sábado, 4 de junho de 2011

Ironman Brasil 2011 - No Liquidificador

Amanhecer em Jurerê no dia 29/05/2011

Exatamente as 7 horas, uma buzina que parecia a de um transatlântico soou forte e demoradamente. Era a "deixa" que cerca de 1800 pessoas precisavam pra sair correndo pro mar, em direção ao lindo sol que subia.



Dei pela última vez um "boa prova" pro Marquinhos e também saí correndo.

Mas não era qualquer corrida. Era a corrida de uma criança em direção ao presente mais esperado.



A água fria entrava pela costura do zíper da roupa, mas não incomodava. A felicidade era imensa e não cabia em mim. 

Queria começar a nadar. Mas como nadar se eu chorava de soluçar nesse momento?

Três ou quatro braçadas nessa situação, achei melhor me concentrar e me fazer perceber que era hora efetivamente nadar. Com água do lado de dentro dos óculos não iria rolar.

A largada de uma prova de águas abertas não é coisa mais civilizada do mundo. Mas tem gente que exagera.

Se percebo que estou subindo em alguém, tento desviar. Se minha perna está batendo em alguém, procuro diminuir a força da pernada ou até parar. Um calcanhar em algum lugar sensível do rosto pode tirar alguém da prova.

Mas não é todo mundo que pensa assim. Tomei chute, tomei soco, seguraram (e puxaram) minhas pernas, subiram em cima de mim.

É inevitável.

Só torcia pra acabar logo e conseguir um espacinho onde pudesse NADAR.

Nem só com socos e pontapés nada um ironman

Quando finalmente consegui, encaixei um ritmo confortável, sem exageros, mas sem muita moleza.

A cada 7 braçadas, levantava a cabeça pra me orientar. No resto do tempo, pegava um "bode expiatório" pra me orientar lateralmente.

Os treinos tiveram LONGAS séries de cabeça alta. Acho que deu muito certo. Poucas vezes em uma prova de triathlon me senti tão confortável ao levantar a cabeça pra me orientar como nesse início de Ironman.  Já tinha sentido isso no TAIÁthlon.

A água mais gelada se restringia a uma faixa mais perto da praia. Depois a temperatura ficava um pouco mais agradável, mas sinceramente, em nenhum momento achei que estivesse realmente frio. Estava ideal.

A primeira bóia era LONGE pacas!!!!

A chegar nela, bati o olho no relógio: 16'. Ok. Queria por o pé na areia no fim da primeira volta com no máximo 40 minutos. Faltava um pequeno trecho paralelo à praia e depois o retorno. Nesta terceira perna, o retorno à praia para o fim da primeira volta, aconteceu uma coisa muito gratificante. Sentia um enorme prazer em estar nadando. Não queria parar, colocar o pé na areia e depois voltar à nadar. Queria continuar. Estava com um ritmo muito bom.

Quando percebi, estava fazendo força e nadando em um ritmo moderado/ forte, como num tiro em piscina. 

Alcancei a faixa de água mais fria e percebi que já estava perto do fim da primeira volta.

Navegação perfeita. Não tive pressa em ficar de pé e quando minha mão raspou na areia, levantei e estava a poucos passos do início do corredor.

De pé, uma leve tonteira devido ao balanço do mar. Alguns passos andando e já me sentia bem pra uma corridinha. 

Tirei o óculos pra desembaçar e tentar encontrar meu time. Erro...quase fatal!

Meu óculos caiu e a correnteza quase leva embora. Desesperei e já imaginei como seria fazer o resto da natação com lentes de contato e sem óculos de natação. Tudo isso em uma fração de segundo.

Um anjo da guarda percebeu meu movimento, botou a mão na água e saiu com meus óculos nas mãos.

MUITO OBRIGADO!!!!!!!!

Saída da Primeira Perna da Natação - No meio da multidão.

Agora a adrenalina me fez correr mais rápido pelo corredor. Bati o olho no relógio: 35 minutos.

A segunda perna é menor. Sim, conseguiria alcançar o objetivo e ficar dentro do plano A (natação entre 1:00'e 1:05').

Voltei pro mar e vi uma onda relativamente grande no "quebra coco". Opa...esse não era o mar que eu entrei há pouco mais de meia hora.

Nesse momento o staff gritou: "O mar virou! Tá levando pra esquerda (de quem está de pé na areia, olhando o mar). Tá levando pras pedras!!!!!.

