lado de uma pessoa de quem você goste muito e que te respeite acima de qualquer coisa e que te faça querer ter um filho ou filhos, assim como eu e a mamãe.....e que nunca na vida, nós tenhamos que ver de novo o que vimos nesta semana!


Log da Semana:  323 km em cerca de 15 horas de treinos, sem Pilates e sem massagem.

Faltam 49 dias!

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