terça-feira, 1 de maio de 2012

Epidemia

Epidemia é a incidencia de grande número de casos de uma mesma doença em um curto espaço de tempo.

Que diabos anda acontecendo no meio esportivo ultimamente?

Fabrice Muamba

Vigor Bovolenta

Leandro Vissoto

Wendel Júnior Venâncio da Silva (14 anos)

Renato Abreu

Alexander Dale Oen

O que essas pessoas têm em comum?

Todas são atletas (ok, algumas são jogadores de futebol...) e tiveram problemas cardíacos recentes. Algumas morreram. Outros milagrosamente estão vivos, como Muamba.

A mais recente foi o Dale Oen, nadador norueguês, medalhista olímpico em Pequim e candidato à medalha em Londres, nos 100m peito.

No caso do Renato Abreu, jogador de futebol do Flamengo foi uma arritmia diagnosticada em exames de rotina. Sorte dele. A do Vissoto manifestou-se pouco depois da morte de outro jogador de volei, o italiano Bovolenta e foi possivelmente causada por refluxo gastroesofágico. Estranho mas possível. A inflamação crônica no esôfago causada pelo refluxo de conteúdo gástrico, pode irritar o coração, que fica ali "pertinho" e criar um foco de arritmia. Tenho um colega de profissão que passou por essa situação recentemente.

Mas e os outros casos?

Negligência das equipes e/ou atletas? 

Excessos em busca de um objetivo, "custe o que custar"?  

Dificilmente um atleta (ou jogador de futebol), vai ter um infarto agudo do miocardio sendo jovem, tendo atividade física regular e etc. A maioria das vezes as causas destas mortes são outras. Dentre estas, a principal causa são as arritmias, que podem ser desencadeadas por diversos fatores: mal formações congênitas ou causas adquiridas, como no caso do Vissoto.

Não me ocorre outra agora, mas acho que a pior consequência do overtraining é a miocardiopatia hipertrófica.  

Uma vez ou outra, chegar ao final do treino ou prova com o coração na boca, com 210 bpm, ok....

Uma vez ou outra. 

Fazer disso uma regra, extrapolar limites físicos, pode levar a consequências desastrosas, fatais. O coração é músculo. Fazer esse coração entrar repetidas vezes em um trabalho acima do que aguenta vai levar a hipertrofia, assim como qualquer músculo. Essa hipertrofia vai levar a uma condução errada do impulso nervoso que faz o coração "bater redondo"...a arritmia. 

Essa arritmia MATA.  Simples Assim...de uma hora pra outra. Pode ser da primeira vez que se manifestar.

O que anda acontecendo com o coração dessas pessoas?

Isso tem me preocupado. Onde nós (médicos, atletas e clubes) estamos errando?


Quer continuar a treinar? Fazer provas?

Seja esperto. Não subestime a medicina. Não subestime certos limites (principalmente o limite entre o saudável e o estúpido). Use a tecnologia a seu favor.

E nunca...nunca ache que isto não vai acontecer com você. 

Apesar das metáforas orgulhosas, ninguém é de ferro.

Ninguém é super-herói.


4 comentários:

  1. Daniel, texto interessante. observarmos que o número de óbitos aumentou no esporte de alto rendimento, ainda mais em esportes em que são realizados testes de rotina. Posso estar errado mas nunca presenciei ou fiquei sabendo de um óbito em qualquer academia, local de treino ou prova que tenha participado. Será que isto só vem ocorrendo com profissionais? Será que estamos próximos ao limite do corpo humano? Pelo menos nos locais que treinei até hoje não sæo todos que exigem uma avaliação medica, menos ainda aqueles que exigem uma avaliação cardiológica. Será que todos nos amadores estamos levando a serio a prevenção que deveríamos?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Rodrigo, legal você ter trazido o assunto para o "mundo real".

      Pois cada vez mais eu ouço sobre relatos dessas fatalidades entre amadores como nós.

      Em 2010 na maratona de SP cruzei com um corredor (aparentemente meia idade) que estava sendo reanimado pela equipe médica. Este sim um provável infarto. Pelo que soube, sobreviveu.

      Em Pucón no início de 2012, um atleta da categoria M30-34 também morreu. Ontem li o relato de um homem que perdeu a namorada na maratona de Londres.

      Com certeza são casos isolados e talvez estatisticamente pouco significativos, como muitos que leram podem pensar. O grande lance porém, é que muitas vezes, estes poucos casos "insignificantes" estatisticamente poderiam ser evitados.

      Pergunte ao pai, ao marido, ao namorado, ao filho desses números nas estatísticas se eles veem desta forma. Não, com certeza não.

      Então, a única saída é a prevenção. É saber até onde podemos ir. Pouca gente se preocupa com isso, realmente. O que importa, na maioria da vezes, é treinar, treinar, treinar. Como diz o Macca, o negócio não é treinar MAIS...e sim treinar mais inteligentemente. É o segredo da longevidade!

      Quanto ao limite do corpo, acho que ainda existe muito a ser explorado. Muito mesmo.

      Excluir
  2. Isso me faz lembrar uma frase sobre a qual venho pensando cada vez mais:

    "Atividade física é saudável; esporte competitivo náo é saudável".

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eu ouço isso há pelo menos 20 anos. Quando fiz um post que não era sobre esse assunto, mas colocava em cheque esse lance de treinarmos como profissionais (no que se refere ao tempo dedicado, ao esforço empregado, entre tantas coisas), sem a retaguarda de nutricionistas, fisiologistas, fisioterapeutas, do tempo necessário para o descanso (normalmente neste tempo estamos no trabalho ou convivendo com a família), fui escrachado por muitos.

      Portanto, quem está dizendo é você...hahahahahaha. E guenta o tranco...

      Excluir