Ok. Mirei na primeira bóia e fui embora!

Meu pescoço incomodava muito. Ardia. A proteção com gaze e micropore tinha ido pro espaço. Tentei ajeitar a gola da roupa de borracha, a bandida que me causa assaduras sempre que a uso, mas não teve jeito.

Decidi ignorar a dor. Era isso ou perdia o fio da meada da boa prova que estava fazendo até então.

Cheguei à primeira bóia da segunda volta (terceira bóia) bem rápido. Só faltava um pequeno trecho paralelo e depois a volta à praia.

Estava achando uma delícia nadar, mesmo com a assadura no pescoço.

O último trecho da natação foi o mais difícil. O mar balançava demais. Engoli muita água.

Realmente a correnteza estava levando para as pedras à esquerda da praia (à direita de quem nadava em direção ao P12). Tive a certeza disso quando passei dando o ombro esquerdo à uma bóia metálica de orientação.

Dias antes, no congresso técnico, alguém me disse que deveria passar à esquerda dessa bóia, dando meu ombro direito à ela, nunca o esquerdo.

Agora já era tarde.

Vi algumas pedras à frente. O relógio marcava 59 minutos e faltavam uns 100m.

Caraca, iria fazer um belo tempo.

Botei o pé na areia com 1 hora, 1 minuto e alguns segundos. Uma onde ENORME atrás de mim. Gritei para alertar aos que não tinham percebido.

Estava longe do funil de cronometragem por ter saído muito perto das pedras. Andei um pouco, recuperei a orientação espacial e saí correndo.

Vi primeiro o Rafa. Depois a Lê e o MarcelãoJú no colo. Se fosse algum personagem de video game, nessa hora eu recarreguei TODA minha energia e ganhei uma "vida extra".

Entrando no funil de chegada da natação, `a esquerda.
Entrei no funil, tentei tirar a roupa, mas não consegui. Meu relógio é enorme e atrapalha muito nessas horas. Meu pescoço estava DETONADO! Arranquei o que sobrou do micropore, passei pelo Emerson, gritei alguma coisa. Ele gritou de volta, até meio surpreso por ter me visto, eu acho.

Olhei no relógio sobre o tapete de cronometragem: 1:02:47".

NADEI BEM DEMAIS!!!!!!!!! Fiquei (e ainda estou) muito feliz. 

Deitei pra ser "despido". É quase um estupro.... Tadinha da minha roupa. Toda vez que algum staff me ajuda a tirar a roupa, aparece uma pequena rachadura na cobertura de borracha. Claro que agradeci. Se pudesse dava um abraço no cara, de tão feliz que eu estava.

Passei pelo chuveirinho. Muita gente corria devagar. Queria correr rápido. Queria chegar à tenda.....mas ela caprichosamente NUNCA chegava.

Alguém me disse que a T1 tem cerca de 800m. Cara, é muito longe.

Cheguei, finalmente.

O staff me indicava onde pegar a sacola, mas eu insistia com ele que não era lá que tinha deixado.

De repente percebi que estava tentando pegar minha sacola de corrida....hahahaha. Apressado. Precisava primeiro pedalar.

Peguei, sentei na primeira cadeira livre. Tirei tudo de dentro da sacola. Fui vestindo capacete, óculos, manguito no bolso (já tinha perdido muito tempo até então, não iria perder mais pondo o manguito nos braços), comida extra no bolso do top. Meias eu não quero.

O material de natação na sacola apropriada. Fecha tudo. Dei na mão do primeiro staff na minha frente, agradeci e saí correndo pra pegar a bike.

Já tinha marcado meu corredor. Outro staff saiu em disparada, pegou a bike e me entregou.

Ela estava pesada por causa de tantas garrafas.

Saí da transição, com 5 minutos e 57 segundos. ALTO DEMAIS, mas era realmente longa. Parei sobre a faixa onde estavam pintados 0km de um lado e 180 km do outro.

Era hora de uma voltinha LONGA na minha querida bike.



Até então, missão cumprida. Tudo dentro do planejado e o que é melhor, do plano A.






2 comentários:

  1. Só o Rafa nada.... Estávamos todos la te esperando na saída, menos o seu irmão que já estava te esperando na transição!! Nós não estávamos na primeira vez que vc saiu do mar! Eu até te filmei!!!!!

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